O projeto de construção de um data center no município de Eldorado do Sul, que na sua primeira fase já irá absorver um investimento direto de R$ 3 bilhões, tem como ambição ser o passo inicial para a consolidação de uma verdadeira “cidade dos data centers” no Estado com a concentração dessa atividade em uma espécie de distrito industrial. Nesta quarta-feira (11), a Scala Data Centers e o governo gaúcho assinaram um protocolo de intenções para seguir com a iniciativa.
O CEO da companhia, Marcos Peigo, detalha que nessa etapa o investimento será concentrado na aquisição de terreno, instalação de subestação de energia, estruturas de apoio, blocos de data centers, entre outras ações. Segundo ele, quando se soma toda a cadeia que irá trabalhar para a própria Scala para viabilizar a materialização dessa fase inicial, os desembolsos estimados chegam a R$ 7 bilhões. Nessa fase, é esperada a geração de aproximadamente 3 mil empregos, diretos e indiretos.
Conforme Peigo, a partir do licenciamento ambiental e da autorização da conexão na rede elétrica, o que ele estima possa ser resolvido em seis a nove meses, começarão as obras de construção e serão necessários mais 12 a 18 meses para a primeira etapa do projeto ser concluída. Sendo assim, ele calcula que em cerca de dois anos, a contar de hoje, será possível utilizar os serviços do novo data center. O dirigente explica que os clientes que serão atendidos são provedores de nuvem, de conteúdo, mídias sociais, entre outros.
A natureza desse mercado é resumida em uma frase por Peigo “se está funcionando on-line, está hospedado em algum data center”. A unidade de medida do porte dessas estruturas são as suas demandas de energia, no caso estipuladas em Megawatts (MW). Um data center de 10 MW de capacidade, por exemplo, equivaleria a mais de 6 mil secadores de cabelo de 1,5 mil watts funcionando ao mesmo tempo. A primeira fase do projeto em Eldorado do Sul prevê o funcionamento de uma unidade de 54 MW compromissados para atuar nos segmentos de nuvem e Inteligência Artificial.
Futuramente, em um espaço de 10 a 20 anos, existe a expectativa que esse complexo de data centers possa atingir o tamanho de 4,75 mil MW (suficiente para atender à toda atual demanda média de energia do Rio Grande do Sul), o que implicaria um investimento impressionante de cerca de R$ 500 bilhões. Para ter a dimensão dessa capacidade, o mercado inteiro do Brasil é estimado no momento em cerca de 700 MW.
Peigo assinala que é um sonho, entretanto baseado em perspectivas sólidas do crescimento das demandas de soluções tecnológicas nos próximos anos. Essa ampliação seria voltada fundamentalmente para o mercado de Inteligência Artificial. A expansão, diz Peigo, pode ser atingida quando o complexo ultrapassar os limites de atendimento das demandas locais e atender a necessidades regionais quanto à Inteligência Artificial na América Latina.
“E depois a gente acrescenta a grande oportunidade que sejamos exportadores de infraestrutura de data centers para suportar especialmente o mercado norte-americano”, antecipa o executivo. No entanto, esses temas futuros, ressalta o dirigente, passam por questões de legislação e regulação do setor de Inteligência Artificial e proteção de dados no Brasil.
Energia utilizada será de fontes renováveis
Para a etapa inicial, já há energia disponível no Rio Grande do Sul para alimentar o projeto da empresa. Além disso, apesar do interesse do governo do Estado que usinas locais atendam à demanda do empreendimento, como o sistema elétrico nacional é interligado, nada impede que essa energia seja proveniente de complexos localizados em outras regiões do País. O CEO da Scala Data Centers, Marcos Peigo, frisa que a energia que será usada pelo estrutura gaúcha, assim como nas outras unidades da empresa, será proveniente de fontes renováveis.
A Scala já possui atuação no Rio Grande do Sul, com um data center em Porto Alegre, com porte de 4,8 MW, resultado de um investimento de R$ 240 milhões. Essa unidade ficou 68 dias inativa devido às recentes enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul. Peigo admite que o evento colocou em xeque o futuro empreendimento da empresa no Estado, porém ele salienta que a área escolhida para ser erguida a estrutura em Eldorado do Sul (nas proximidades do entroncamento da BR-290 com a RS-401) não chegou a ser alagada com a catástrofe climática.
O executivo recorda que a escolha pelo Rio Grande do Sul, assim como a disponibilidade de energia e a posição geográfica estratégica no Cone Sul, passa por uma ligação telefônica do governador Eduardo Leite em março deste ano para promover o Estado. “O investimento por si só já é muito relevante, esse que já está anunciado de R$ 3 bilhões, a sinalização de um projeto ainda maior torna isso, naturalmente, mais robusto”, enfatiza Leite. Essa condição, complementa o governador, se insere na estratégia do Estado de se posicionar como uma referência em inovação e tecnologia.
Já o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, comenta que o acordo assinado nesta quarta-feira pode representar o início da criação de um novo eixo econômico no Estado, avançando no tema da tecnologia da Inteligência Artificial. “A decisão é maior que a questão financeira, tem o simbolismo de recuperar a confiança e a autoestima do povo gaúcho”, considera o secretário. Quanto a incentivos fiscais, Polo afirma que a iniciativa contará com benefícios usuais como diferimento tributário na compra de equipamentos sem similares no Rio Grande do Sul.