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Publicada em 26 de Agosto de 2024 às 17:15

Velocidade é o grande desafio para a reconstrução do Estado

André Gerdau Johannpeter, vice-presidente do Conselho de Administração da Gerdau

André Gerdau Johannpeter, vice-presidente do Conselho de Administração da Gerdau

Julio Soares/CIC Caxias/Divulgação
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Roberto Hunoff
Roberto Hunoff Jornalista
de Caxias do Sul
de Caxias do Sul
Comemorativa aos 50 anos do Sindicato das Indústrias da Construção Civil de Caxias do Sul, a RA (reunião-almoço) da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias) desta segunda-feira (26) girou em torno do tema da reconstrução do Rio Grande do Sul pós-enchentes e do papel do empreendedorismo nesse processo. "O grande desafio é a velocidade para recuperar e reconstruir o estado mais rápido e de forma sustentável para o futuro. Os empresários estão ajudando, mas o montante de dinheiro que precisa é muito grande. Fala-se em R$ 80 bilhões a 100 bilhões para os próximos quatro a cinco anos. Precisa ter maior participação do poder público para a reconstrução a longo prazo", declarou o vice-presidente do Conselho de Administração da Gerdau, André Bier Gerdau Johannpeter, palestrante do evento.

Johannpeter reiterou que, apesar das diversas iniciativas em andamento – incluindo aportes financeiros dos governos federal, estadual e municipais –, o maior desafio reside na velocidade com que o estado conseguirá se reerguer de forma sustentável para o futuro depois de ter sido duramente afetado pelas chuvas. "Já fui bem mais pessimista", admitiu, mas hoje acredita que com união, uma boa governança e visão de futuro o Estado será capaz de se levantar ainda mais forte.

Um dos principais focos da palestra foi a iniciativa da Gerdau, junto com o Instituto Helga Gerdau e a Vale, que estruturou o Fundo Filantrópico Regenera RS para angariar recursos do setor privado e atuar na reconstrução do Estado, em alinhamento com órgãos públicos. A gestão do fundo está sob responsabilidade da Din4mo Lab, entidade especializada em investimentos de impacto em temas sociais e ambientais. O Regenera RS possui uma governança específica, com conselhos e time técnico, para avaliar projetos de apoio à reconstrução em quatro áreas consideradas prioritárias: educação, habitação, negócios e cidades resilientes. Até o momento, já captou cerca de R$ 38 milhões.

O executivo contou que a Gerdau teve 242 dos 3.900 colaboradores sediados no Rio Grande do Sul atingidos pelas enchentes. De acordo com ele, a companhia assumiu o compromisso de reformar as residências danificadas pelas chuvas, por meio do programa Reforma Que Transforma, além de doar itens de linha branca e mobiliário para os colaboradores que necessitaram. Outra grande preocupação, segundo Johannpeter, foi com a saúde mental dos colaboradores, o que levou a Gerdau a oferecer suporte psicológico e emocional às famílias atingidas.

"Momento é bastante difícil para o setor"

Após a palestra, o executivo atendeu a imprensa, quando comentou sobre a preocupação do setor com as importações do aço do continente asiático, mesmo com medida de defesa comercial adotada pelo governo, e alertou para uma ameaça ao setor com a reforma tributária.

Como está a situação atual do mercado nacional do aço?

Gerdau – No Brasil estamos sofrendo muito com as importações da China e do mercado asiático em geral. Sobra produção na China, que está em ritmo menor de crescimento, o que leva à exportação de aço e de outros produtos também. Neste momento está bem difícil para o setor do aço, mas se espera recuperação para o ano.

O setor siderúrgico se mobilizou contra esta situação e demandou medidas do governo federal. Houve algum atendimento?

Gerdau – A gente conseguiu apoio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Externo com a criação da cota-tarifa, calculada a partir da média de importação dos últimos três anos mais 30% de volume. Sobre isto é aplicado imposto de 25%. Isto entrou em vigor em junho e ainda se avalia a eficácia ou não do mecanismo. Mas foi importante o governo reconhecer a necessidade de uma defesa comercial.

As enchentes irão ter impacto forte no resultado da Gerdau neste ano?

Gerdau - Não dá para calcular exatamente o impacto, porque assim como sofremos no segundo trimestre aqui no estado, que foi devagar, devemos ter uma reação neste terceiro período do ano em função do que foi represado e da retomada na construção civil. No estado já está se vendo uma recuperação, mas só teremos algo mais claro e concreto se as ações estiverem sendo eficazes no prazo de seis meses. O peso do estado não é muito grande na receita da companhia. A maior representatividade vem dos Estados Unidos.

Na sua palestra, fez referência a um adicional no custo da cadeia do aço com a Reforma Tributária...

Gerdau – Isto é um tema que, como empresários e como Rio Grande do Sul, precisamos levar ao debate, porque com a Reforma Tributária vai acabar com a equalização do frete. Grandes usinas nasceram no Centro do país e fornecem para o estado, onde o frete é maior. Por isso há uma equalização de frete com outras regiões. Com a reforma, vai deixar de existir e afetará o setor. Ouvi de clientes que haverá um aumento de 7% a 8% no custo. É uma ameaça, pois ou vai se transferir processamento para outras regiões mais competitivas ou se acha outra solução que compense esta perda.

Na palestra indagou sobre onde o Rio Grande do Sul estará daqui quatro anos. O que esperas da empresa neste período?

Gerdau – Espero estar melhor, trabalhando com segurança, investindo para continuar crescendo, atualizando as fábricas e atendendo os clientes. Continuamos firmes no propósito de seguir investindo não só no Brasil, mas também no exterior.

Quais são estes planos?

Gerdau - Temos um investimento grande em Minas Gerais, na área de mineração, na casa dos US$ 600 milhões. Estamos concluindo uma ampliação do laminador de bobina a quente, que vai agregar mais volume. Uma das regiões que vamos beneficiar é a Serra.

Como está o olhar da Gerdau para a Serra Gaúcha?

Gerdau - Recentemente fizemos um investimento de R$ 200 milhões em Sapucaia do Sul, com expansão na aciaria. A Serra é o segundo maior polo consumidor de aço no Brasil na área metalmecânica, portanto, muito importante para a Gerdau, seja para produtos longos ou curtos. Temos um olhar de atendimento, serviços e de estar presente na região.

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