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Publicada em 21 de Agosto de 2024 às 15:11

Aod Cunha defende agenda única para a reconstrução do RS

Aod Cunha disse que entidades privadas e sociedade precisam ter prioridades definidas e perenes

Aod Cunha disse que entidades privadas e sociedade precisam ter prioridades definidas e perenes

THAYNÁ WEISSBACH/JC
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Bárbara Lima
Bárbara Lima Repórter
O economista e ex-secretário da Fazenda do RS, Aod Cunha de Moraes, defendeu nesta quarta-feira (21), que as entidades empresariais gaúchas tenham uma agenda única e comum de prioridades a longo prazo para a reconstrução do Estado. Ele pontuou, porém, que os desafios enfrentados hoje são também estruturais e anteriores às enchentes de maio."Os governos vêm e vão, mas as entidades têm perenidade e capacidade de análise. Precisamos construir uma agenda comum, com poucos itens, mas relevantes, com as entidades privadas e com a coordenação do setor público e outros setores da sociedade. Precisamos de um senso de prioridade, com mecanismos de acompanhamento e fiscalização", considerou Aod, que foi o palestrante da reunião-almoço Tá na Mesa, na Federasul. Aod elencou as principais dificuldades crônicas do Rio Grande do Sul, como desempenho na educação, dívida pública e déficit previdenciário e a falta de uma política de desenvolvimento mais moderna. "A educação não gera resultado imediato, mas é o que aumenta a produtividade da força de trabalho", destacou. As consequências e a falta de soluções para lidar com as secas históricas do Estado também foram apontadas pelo especialista. Segundo dados apresentados no painel do Tá na Mesa, a irrigação correta poderia duplicar a produtividade do milho, por exemplo. Ele destacou, ainda, que o Estado precisa construir um ambiente seguro e atraente que consiga captar talentos, um dos principais gargalos da atualidade, uma vez que, embora os gaúchos não emigrem, conforme apontou, o Estado tem baixa imigração, o que pode ser um problema demográfico e econômico à medida que a população gaúcha envelhece e a população ativa diminui. “Estamos passando por uma transição demográfica muito rápida, a força de trabalho vai diminuir e precisa ser mais produtiva, algo que só é possível com educação”, ponderou o economista. Comparando com os outros estados do Sul, o economista mostrou que a população do Rio Grande do Sul cresceu apenas 1,8% em 12 anos, de 2010 a 2022. A média brasileira foi 6,8%. O Paraná cresceu 9,6% e Santa Catarina surpreendeu com crescimento de 21,8% no mesmo período. "Se não fizermos nada, estaremos próximos do saldo negativo entre nascimentos e óbitos. E aí, sem imigração para cá, teremos problemas na capacidade produtiva."Ele também apresentou dados do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, Região Sul e Rio Grande do Sul.  Enquanto o PIB relativo de Santa Catarina cresceu 59,35% de 2010 a 2023, o Estado cresceu 24,21%. Não fossem os efeitos da seca, o crescimento poderia ser de 39,66%. Nessa linha de melhorias, o especialista afirmou que o RS precisa investir em logística e infraestrutura e traçou comparativos com outros países e Estados que possuem a população próxima a do Rio Grande do Sul. "Santa Catarina tem quatro aeroportos próximos. Países como a Bolívia e Portugal também", disse.Na abertura do painel, o presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, voltou a criticar as exigências do governo federal para a liberação de recursos de crédito. “Estão exigindo, justamente, as garantias que a enchente levou dos empreendedores, das empresas e pequenos produtores”, afirmou. Ele também pregou a união para superar os desafios impostos pelo desastre climático. 
O economista e ex-secretário da Fazenda do RS, Aod Cunha de Moraes, defendeu nesta quarta-feira (21), que as entidades empresariais gaúchas tenham uma agenda única e comum de prioridades a longo prazo para a reconstrução do Estado. Ele pontuou, porém, que os desafios enfrentados hoje são também estruturais e anteriores às enchentes de maio.

"Os governos vêm e vão, mas as entidades têm perenidade e capacidade de análise. Precisamos construir uma agenda comum, com poucos itens, mas relevantes, com as entidades privadas e com a coordenação do setor público e outros setores da sociedade. Precisamos de um senso de prioridade, com mecanismos de acompanhamento e fiscalização", considerou Aod, que foi o palestrante da reunião-almoço Tá na Mesa, na Federasul.

Aod elencou as principais dificuldades crônicas do Rio Grande do Sul, como desempenho na educação, dívida pública e déficit previdenciário e a falta de uma política de desenvolvimento mais moderna. "A educação não gera resultado imediato, mas é o que aumenta a produtividade da força de trabalho", destacou. As consequências e a falta de soluções para lidar com as secas históricas do Estado também foram apontadas pelo especialista. Segundo dados apresentados no painel do Tá na Mesa, a irrigação correta poderia duplicar a produtividade do milho, por exemplo. 

Ele destacou, ainda, que o Estado precisa construir um ambiente seguro e atraente que consiga captar talentos, um dos principais gargalos da atualidade, uma vez que, embora os gaúchos não emigrem, conforme apontou, o Estado tem baixa imigração, o que pode ser um problema demográfico e econômico à medida que a população gaúcha envelhece e a população ativa diminui. “Estamos passando por uma transição demográfica muito rápida, a força de trabalho vai diminuir e precisa ser mais produtiva, algo que só é possível com educação”, ponderou o economista.

Comparando com os outros estados do Sul, o economista mostrou que a população do Rio Grande do Sul cresceu apenas 1,8% em 12 anos, de 2010 a 2022. A média brasileira foi 6,8%. O Paraná cresceu 9,6% e Santa Catarina surpreendeu com crescimento de 21,8% no mesmo período. "Se não fizermos nada, estaremos próximos do saldo negativo entre nascimentos e óbitos. E aí, sem imigração para cá, teremos problemas na capacidade produtiva."

Ele também apresentou dados do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, Região Sul e Rio Grande do Sul.  Enquanto o PIB relativo de Santa Catarina cresceu 59,35% de 2010 a 2023, o Estado cresceu 24,21%. Não fossem os efeitos da seca, o crescimento poderia ser de 39,66%. Nessa linha de melhorias, o especialista afirmou que o RS precisa investir em logística e infraestrutura e traçou comparativos com outros países e Estados que possuem a população próxima a do Rio Grande do Sul. "Santa Catarina tem quatro aeroportos próximos. Países como a Bolívia e Portugal também", disse.

Na abertura do painel, o presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, voltou a criticar as exigências do governo federal para a liberação de recursos de crédito. “Estão exigindo, justamente, as garantias que a enchente levou dos empreendedores, das empresas e pequenos produtores”, afirmou. Ele também pregou a união para superar os desafios impostos pelo desastre climático. 

"Precisamos de vocações mais modernas para o Estado", diz economista

Durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira (21), na Federasul, o economista Aod Cunha respondeu aos questionamentos da reportagem. Entre os tópicos abordados estão a dívida do RS com a União, a resiliência econômica para situações de tragédia ambiental e os potencias do Rio Grande do Sul.
Na visão de Aod, o Estado precisa de "vocações mais modernas", com investimento em educação, transição energética, tecnologia e saúde. Isso é importante, inclusive, para atrair e reter talentos no Estado, o que preocupa o especialista, uma vez que a pirâmide demográfica está se invertendo rapidamente e a população ativa tem caído consideravelmente. Leia a entrevista abaixo.
 Jornal do Comércio - No início das enchentes, o senhor defendeu a suspensão da dívida do RS com a União, o que foi concedido por três anos. Como avalia este novo momento da retomada econômica do Estado? 
Aod Cunha - Estamos evoluindo. Conseguimos dar conta dos temas mais emergenciais. Agora, quando falamos da reconstrução total, é algo que vai demorar mais tempo. O tema da dívida dá uma folga para o Estado, não é um perdão simplesmente. O Estado fez várias contrapartidas, como reforma da previdência e administrativa. Além disso, tivemos um evento extremo.  Deveríamos aproveitar esse momento traumático, porém, para fazer uma reconstrução mais qualificada, que sirva de exemplo e que resolva problemas históricos que já enfrentávamos. 
JC - O senhor sugere uma agenda única entre as entidades privadas. Qual consenso defende?
Aod - O mais importante é ter esse esforço. Os gargalos relevantes, na minha visão, são temas relacionados à seca, à educação, à baixa imigração e demografia. Precisamos também aumentar a capacidade de infraestrutura no Estado, isso aumenta a competitividade. Pode ser que tenha outros tópicos, mas precisamos de uma agenda única, porque desperdiçamos muita energia não tendo uma agenda comum. 
 JC - Quais oportunidades econômicas o RS possui?
Aod - Temos um centro de excelência de formação de recursos humanos, principalmente nas engenharias e na área de saúde. O problema é que não conseguimos reter essas pessoas e atrair outras. Além disso, avalio que precisamos de vocações mais modernas para o Estado, como saúde, transição energética e tecnologia. 
 JC - O Senado aprovou a renegociação dos indexadores das dívidas dos Estados com a União. Como economista, como o senhor avalia essa medida, caso ela seja aprovada pela Câmara?
Aod - É bom para o Rio Grande do Sul, isso vai aliviar o crescimento da dívida. É uma pressão menor sobre o orçamento do Estado, então,  sobram recursos para investimentos importantes, como saúde, educação, segurança e estradas. Por outro lado, vai exigir uma parcela de ajuste fiscal adicional por parte do governo federal.
JC - De onde deve vir o investimento para as melhorias nessas áreas fundamentais?
Aod - Não tem que ser só investimento de recurso público. As reformas e privatizações têm melhorado o fluxo de investimento. Precisamos continuar avançando no modelo de concessão, porque o Estado precisa de um plano de longo prazo. Os governos trocam, mas as entidades privadas continuam. 
JC - Catástrofes como a de maio serão mais frequentes, conforme afirmam amplamente os cientistas. Como ter uma economia mais resiliente?
Aod - A reconstrução precisa levar em conta que estamos vivendo em um mundo com eventos extremos. As estradas, os aeroportos e portos, as casas, precisam de um novo conceito e de mais resiliência climática. Por outro lado, o desenvolvimento econômico passa por atividades mais sustentáveis. A ideia que sustentabilidade e crescimento são conflitantes ficou no passado. Os temas da transição energética e da sustentabilidade são o futuro. Dentro da tragédia, inclusive, o RS pode ser um exemplo, pode ser o primeiro Estado a estar mais preparado. Um Estado onde as empresas tenham essa agenda e outras empresas queiram vir para cá pela capacidade de adaptação.

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