As recentes chuvas no Rio Grande do Sul ocasionaram a movimentação de galhos, sedimentos e outros materiais que acabaram assoreando as vias fluviais gaúchas, dificultando a navegação interior no Estado. Um passo para resolver o problema deverá ser dado a partir da próxima semana, quando o Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit) assinará o contrato de batimetria (medição) do sistema hidroviário gaúcho, conforme informa o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger.
A ideia, segundo o representante da empresa pública que faz a gestão de portos e da hidrovia no Rio Grande do Sul, é começar o serviço de batimetria o mais rapidamente possível em locais pontuais, considerados urgentes. “Com o resultado do trabalho, vamos buscar os recursos para fazer a dragagem”, assinala o dirigente.
Para toda a dragagem, Klinger adianta que será necessário o aporte de cerca de R$ 800 milhões. A maior parte desses recursos será proveniente do governo federal, através do Dnit. O presidente da Portos RS calcula que, toda a dragagem, deverá levar mais de um ano para ser concluída.
No entanto, ele reitera que a batimetria possibilitará que seja feito um diagnóstico para pensar no plano de dragagem de uma forma dividida por lotes, para ir ganhando tempo. Um dos pontos mais críticos e que será uma prioridade é o canal do Furadinho, localizado próximo ao Polo Petroquímico de Triunfo e essencial para viabilizar o acesso fluvial a esse complexo.
O diretor-presidente da Associação Hidrovias do Rio Grande do Sul (Hidrovias RS), Wilen Manteli, ressalta que em torno de 350 quilômetros, o que equivale a cerca da metade da malha navegável da hidrovia interior do Estado, terá que ser submetida à dragagem. Ele destaca que as hidrovias gaúchas são responsáveis pela movimentação de aproximadamente 9 milhões de toneladas de cargas anualmente, o que corresponde a aproximadamente 20% do total do transporte fluvial no Brasil. “Os canais dos rios gaúchos são verdadeiras artérias de desenvolvimento”, compara Manteli.
Zoneamento para mineração no Guaíba será concluído neste ano
O assoreamento do Guaíba após as enchentes reavivou a discussão se a extração de areia no seu leito poderia contribuir, indiretamente, com a dragagem constante do local e evitar futuros problemas por causa do acúmulo de resíduos. Hoje, há uma ação civil pública que impede a liberação dessa prática antes da realização de um zoneamento da área, que compete à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). O secretário adjunto da Sema, Marcelo Camardelli, informa que esse trabalho deverá ser finalizado ainda em 2025.
O dirigente também ressalta que recentemente o governo gaúcho lançou seu programa de desassoreamento, que contará com R$ 300 milhões em recursos do Tesouro do Estado para a realização de ações nesse campo. “Queiramos ou não temos uma mudança climática. Precisamos nos adaptar”, alerta Camardelli. Ele comenta que no espaço de um ano apenas o Rio Grande do Sul registrou dez eventos climáticos extremos, basicamente ligados ao excesso de chuvas.
Camardelli foi um dos participantes nessa sexta-feira (9) do Sergs Debates, promovido pela Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs) em conjunto com a Rede de Mulheres na Engenharia. Na ocasião, a coordenadora do comitê Rede de Mulheres na Engenharia e presidente do Sindicato das Indústrias de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Daniela Cardeal, frisou que encontros como esse são essenciais para analisar os problemas que Estado enfrenta, pós-enchentes, de uma maneira multissetorial.