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Publicada em 07 de Agosto de 2024 às 20:20

Fundo criado pela Família Ling ajudará na reconstrução de 10 pontes no RS

Empresário William Ling diz que iniciativa em Nova Roma do Sul inspirou o projeto

Empresário William Ling diz que iniciativa em Nova Roma do Sul inspirou o projeto

INSTITUTO LING/DIVULGAÇÃO/JC
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Osni Machado
Osni Machado Colunista
A Família Ling doou R$ 50 milhões para a reconstrução do Rio Grande do Sul, após as enchentes de maio. O recurso será gerido pelo Programa Reconstrói RS, que já ganhou a adesão de outras instituições, como Federasul e o Instituto Cultural Floresta, e doações de outros empresários. O foco é a reconstrução de infraestrutura no Estado. Depois de ter aprovado recursos para a ponte entre Nova Roma do Sul e Dois Lajeados, mais 10 pontes no Vale do Taquari serão refeitas com o apoio da iniciativa.
A Família Ling doou R$ 50 milhões para a reconstrução do Rio Grande do Sul, após as enchentes de maio. O recurso será gerido pelo Programa Reconstrói RS, que já ganhou a adesão de outras instituições, como Federasul e o Instituto Cultural Floresta, e doações de outros empresários. O foco é a reconstrução de infraestrutura no Estado. Depois de ter aprovado recursos para a ponte entre Nova Roma do Sul e Dois Lajeados, mais 10 pontes no Vale do Taquari serão refeitas com o apoio da iniciativa.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o empresário William Ling lembra que o projeto teve inspiração na comunidade do município de Nova Roma do Sul, que reconstruiu uma ponte local com financiamento comunitário, após a estrutura original ter sido destruída. Ele detalha o funcionamento do projeto, que repassa parte dos recursos necessários para as obras. "Nos comprometemos em bancar 50% do custo de 10 pontes no Vale do Taquari. Estão orçadas em torno de R$ 700 mil cada uma", detalha o empresário.

Jornal do Comércio – Como surgiu a ideia do Programa Reconstrói RS?
William Ling – A ideia surgiu no momento em que a tragédia no Rio Grande do Sul tomou grandes dimensões. Então, fiquei me questionando sobre o meu papel e o da minha família neste processo todo. Nós vimos o esforço de solidariedade das pessoas, inclusive daquelas vindas de outros estados da federação para o socorro emergencial dos atingidos pelas cheias. Eu fiquei imaginando como poderíamos agregar valor a todo esse processo de recuperação do Rio Grande do Sul. Ficou claro, nós poderíamos ajudar na parte de infraestrutura. Os agentes públicos, como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o próprio Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) estão fazendo um trabalho incrível para recuperar estradas inteiras destruídas e pontes, porém, sempre trabalhando com orçamentos na faixa de centenas de milhões de reais. O meu sentimento é de que existiriam obras com montantes bem menores e que elas poderiam ser feitas pelo esforço das comunidades locais, uma vez que tais obras não estariam no radar, por exemplo, Dnit e do Daer.
JC – O senhor lembrou da iniciativa da comunidade de Nova Roma do Sul, que reconstruiu a ponte?
Ling – Sim, eu lembrei do episódio, no ano passado, de Nova Roma do Sul (a população, após ver a sua ponte destruída pela força das águas, refez a obra, que liga o município a Farroupilha, na Serra, com financiamento comunitário). Eu acredito que deva haver dezenas de localidades iguais a Nova Roma do Sul, com lideranças com espírito comunitário semelhante e que poderiam receber ajuda financeira para viabilizar os seus projetos locais. Sim, foi, mais ou menos, inspirado nesse exemplo e também, tendo consciência das limitações dos entes públicos. A iniciativa privada... nós podemos fazer a nossa parte também e, deste modo, surgiu a ideia de a Família Ling criar um fundo (para o Projeto Reconstrói RS).
JC – A Família Ling criou o fundo para o Projeto Reconstrói com a doação inicial de R$ 50 milhões...
Ling – Sim, há o comprometimento da Família Ling, muito ligado à nossa história. A história de meus pais que vieram para o Rio Grande do Sul no início da década de 1950. Eles não conheciam ninguém, não falavam português e se estabeleceram no município de Santa Rosa. Lá, iniciaram a vida de empreendedorismo, então, a família Ling prosperou no Rio Grande do Sul. A comunidade gaúcha acolheu os meus pais e nos ajudou nessa trajetória. Nada mais justo que a Família Ling esteja presente neste momento em que o Rio Grande do Sul mais precisa.
JC – O Projeto Reconstrói RS recebeu apoio de outras entidades para ser viabilizado?
Ling – Nós sabemos que ninguém faz nada sozinho e, deste modo, buscamos o apoio, especialmente, da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), que possui capilaridade através de suas 190 Associações Comerciais e Industriais (ACIs) no interior do Estado. Então, usei basicamente essa rede formada por empresários para viabilizar esse projeto. Sem esse apoio da Federasul e do próprio Instituto Cultural Floresta, que por sua vez tem experiência em ações comunitárias, nós não conseguiríamos colocar esse projeto de pé e tão rápido.
JC – Entidades e empresários estão fazendo doações para o fundo?
Ling – Sim, anunciamos a doação para o fundo de criação do Programa Reconstrói RS e ocorreu algo inesperado, em pouco mais de 48 horas, recebemos a adesão de outros doadores, como empresas, famílias e amigos, que reconheceram, digamos, o mérito dessa iniciativa. De modo espontâneo, eles fizeram doações importantes. Em valores confirmados, o fundo reúne a quantia de R$ 84,5 milhões. O Instituto Ling tem ainda outras famílias e entidades que manifestaram a intenção de fazer aportes financeiros, mas ainda não definiram os valores. Acreditamos que esse valor pode aumentar. Mas a nossa energia não está sendo usada para obtenção de fundos. Nosso maior desafio é fazer com que esse recurso chegue lá na ponta. Todos esses valores foram espontâneos. As pessoas nos procuraram e ofereceram ajuda. Agora, a nossa obrigação é fazer com que esse recurso seja bem utilizado.
JC – O Programa Reconstrói RS foi estruturado de uma maneira prática?
Ling – Procuramos fazer um modelo muito ágil, descentralizado e flexível. A ideia é que em poucos passos, o recurso seja destinado, sem intermediários e direto da conta do Instituto Ling para o projeto. Solicitamos, basicamente, um projeto feito por uma empresa de engenharia, com as essências necessárias, com o orçamento e com uma Anotação de Responsabilidade Técnica.
JC – Um comitê faz a validação dos projetos de modo rápido...
Ling – Nós somos um grupo de validação de projetos. Esse grupo é composto por pessoas que possuem muita experiência em engenharia civil e direcionada à infraestrutura no Rio Grande do Sul. Estamos falando das principais autoridades nesse assunto e, em poucas horas, eles conseguem avaliar o mérito dos projetos encaminhados.
JC – O senhor pode falar sobre os projetos que já foram encaminhados via ACIs para o Instituto Ling? Qual é a ideia de orçamento?
Ling – Os valores que estamos alocando são representativos dentro do orçamento do projeto. Então, por exemplo, temos 10 pontes, que foram identificadas no Vale do Rio Taquari e já nos comprometemos em bancar 50% do custo. Já o projeto da ponte ligando Cotiporã a Dois Lajeados foi orçado em quase R$ 3 milhões e nós estamos entrando com um terço desse valor, ou seja R$ 900 mil.
JC – O senhor vê adesão de mais comunidades ao Projeto Reconstrói RS?
Ling – Na medida em que as comunidades passam a ter conhecimento do projeto, do seu regulamento e dos critérios estabelecidos, elas passam a fazer mobilização. Então, eles passam a elaborar os seus projetos e estão indo atrás, fazendo os orçamentos. Esperamos começar a receber esses pedidos de uma maneira mais intensa daqui para frente.
JC – O senhor já tem contabilizado o valor dos projetos para essas 10 pontes?
Ling – A informação que temos, só no Vale do Taquari foram quase 60 passagens de pontes danificadas. E dessas 10 primeiras, que foram sinalizadas para nós, elas estão orçadas em torno de R$ 700 mil cada uma. Esse é o valor que recebemos preliminarmente e dentro desse montante, nós já sinalizamos que metade desse valor o fundo Reconstrói RS pode participar. Hoje, entrou um pedido para projeto de uma ponte sobre o rio da Várzea no município de Rodeio Bonito. Então, assim que recebermos a documentação desse projeto, também devemos dar uma posição rápida.
JC – O regulamento do Projeto Reconstrói RS foi lançado quando?
Ling – O regulamento foi divulgado no dia 24 de junho. Então, faz pouco tempo que o regulamento está circulando. As pessoas precisam de um tempo para fazer os projetos. Sabemos que os escritórios de engenharia e de projetos estão lotados, uma vez que a demanda por recursos é enorme. Estamos confiantes que projetos irão aparecer e que possamos dar uma contribuição.

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