O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve a taxa básica de juros, a Selic, estacionada em 10,5% ao ano. Esta é a segunda reunião consecutiva sem alteração no patamar dos juros. A decisão desta quarta-feira (31) foi unânime, com alinhamento dos votos dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), incluindo Gabriel Galípolo — favorito a assumir o comando da instituição em 2025 —, ao do atual chefe do BC, Roberto Campos Neto.
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O ciclo de corte de juros havia sido interrompido no encontro passado, em junho, com a retomada do consenso entre os membros do colegiado. O alinhamento aplacou os ruídos gerados um mês antes, em maio, após um racha no Copom, que alimentou o temor dos analistas de que o BC poderia se tornar mais leniente no combate à inflação no ano que vem. Em 2025, sete dos nove membros da cúpula do BC, incluindo o futuro presidente, terão sido indicados por Lula.
Ao longo do processo de flexibilização, iniciado em agosto de 2023, a taxa básica saiu de 13,75% ao ano e, no acumulado, recuou 3,25 pontos percentuais. Foram seis reduções consecutivas de 0,5 ponto percentual e uma de 0,25 ponto. Hoje, a Selic está no menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.
Histórico das taxas de juros fixadas pelo Copom
ARTE/JC
Até o fim do ano, quando termina o mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente da autoridade monetária, o Copom tem mais três rodadas de reuniões — em 17 e 18 de setembro, 5 e 6 de novembro e 10 e 11 de dezembro.
Desde a reunião de junho, houve piora no cenário econômico doméstico, com desvalorização do câmbio e projeções de inflação mais distantes do centro da meta. No mês passado, a taxa de câmbio usada pelo Copom em seu cenário de referência era de R$ 5,30. Nas últimas semanas, as expectativas de inflação apuradas pelo boletim Focus foram revisadas para cima tanto para 2024 quanto para 2025.
Os economistas projetam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano em 4,1% (em junho, o avanço era de 3,96%). Para 2025, horizonte de tempo mais relevante para a decisão do BC, a estimativa saltou para 3,96%, ante 3,8% às vésperas do último Copom. A estimativa para 2026 segue estacionada em 3,6%.
A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto). Com os efeitos defasados da política monetária sobre a economia, o BC mira hoje o alvo fixado para 2025 e já começa a olhar para 2026. O Copom volta a se reunir nos dias 17 e 18 de setembro para recalibrar o patamar da taxa básica de juros.
A decisão do BC reflete a preocupação com o recente aumento das expectativas de inflação e a incerteza fiscal do governo brasileiro, avalia o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier. Ele acrescenta que é um desafio a mais ao setor industrial, vetor importante para ajudar na reconstrução que o Estado precisa.
"Embora entendamos a necessidade de fazer a inflação ficar dentro da meta, o setor industrial do Rio Grande do Sul enfrenta dificuldades significativas, agravadas pelos efeitos das enchentes. A manutenção dos juros altos aumenta os custos de empréstimos e financiamentos, dificultando a recuperação econômica das empresas locais", diz Bier.
O presidente da Fiergs espera que, nos próximos meses, o governo federal se comprometa com as metas fiscais estabelecidas no arcabouço fiscal, de modo que o cenário macroeconômico permita uma redução dos juros, oferecendo um alívio necessário para os empreendedores gaúchos.
Para Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, a manutenção da taxa já era esperada. "O Copom registra esse aquecimento da economia, mercado de trabalho mais forte, expectativa de inflação desancorada, câmbio desvalorizando, mas não traz uma sinalização tão explícita de alta de juros. Ou seja, o Copom vem mais leve, menos "hawk", não dando sinais tão claros de que pode reagir até o final do ano se a inflação continuar subindo. É um Copom menos duro e com sinais mais fracos, com sinais não tão fortes de movimento de alta de juros no Brasil", disse.