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Publicada em 23 de Julho de 2024 às 18:35

Dificuldades com logística, acesso a crédito e mão de obra afetam empresários do Taquari

Região, que sofre com enchentes desde o ano passado, retoma atividades com limitações

Região, que sofre com enchentes desde o ano passado, retoma atividades com limitações

Gustavo Ghisleni/AFP/JC
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Bárbara Lima
Bárbara Lima Repórter
Quase três meses após as cheias de maio, que atingiram fortemente o Vale do Taquari, no interior do Rio Grande do Sul, empresários da região ainda enfrentam dificuldades para ter acesso ao crédito liberado pelo governo federal através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bancos e cooperativas parceiras. A logística das rodovias, também afetada pelas enxurradas, tem causado prejuízos no transporte de produtos. Além disso, empresas começam a sentir falta de mão de obra por êxodo. 
Quase três meses após as cheias de maio, que atingiram fortemente o Vale do Taquari, no interior do Rio Grande do Sul, empresários da região ainda enfrentam dificuldades para ter acesso ao crédito liberado pelo governo federal através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bancos e cooperativas parceiras. A logística das rodovias, também afetada pelas enxurradas, tem causado prejuízos no transporte de produtos. Além disso, empresas começam a sentir falta de mão de obra por êxodo. 
De acordo com o Presidente do Conselho de Administração da Dália Alimentos, Gilberto Antônio Piccinini, as atividades ficaram paralisadas pela falta de energia elétrica, mas voltaram 18 dias após o desastre climático. Ele afirmou à reportagem, no entanto, que problemas nas rodovias, dificuldades de acesso ao crédito do BNDES e falta de mão de obra são alguns dos gargalos enfrentados na fase atual de retomada. "A queda da ponte da ERS-130 causa transtornos, e a 129, opção em Roca Sales, é de chão batido. Quando chove, fica perigosa, tem muito acidente com as carretas", contou. Ele explicou que a ERS-332 também é uma opção, mas que tem limitações. 
Questionado sobre outras medidas que poderiam ajudar os empresários, entre elas a redução de tributos federais, ele considera que seria uma alternativa para reter recursos nesse momento de fluxo de caixa comprometido, mas reforça que o crédito do BNDES, essencial no momento, ainda não chega à ponta. "O que estamos precisando é desse auxílio do governo, principalmente para capital de giro", afirmou. Algumas linhas fabris precisaram ser descontinuadas na Dália, mas a maioria das operações conseguiu se restabelecer. Com a retomada, a cooperativa enfrenta a falta de mão de obra. "Muitos foram embora, porque estão com medo, porque o aluguel ficou muito caro". Gilberto conta que a cooperativa não pensa em mudar suas plantas de local, mas que um sistema contra cheias no frigorífico da cooperativa está sendo estudado conforme houver possibilidade de investimentos. 
De Teutônia, também no Vale do Taquari, o empresário Ivandro Rosa lembra que a experiência da região com o governo federal por conta da tragédia de setembro de ano passado não é boa. "É um trauma. Então fizemos uma pressão grande para o BNDES liberar o recurso. Objetivamente, ainda não veio para diversos empresários", relatou. Teutônia fica cerca de 20km do rio e tem sido um refúgio para a reconstrução.

Empresários buscam crédito para reconstruir negócios em cidades mais seguras

Conforme Ivandro, proprietário da Fabricato Pré-Moldados, as empresas estão pleiteando liberação de recursos de crédito do BNDES para quem quer reconstruir as plantas das empresas em outras cidades dentro do Vale do Taquari. "Por enquanto eles estão liberando apenas se a empresa for reconstruir no mesmo local ou em outro terreno dentro do município em que estava quando ocorreu a enchente, mas queremos que os recursos sejam liberados para quem vai mudar de cidade também", disse.
Como exemplo dessa situação, ele citou uma fábrica de vinagres que foi atingida por quatro enchentes desde o ano passado e está mudando sua planta de local. A Fabricato está auxiliando de forma voluntária no processo. "Não tem mais como essa empresa ficar onde estava, são perdas gigantescas", disse. Ele também citou a Fontana S.A, de produtos de higiene, que, segundo ele, está operando parcialmente em Teutônia para a produção de sabão, enquanto a parte de óleos fica em Encantado, devido a necessidade de tratamento de efluentes. "Não é fácil você mudar de uma hora para a outra. A maioria das empresas quer se reinstalar no Vale, pois é onde estão suas raízes, mas precisam de terrenos mais seguros", complementou. 
As médias e grandes empresas, na visão dele, estão sobrevivendo, ainda que às custas de empréstimos com juros elevados em instituições privadas, mas muitos dos pequenos negócios da região já fecharam. "As pequenas não conseguiram mais reabrir". Ele também está participando da reestruturação do plano diretor das cidades do Vale do Taquari. "O desenvolvimento tem que ir para áreas seguras. Isso para empresas e para a população", refletiu. Sobre a falta de mão de obra, ele disse que no futuro esse é um fator que pode se acentuar. "Tem empresas que nem voltaram ainda às suas atividades, e um dos motivos pelos quais as pessoas migram, além da busca por oportunidades, é pela falta de segurança. Muitas famílias ficaram desestabilizadas, isso pode causar mais falta de mão de obra no futuro". 

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