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Publicada em 15 de Julho de 2024 às 12:51

"A velocidade do comerciante está na necessidade do consumidor"

Longo defende o olhar atento ao consumidor

Longo defende o olhar atento ao consumidor

MARCELO G. RIBEIRO/JC
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Caren Mello
Caren Mello
Antônio Cesa Longo não age em defesa apenas da Associação Gaúcha de Supermercadistas (Agas), entidade que preside desde 2002. Atuando no varejo desde 1980, defende que todos os setores precisam estar fortes para que a economia cresça de forma sustentável. Em resumo, entende que, se todos os trabalhadores compram em supermercados, todos os segmentos devem estar fortes para dar condição de compra ao cidadão.
Antônio Cesa Longo não age em defesa apenas da Associação Gaúcha de Supermercadistas (Agas), entidade que preside desde 2002. Atuando no varejo desde 1980, defende que todos os setores precisam estar fortes para que a economia cresça de forma sustentável. Em resumo, entende que, se todos os trabalhadores compram em supermercados, todos os segmentos devem estar fortes para dar condição de compra ao cidadão.
Longo é um atento observador do cliente. O consumidor é o termômetro da economia, dá aula de gestão com suas finanças e sua postura deve ser cuidadosamente analisada pelo supermercadista. Se antes o cliente ficava 40 segundos em frente à gôndola, hoje o tempo médio é de 15 segundos. Ou seja: o supermercadista deve acompanhar esse ritmo.
O setor forte é essencial não apenas para a população gaúcha, mas também para a economia, defende o presidente. "Somos o segundo maior contribuinte em impostos para o governo. Estamos presentes em todos os municípios gaúchos", disse, referindo-se ao movimento "Não ao aumento, sim ao alimento". A entidade foi atuante no início do ano na defesa do fim do decreto estadual de aumento de impostos. O aumento prejudicaria, segundo ele, consumidor, pequenos produtores, toda a cadeia produtiva e, por consequência, a economia.
No ano passado o segmento de supermercados faturou R$ 61,2 bilhões, um crescimento 14,3% superior ao ano anterior. Em levantamento feito pela entidade, o Ranking Agas indicou ainda um total de 6,7 mil lojas (crescimento de 4,6% no comparativo) e 152,7 mil empregados (15,6% de aumento).
Em entrevista ao Jornal do Comércio, Longo prefere não fazer previsões para este ano. As perdas com as enchentes do final de abril e início de maio ainda não podem ser mensuradas. "Mas vamos crescer. Vamos continuar empregando. Sempre vai ter gente comprando e gente vendendo", observou.
Economista, pós-graduado em Gestão Empresarial e Administração e Marketing, Longo lidera a maior feira varejista do cone sul, a Expoagas. Mesmo com todas as dificuldades pelas quais passa o empresariado gaúcho, o evento que acontece entre os dias 20 e 22 de agosto prova a capacidade de retomada do segmento.
Jornal do Comércio - O setor apresentou crescimento em 2023. Qual a projeção para 2024?
Antônio Longo - Está muito difícil de fazermos projeções. Se avaliarmos os últimos números, nunca houve tanta disparidade. Temos muitas empresas crescendo, abrindo lojas, essa é uma situação. Às vezes, esse mesmo negócio não cresce, ele cai. Existem muitas mudanças (que podem impactar): a concorrência, uma nova loja ao lado, uma obra ou um buraco em frente à loja, uma mudança do trânsito... Tudo pode alterar o desempenho. Atualmente é muito difícil fazer essa projeção. No ano passado, vínhamos em uma situação (de crescimento); neste, o governo mudou a tributação. Existia uma previsão de aumentar o ICMS e, 30 dias depois, o governo retira. Nem todos entenderam, nem todos atualizaram. Essas mudanças são muito rápidas.
JC - A chegada de novos modelos, como atacarejos, impacta o setor?
Longo - O atacarejo é um grande supermercado, uma grande loja. É como se abrisse um grande hipermercado. O atacarejo não é um concorrente pequeno, é um grande concorrente. Com a chegada do concorrente, tem quem perde 10%, tem quem perde 20%, tem quem não sente nada, mas tem quem cresça. Às vezes se cria um polo no local que acaba trazendo mais gente para o entorno. Muitas vezes, acontece da seguinte forma: abre um concorrente, mas a linha de bebidas quentes dele não é tão boa quanto a minha ou o meu açougue é melhor que o dele.
JC - O comportamento do consumidor se ajusta a essas mudanças?
Longo - O consumidor é mais ágil, mais atuante que o próprio comerciante. A velocidade do comerciante está na necessidade do consumidor. Ganha quem escuta o consumidor, quem está atento a ele. Ele é melhor que qualquer consultor. Mesmo a fiscalização. Hoje o fiscal também é consultor. É uma questão educativa. As pessoas veem o fiscal como um orientador, um consultor. Ele é importante para todo comércio crescer.
JC - Qual foi o impacto das enchentes no setor?
Longo - Infelizmente fomos dizimados, mas, como em qualquer guerra, qualquer catástrofe, uns perdem, outros ganham. Tem gente que está com dificuldade e tem gente crescendo. Tem gente que tinha um concorrente que foi atingido e cresceu. Mas teve outro que teve fornecedor que foi atingido, e deixou de vender produto. Hoje está muito difícil dizer que o setor cresceu 4%. Dentro desses 4%, pode ter quem cresceu 30% e outros caíram 28%.
JC - Ainda é cedo para essa avaliação?
Longo - Sim. Esse ano mudou muito o mercado. Tem cidades que quase sumiram, tem loja que aumentou o mix de produtos. É difícil fazer uma previsão de crescimento para o setor nesse momento. Ele vai crescer, mas não faço projeções porque, se o governo resolver fazer um decreto, munda toda projeção, como aconteceu. Mudou uma alíquota, veio uma catástrofe, as estradadas ainda estão ruins. O negócio é no dia a dia.
JC - Qual foi o papel da Agas?
Longo - Estamos preparados para dar continuidade, uma atuação que não seja só na emoção. Primeiro, a preocupação foi em salvar vidas e, depois, de participar de projetos de abertura de rotas e vias bloqueadas. Adquirimos um drone, que faz busca de desaparecidos por sensação térmica. Doamos para os bombeiros do Estado. Compramos 25 caminhões de água mineral, doamos 40 mil kits de produtos de higiene, alimentação, 10 mil cobertores. Para quem teve a loja atingida, promovemos programas com fornecedores para ajudar no mix de reconstrução, nos pagamentos, nos abonos. Para quem teve loja danificada, estamos dando R$ 5 mil por loja para fazer sorteio entre os clientes e mais R$ 5 mil entre os funcionários. É um projeto que vamos continuar. Somos gratos à Fiergs, a todas as federações e ao Jornal do Comércio. Todos nós articulamos junto essa retomada.
JC - Como vai ser a próxima Expoagas?
Longo - A realização da Expoagas é a maior das retomadas. Não tivemos nenhuma baixa. Oferecemos a devolução do dinheiro (valor de participação no evento) para quem foi prejudicado. Mas as pessoas não quiseram desistir do contrato.
JC - Ela é uma vitrine importante para essa retomada.
Longo - Sim, e o governo do Estado foi importante para essa retomada. Todos sabemos como esse evento é importante.
JC - Qual sua avaliação sobre a conjuntura nacional?
Longo - Não vou entrar no assunto Reforma tributária. O certo é que vamos pagar mais.
JC - O setor supermercadista sempre foi um aliado quando se fala em aumento de vagas de trabalho.
Longo - Sim, isso vai continuar. É um setor que todo ano aumenta de 3% a 4% o número de vagas. Ele vai continuar nessa tocada. Nunca fecha vagas porque sempre abrem novos concorrentes. É um setor que acredita no emprego. E acreditamos que podemos construir mais. Hoje, o setor de supermercado é o segundo maior arrecadador de impostos do Estado.
 

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