Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 10 de Julho de 2024 às 14:51

Estaleiro Rio Grande pretende concorrer em licitação da Transpetro

Complexo gaúcho avalia condições do edital

Complexo gaúcho avalia condições do edital

Ecovix/Divulgação JC
Compartilhe:
Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
A licitação recentemente anunciada pela Transpetro (subsidiária da Petrobras) para aquisição de quatro navios entrou no radar do Estaleiro Rio Grande. A intenção da Ecovix, empresa responsável pelo complexo situado na Metade Sul gaúcha, é participar dessa disputa.
A licitação recentemente anunciada pela Transpetro (subsidiária da Petrobras) para aquisição de quatro navios entrou no radar do Estaleiro Rio Grande. A intenção da Ecovix, empresa responsável pelo complexo situado na Metade Sul gaúcha, é participar dessa disputa.
O diretor operacional da Ecovix, Ricardo Ávila, diz que a companhia está neste momento analisando o edital. “Estamos ainda na fase de estudos para ver o que precisa de recursos, se vamos precisar de um parceiro tecnológico e, provavelmente vamos, porque não é algo que o estaleiro já fez”, argumenta o dirigente.
A meta de ingressar na concorrência poderá ser revista, adianta Ávila, caso a companhia ache que não tenha uma condição competitiva para a disputa. “Mas, temos muito interesse, vamos estudar com carinho esse edital e a ideia é participar”, reforça. O diretor da Ecovix comenta que será uma concorrência difícil com as companhias estrangeiras, contudo ele recorda que os estaleiros que ofertarem conteúdo nacional acima de 65% contarão com algumas vantagens, porque poderão captar recursos do Fundo da Marinha Mercante (FMM). “É uma medida interessante e agrega um pouco de competitividade”, aponta Ávila.
Por outro lado, o fato dos estaleiros internacionais não terem sofrido a redução de demanda (como aconteceu com os complexos brasileiros nos últimos anos, após a operação Lava Jato) é uma vantagem para esses agentes, argumenta Ávila. “Os estaleiros nacionais vão ter que se remobilizar, qualquer um deles, porque não tem estaleiro brasileiro produzindo navios hoje”, salienta o dirigente.
A Transpetro pretende contratar quatro embarcações com capacidade para movimentar de 15 mil a 18 mil toneladas de porte bruto e que serão utilizadas na movimentação de derivados de petróleo como diesel e gasolina. O primeiro desses navios deverá ser entregue em fevereiro de 2027. O presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, considera que a licitação será um grande estímulo para a indústria naval brasileira e espera que haja a participação de empresas nacionais.
Entretanto, o tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte (STIMMERG), Sadi Machado, considera difícil que as encomendas da subsidiária da Petrobras sejam trazidas para o Rio Grande do Sul. Ele assinala que um dos motivos que justifica o pessimismo, além do fato do Estaleiro Rio Grande não possuir o histórico de atender demandas com essas características, é a falta de lideranças políticas regionais que defendam mais fortemente a retomada do polo naval gaúcho.
O sindicalista manifesta preocupação quanto aos postos de trabalho gerados na região. Ele recorda que os serviços em módulos de plataformas que o Estaleiros do Brasil (EBR), em São José do Norte, conduz atualmente estão para ser concluídos nos próximos meses e isso deve acarretar a desmobilização de cerca de 3,1 mil trabalhadores.

Retomada de desmantelamento da P-32 pode ocorrer nos próximos dias

Enquanto mira na licitação da Transpetro, a Ecovix também espera pelo desdobramento de outra questão: o reinício do desmanche da plataforma P-32, que se encontra no Estaleiro Rio Grande desde o final de 2023. O diretor operacional da Ecovix, Ricardo Ávila, adianta que a expectativa é reiniciar os cortes da estrutura nos próximos dias.
O serviço de desmantelamento foi interrompido no começo do ano, quando foi constatada a presença de diesel marítimo e água oleosa dentro da unidade. A embarcação, que fazia parte do sistema de produção da Petrobras, foi arrematada em leilão pela produtora de aço Gerdau, com a condição de ter uma destinação adequada.
Ávila detalha que, antes da retomada dos trabalhos na plataforma, haverá uma inspeção do Ministério Público do Trabalho que decidirá sobre o aval para os serviços. Apesar da perspectiva de que os cortes voltem a ser feitos, ainda será necessária uma limpeza dos resíduos de petróleo que permanecem nos tanques para concluir o desmantelamento mais adiante, caso contrário a iniciativa pode ser interrompida novamente. O imbróglio quanto a essa questão concentra-se sobre quem arcará com esse custo, o que dependerá de negociação entre Gerdau e Petrobras.
Em nota, a Petrobras manifesta que “o plano de reciclagem para a execução das atividades está sendo acompanhado pela Petrobras, conforme previsto na licitação. Questões contratuais porventura existentes são tratadas internamente entre as partes”. Já a Gerdau diz que “está atuando incessantemente para retomada total das atividades de desmantelamento, no menor tempo possível, dentro das condições previstas no leilão e, paralelo a isso, executando as atividades possíveis dentro das limitações impostas”.
Enquanto não há uma definição sobre a P-32, a situação vem atrapalhando os planos do Estaleiro Rio Grande, que chegou a perder três negociações de reparo de embarcações. O cenário também pode afetar os trabalhos de desmanche da P-33, também previstos para serem feitos no complexo gaúcho. “A P-33 só chegará depois que a situação da P-32 estiver resolvida por completo”, afirma Ávila. Ele projeta que, antes do final do ano, será muito difícil colocar a P-33 dentro do dique seco do estaleiro.
O tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte (STIMMERG), Sadi Machado, lamenta que já foram demitidos cerca de 60 trabalhadores que atuavam no desmonte da P-32. O sindicato, quando soube da presença de diesel e resíduos na estrutura, ajuizou uma ação para que os funcionários recebessem pela periculosidade do serviço. “Eu entendo que se o ministério público liberar (a volta dos cortes na plataforma), o juiz tem que mandar pagar a periculosidade ao trabalhador”, conclui Machado.

Notícias relacionadas