O impacto das enchentes ainda será sentido pelas empresas de construção civil por um bom tempo. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Cláudio Teitelbaum, a consequência financeira ainda é imensurável e serão necessários alguns meses para que o sindicato possa ter noção dos reais prejuízos ao setor gaúcho.
Desde que as cheias se intensificaram, ao longo de maio, o mercado de construção civil sofreu com problemas na distribuição de insumos, seja pelo atraso na produção, seja pela questão de logística, já que as instalações de alguns fornecedores ficaram alagadas. Entre os materiais mais impactados estão o concreto, o aço, a areia e as esquadrias de alumínio.
Em pesquisa realizada no dia 4 de junho, o Sinduscon observou que 61,9% das empresas consultadas registraram falta de mão de obra no mês de maio. O principal motivo, evidentemente, foi o prejuízo que muitos trabalhadores enfrentaram com as enchentes. Nos primeiros dias de julho, uma parcela dessa força de trabalho já retomou as atividades, mas outro grupo continua sem condições de retornar.
De acordo com Teitelbaum, os impactos variam de empresa para empresa. Uma mesma companhia pode apresentar canteiros de obras que foram afetados e outros que não foram.
“As construtoras têm canteiros que ficaram mais de 40 dias parados em função das enchentes. Durante esse período, não foi possível medir, produzir e obter recursos de financiamento. Por isso, o impacto foi sentido no faturamento”, explica Teitelbaum.
Segundo ele, a maioria das empresas do setor está trabalhando com um atraso de 30 a 90 dias no cronograma das obras.
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Para o presidente do Sinduscon-RS, a oferta de R$ 15 bilhões feita pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para auxiliar as empresas gaúchas afetadas pela tragédia climática ainda não teve impacto prático. “No nosso modo de ver, o valor não abrange as empresas que estão fora da mancha das enchentes. Apesar de não estarem dentro dos critérios, essas empresas foram efetivamente impactadas pela perda de faturamento em maio”, explica.
De acordo com Teitelbaum, o repasse de crédito serviria como capital de giro para as empresas da construção, dinheiro necessário e fundamental para que as mesmas continuem operando.
Preços dos insumos aumentaram para as construtoras durante período das cheias
Foram poucos os canteiros de obras da construtora Cyrela Goldsztein que ficaram alagados durante as enchentes. No entanto, os mesmos acumularam uma grande quantidade de água, que eventualmente precisou ser drenada. Para que as áreas pudessem voltar à normalidade, também foi necessário restabelecer a energia elétrica e o abastecimento de água desses espaços.
Neste momento, no entanto, a construtora já retomou as obras nos canteiros que haviam ficado paralisadas.
Como consequência das enchentes, muitas empresas fornecedoras de insumos tiveram suas sedes tomadas pela água, o que deixou a distribuição para as construtoras comprometida.
Segundo o diretor de incorporação da Cyrela, Luiz Paludo, o concreto e as esquadrias foram os materiais que mais demoraram para chegar. Em relação às esquadrias, a explicação para o atraso é que as empresas produtoras do vidro necessário para sua construção ficaram inoperantes durante o mês de maio.
A oferta de alguns insumos diminuiu significativamente e, por conseguinte, o preço aumentou. Para o vice-presidente de Operações da Melnick, Marcelo Guedes, o impacto imediato em maio foi maior do que no início da pandemia de Covid-19. "Há quatro anos, as consequências foram sentidas de forma mais suave pelo setor da construção civil. Foram mudanças que persistiram por mais tempo. Este ano, nós fomos de zero a cem muito rapidamente. A disponibilidade de insumos caiu de forma abrupta", explica.
Apesar deste cenário, a expectativa de Guedes é de que, no médio prazo, os preços retornem a um patamar normalizado.
Ainda de acordo com o vice-presidente da Melnick, as empresas de construção civil do Rio Grande do Sul estão preocupadas com uma possível inflação setorial nos próximos meses. Guedes explica que, a depender de como a economia se restabelece, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) do Estado pode acabar ficando descolado do restante do País.
O diretor de incorporação da Cyrela, Luiz Paludo, critica ainda a demora na liberação dos recursos federais tanto para as construtoras, quanto para os fornecedores de insumos. “O auxílio anunciado pelo governo federal não saiu do papel. Os valores ainda não chegaram até as empresas”, aponta.