O ex-CEO das Lojas Americanas Miguel Gutierrez foi liberado pelas autoridades espanholas neste sábado (29), após ter sido detido pela Interpol em Madri um dia antes. Em nota, a defesa do executivo disse que ele está na capital espanhola, em sua casa, "no mesmo endereço comunicado desde 2023 às autoridades espanholas e brasileiras".
Ao pedir a prisão preventiva do ex-CEO, a Polícia Federal (PF) afirmou que o executivo se desfez de bens, entre eles imóveis e veículos, e enviou valores a offshores sediadas em paraísos fiscais. Gutierrez liderou a empresa por mais de duas décadas, até dezembro de 2022.
As informações são citadas pelo juiz Márcio Carvalho, responsável por autorizar a prisão de Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicali na operação Disclosure, em que a PF investiga as fraudes contábeis que deram origem ao rombo bilionário na empresa.
O ex-CEO, que tem também cidadania espanhola, e a ex-diretora saíram do Brasil e foram incluídos na difusão vermelha da Interpol. Saicali deixou o país no dia 15 e está em Portugal.
O juiz Marcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, determinou a Anna Saicali, ex-diretora das Lojas Americanas, que se apresente às autoridades portuguesas no aeroporto de Lisboa neste domingo (30) e entregue o passaporte à Polícia Federal assim que voltar ao Brasil.
Segundo o comunicado da defesa do executivo, Gutierrez "sempre esteve à disposição dos diversos órgãos interessados nas investigações em curso". "Na data de ontem (28), ele compareceu espontaneamente ante as autoridades policiais e jurisdicionais com o fim de prestar os esclarecimentos solicitados", segue o comunicado.
Ainda segundo a defesa, diante do acesso aos autos, Gutierrez "agora poderá exercer sua defesa frente às alegações originadas por delações mentirosas em relação a ele".
A defesa diz ainda que o executivo "jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades".
De acordo com os advogados, ele tem prestado os esclarecimentos devidos nos foros próprios e reafirma sua "absoluta confiança nas autoridades brasileiras e internacionais".
O rombo nas contas da Americanas foi revelado no início de 2023, quando a empresa informou ao mercado inconsistências contábeis da ordem de mais de R$ 25 bilhões, levando a varejista a entrar em um processo de recuperação judicial.
Estudos produzidos pela própria companhia apontaram que as inconsistências eram, na verdade, fraudes contábeis cometidas por ex-funcionários da rede varejista.
Ao informar à CVM, em novembro de 2023, o quarto adiamento da divulgação das demonstrações financeiras de 2022 e da revisão do balanço de 2021, a empresa afirmou que foi "vítima de uma fraude sofisticada e muito bem arquitetada, o que tornou a compilação e análise de suas demonstrações financeiras históricas uma tarefa extremamente desafiadora e complexa".
A informação sobre o período das irregularidades foi fornecida pela delação premiada da ex-responsável pela Controladoria da empresa, Flávia Carneiro, que fechou acordo com o MPF (Ministério Público Federal). Além de Flávia, o ex-executivo Marcelo Nunes também assinou uma colaboração.
Com base nas delações e outras informações, a PF deflagrou nesta quinta (27), a operação Disclosure.
Folhapress