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Opinião Econômica

- Publicada em 27 de Junho de 2024 às 19:09

Com ruídos de Lula, Bolsa ficou (muito) barata para os gringos

Marcos Mendes,economista, pesquisador associado ao Insper, é autor de “Por que é difícil fazer reformas econômicas no Brasil?”
Marcos Mendes,economista, pesquisador associado ao Insper, é autor de “Por que é difícil fazer reformas econômicas no Brasil?”
Se você acha que a Bolsa caiu muito neste ano afinal, já são mais de 9% de queda desde que chegamos a 2024, imagina um investidor estrangeiro, que faz a conta em dólar e repara que, na moeda dele, o Ibovespa despencou 17%.
Pois esse é um dos cálculos que precisamos fazer para analisar nosso mercado. Se jogando em casa (contando em reais) estamos derrotados, disputando fora (em dólares), soa como outro 7x1.
O que tira valor da nossa Bolsa é fuga dos dólares. É o mesmo, aliás, que fez o real ser a moeda que mais perdeu valor no mundo em 2024 um triste recorde às vésperas de seu aniversário de 30 anos, a se completarem no próximo mês.
Em meio ao êxodo da moeda estrangeira, o presidente Lula decidiu voltar à tática de encontrar um inimigo para culpar e retomou suas investidas contra o presidente do Banco Central, Campos Neto, e contra "o mercado".
"Eu não vejo o mercado falar dos moradores de rua, eu não vejo o mercado falar dos catadores de papel, eu não vejo o mercado falar do desempregado, eu não vejo o mercado falar das pessoas que necessitam do Estado", disse o líder petista, em entrevista à rádio Cearense Verdinha, na última semana.
E nem verá. O mercado, como eu já explorei aqui outras vezes, não fala nada. Não se pode confundi-lo com as opiniões de traders ou gestores, mais afeitos a redes sociais, palestras ou entrevistas. O mercado, em si, compra e vende, alterando os preços conforme o risco percebido.
Com juros altos nos Estados Unidos considerada a economia mais segura do mundo, é natural que os grandes fundos coloquem mais dinheiro lá. E para compensar o risco de quem topa tirar a grana do Tio Sam, países emergentes como o nosso acenam com taxas de juros mais altas.
Não pretendo aqui discutir se a taxa de juros básica correta para o Brasil neste momento é de 10,5% ao ano, 10,25% ou 3%. E a briga contra os juros não parece ser um problema real para o presidente Lula, mas um diversionismo político para se isentar da culpa sobre a economia em período de eleições municipais.
Digo isso porque o presidente reclama da Selic atual como se estivesse em um patamar impensável, mas nos seus dois mandatos anteriores, de 2003 a 2010, a média da taxa foi de 15,5% ao ano. Nos 8 anos de Lula 1 e Lula 2, a Selic ficou abaixo de 10% por apenas 1 ano, mas acima de 15% por três, chegando ao pico de 26,5%. Nessa época, aliás, sem a atual autonomia, Lula podia trocar o presidente do Banco Central quando bem entendesse.
Para melhorar a comparação, ressalto que os juros americanos variaram entre 1% e 5,25% ao ano, no mesmo período. Hoje estão em 5,5%.
A dificuldade de segurar os dólares aqui está grande. Neste ano, não houve um mês sequer em que os estrangeiros tenham colocado mais dinheiro na nossa Bolsa do que sacado, conforme levantamento exclusivo feito pela consultoria Elos Ayta. No total, até o dia 19 de junho, os gringos já tiraram mais de R$ 41 bilhões da nossa Bolsa.
É importante dizer que desde janeiro de 2023, quando Lula subiu a rampa do Planalto, os estrangeiros colocaram mais dinheiro na nossa Bolsa do que sacaram, deixando o placar no azul por cerca de R$ 14 bilhões. Mas todo o entusiasmo se deu no ano passado.
Se estivesse realmente preocupado em estancar essa sangria, Lula poderia se esforçar em mandar sinais de segurança fiscal, em vez de gerar ruídos com embates personalistas, se colocando como vítima de um sistema no qual ele é o Presidente da República.
Como, nos Estados Unidos, as taxas de juros continuam as mesmas, a chance para a nossa Bolsa reverter o movimento de quedas fica na hipótese de os grandes investidores globais notarem que as ações brasileiras estão a preço de banana ainda mais na conta em dólares e começarem a comprar.
Não seria a primeira vez que veríamos isso acontecer. Após as recentes quedas, o Ibovespa, em dólar, está nos mesmos níveis de outubro de 2023. Os preços estavam tão apetitosos, então, que, no mês seguinte, tivemos a maior entrada líquida de recursos estrangeiros na Bolsa dos últimos dois anos.
Com números quentes à mesa e análise fria, podemos estar prestes a ver uma injeção de capital unicamente baseada nos preços o que não seria nada mal para a seca da Bolsa. Mas manter o dinheiro aqui exigirá mais esforço e menos verborragia em Brasília.