O dólar encerrou a sessão desta sexta-feira (7) em alta de 1,41%, cotado a R$ 5,3247, voltando aos maiores níveis de fechamento desde 5 de janeiro de 2023. O tombo do real se deu em meio a uma onda de fortalecimento da moeda americana no exterior, após números de geração de empregos nos EUA em maio acima das expectativas sugerirem pouco espaço para o Federal Reserve reduzir os juros neste ano.
As máximas vieram à tarde, quando a divisa atingiu pico a R$ 5,3275, em meio a mínimas do Ibovespa e à aceleração dos ganhos do dólar em relação a outras divisas emergentes pares do real, em especial o peso mexicano. As taxas dos Treasuries aceleraram, com o retorno do papel de 2 anos atingindo o nível de 4,88%.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, certo desconforto com declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à tarde ajudou a pressionar os ativos domésticos. Haddad reforçou que o governo vai insistir da Medida da Provisória do PIS/Cofins para compensação de perdas de receita com desoneração, apesar de resistências no Congresso e entre setores econômicos, e minimizou os efeitos sobre a economia. Houve também ruídos em torno de fala do ministro sobre eventual contingenciamento neste ano.
Já as declarações de autoridades do Banco Central brasileiro — o presidente Roberto Campos Neto e os diretores Paulo Pichetti (Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos) e Gabriel Galípolo (Política Monetária) — foram monitoradas, mas não tiveram impactos relevantes na formação da taxa de câmbio. A perspectiva de fim do processo de cortes da Selic já estaria incorporada às cotações, segundo operadores.
O real, que teve desempenho bem inferior a dos pares ao longo de maio, desta vez sofreu menos que a maioria das divisas emergentes e de exportadores mais relevantes, incluindo os pares latino-americanos. Como tem sido comum neste início de junho, a moeda mais castigada foi o peso mexicano, com perdas de mais de 2,5% em relação ao dólar, ainda efeito de receios de mudanças constitucionais no México após o resultado do pleito presidencial.
A alta de 1,41% do dólar hoje corresponde ao ganho semanal da moeda no mercado doméstico. Mas é preciso lembrar que, da cotação de fechamento mais baixa em maio (R$ 5,0673, no dia 7) até esta sexta-feira, a divisa acumula valorização de 5,08% em relação ao real. Isso depois de ter encerrado abril com ganhos de 3,53%.
O payroll mostrou geração de 272 mil vagas em maio, acima do pico da pesquisa do Projeções Broadcast (220 mil). Já a taxa de desemprego subiu de 3,9% para 4%, quando a expectativa era de estabilidade. De outro lado, o salário médio por hora apresentou avanço além das expectativas tanto na comparação mensal quanto na anual — o que sugere maior dificuldade no processo de desinflação.
O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, observa que os investidores se fixaram mais na geração de vagas acima bem acima do esperado e no crescimento dos salários, do que na alta da taxa de desemprego. "O resultado do emprego teve peso maior. As taxas das Treasuries abriram e o dólar se fortaleceu, voltando ao patamar de R$ 5,30", diz Costa. "O mercado ainda vê setembro como o momento mais provável de corte, mas reduziu a possibilidade de dois cortes de juros nos EUA neste ano", afirma.
Monitoramento do CME Group mostra que as chances de um corte inicial de juros em setembro seguem majoritárias, mas apenas pouco acima de 50%. Houve avanço tanto das apostas em apenas uma redução de 25 pontos-base neste quando de manutenção, que saltaram da casa de 5% para perto de 15%.
O economista André Galhardo, consultor da Remessa Online, lembra que os dados de emprego ao longo da semana (relatório Jolts e ADP) alimentaram expectativas de moderação do mercado de trabalho americano, o que não se confirmou no payroll, o relatório de emprego mais relevante. Para ele, a "elevação marginal" da taxa de desemprego não tem impacto no chamado "cenário prospectivo do Fed", que vê sua margem de manobra para redução dos juros reduzida com a robustez da geração de vagas. "Ganha força a possibilidade de a taxa de juros permanecer no atual patamar pelo restante de 2024, o que fortalece a moeda americana", afirma.