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Publicada em 30 de Maio de 2024 às 16:01

Iniciativas divulgadas por Lula frustram expectativas de entidades do setor produtivo gaúcho

Taxas de juros nas linhas de crédito para empresas afetadas foram criticadas pelos dirigentes

Taxas de juros nas linhas de crédito para empresas afetadas foram criticadas pelos dirigentes

Guilherme Pereira/DIVULGAÇÃO/CIDADES
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Caren Mello
Caren Mello
O conjunto de medidas anunciado pelo presidente Lula foi recebido com certa dose de frustração pelas entidades gaúchas do setor produtivo. Embora o volume de recursos em linhas de financiamentos seja importante para as empresas devastadas pelas enchentes, as obrigações a serem assumidas podem comprometer de forma significativa a saúde dos empreendimentos.
O conjunto de medidas anunciado pelo presidente Lula foi recebido com certa dose de frustração pelas entidades gaúchas do setor produtivo. Embora o volume de recursos em linhas de financiamentos seja importante para as empresas devastadas pelas enchentes, as obrigações a serem assumidas podem comprometer de forma significativa a saúde dos empreendimentos.
Para o presidente da Federaul, Rodrigo Sousa Costa, a captação desses recursos por empresas que já se encontram em grave situação servirá para postergar as dificuldades pela inadimplência ou, até mesmo, o fechamento. O dirigente refere-se principalmente às taxas de juros. Entre as linhas de crédito anunciadas por Lula, o montante de R$ 1,5 bilhão via Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) tem taxa de TR (Taxa Referencial) de 5%. "Pior do que o cenário atual é receber soluções que não são remédios, são venenos. O indivíduo se endivida e leva com ele outras empresas que estavam saudáveis porque apostaram na sua recuperação. Aquela empresa vai ficar parasitada por uma taxa proibitiva", apontou, ao lembrar que a Federasul já havia se posicionado da mesma forma no ano passado. Durante a enchentes no Valer do Taquari, em setembro, a Federação alertou para que as empresas não se endividassem com jutos altos e variáveis, de forma a se comprometerem no futuro. "Dizemos novamente: é temerário, é de alto risco", alertou.
Por outro lado, Costa elogiou a ampliação do acesso ao crédito rural. A medida, segundo ele, é bastante resolutiva para pequenos e médios produtores rurais afetados que não têm condições de oferecer garantias usualmente adotadas. Em relação ao montante de R$ 15 bilhões pelo BNDES, "a notícia é bem-vinda", mas a equação também assusta, pelo "risco das operações".
A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) considerou importantes as medidas de apoio à retomada do setor, mas ainda insuficientes diante das dificuldades. "As linhas de financiamento, abrangendo empresas de todos os portes, é de suma importância. Porém, dada a situação crítica do setor produtivo, o ideal seriam recursos a juro zero ou negativo", diz o presidente Gilberto Petry, ponderando que mesmo estando as taxas abaixo da praticadas pelo mercado.
Há necessidade de celeridade, apontou o dirigente, para destinar esse recurso ao BNDES e regulamentar as condições e procedimentos operacionais para que os agentes financeiros possam acessar as linhas. Da mesma forma, o crédito via Pronampe, em razão da necessidade urgente de recursos.
O dirigente lamentou a ausência de medidas emergenciais de manutenção do emprego, como por exemplo o Benefício Emergencial (BEm) e o Programa Emergencial de Suporte a Empregos (PESE). A implementação imediata do BEm e medidas de suspensão temporária do contrato de trabalho são essenciais para fornecer alívio imediato às empresas e aos trabalhadores, avaliou.
Para Petry, a maior urgência se dá em relação ao capital de giro. "As empresas precisam de capital de giro imediatamente para saldar seus compromissos que vencem diariamente. Estamos numa emergência, e necessitamos de socorro de recursos que cheguem na ponta, ou a nossa economia será devastada pela inviabilidade das empresas se reerguerem", diz, lembrando que há fatores que demandam tempo. "A reconstrução de prédios, a encomenda de máquinas, o retorno à operação com empregados, tudo requer tempos específicos. E enquanto isto, continuam vencendo os compromissos das empresas sem a contrapartida do faturamento. Então, estamos em um ponto que é crucial o socorro de capital de giro chegando na ponta."
Já o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do RS (Simers), Cláudio Bier, que em julho assumirá a Fiergs, elogiou as medidas anunciadas, por beneficiarem todas as empresas, as que sofreram com alagamento e as que com problema na logística.
"A única coisa que pedimos é agilidade. As indústrias não têm mais tempo ara esperar. Ficaram 30 dias sem faturar", destacou. Bier criticou a omissão do governo federal sobre medidas de proteção ao emprego e flexibilização para as empresas.
Já o presidente do Sistema Fecomercio-RS/Sesc/Senac, Luiz Carlos Bohn, lembrou que, diante do desafio que o RS enfrenta, é difícil dizer se é o suficiente ou não. "Ainda estamos levantando perdas. Isso é um importante começo, mas com certeza a necessidade de ajuda em várias outras frentes vai continuar existindo. O volume de recursos e as taxas de juros são um importante passo, mas o fundamental é que os financiamentos aconteçam e as empresas consigam ter acesso a esses recursos de forma célere e desburocratizada", observou.
 

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