Apesar do Rio Grande do Sul ter sofrido a pior enchente da sua história, o porto rio-grandino continuou operando normalmente e esse cenário deverá perdurar. “A princípio, como está hoje e nas projeções que se tem, a gente não vai ter problema em Rio Grande”, projeta o presidente da Portos RS (empresa pública responsável por administrar o sistema hidroportuário no Estado), Cristiano Klinger.
Ele detalha que até sábado (18) o nível da água continuava subindo na região de Rio Grande, mas nesta segunda-feira (20) se verificava redução. O dirigente acrescenta que a correnteza está intensa, o que propicia uma boa vazão nas proximidades dos molhes (estruturas de pedra que formam um corredor ligando a Lagoa dos Patos ao oceano). O presidente da Portos RS detalha que fatores como as condições de vento e maré, além do fato do cais da área portuária estar em uma altura mais elevada que o centro da cidade, ajudaram a não ter inundações no complexo logístico.
Klinger comenta que a elevação do nível da Lagoa dos Patos atingiu, no seu pico, a 84 centímetros acima do cais do Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar), localizado no centro histórico de Rio Grande. Esse é o principal ponto de monitoramento do nível de água no município. No entanto, o dirigente frisa que a água não conseguiu superar o cais do porto público e do superporto. “Ficou 45 centímetros abaixo, não chegou a inundar nada, a gente seguiu com a operação normal o tempo todo”, reitera o dirigente.
Já o porto de Pelotas, que tem como principal carga movimentada toras de madeira que usam a hidrovia gaúcha para abastecer a planta de celulose da CMPC em Guaíba, depois de ter a atividade interrompida em 3 de maio, voltou a operar nesta segunda-feira. Por sua vez, no caso do porto da capital gaúcha, de acordo com Klinger, será necessário esperar que a água abaixe para avaliar todo o impacto que houve na infraestrutura portuária, como armazéns, cais, parte elétrica, balanças e outros. “Porque ficou tudo embaixo d’água”, destaca o presidente da Portos RS.
Em Porto Alegre, a perspectiva é que a água deva atingir a altura de três metros, que é o nível do cais, no final de maio. Assim que isso ocorrer, uma equipe de engenharia irá fazer uma avaliação da situação. Além de consertar equipamentos, será necessário realizar uma batimetria (medição) da via fluvial para verificar as condições dos canais de navegação e o que tem de sedimento. A expectativa é que em junho seja possível fazer o diagnóstico de toda a hidrovia e acesso a Rio Grande e a partir disso implementar as dragagens necessárias.
Quanto à estimativa de tempo para o porto da Capital voltar a operar, Klinger adianta que dependerá da quantidade e da localização dos pontos assoreados. “Se for possível seguir com a navegação, nós vamos seguir já em junho mesmo. Agora, se aparecer na batimetria algum ponto que coloque em risco a atividade, teremos que reavaliar”, assinala o dirigente.
Uma das principais cargas que vão a Porto Alegre pela hidrovia são os fertilizantes. A alternativa que deverá ser adotada caso demore a volta da atividade portuária na Capital é deixar esses produtos no Porto do Rio Grande e depois transportá-los até o destino final, por exemplo, por caminhões.
Doações de campanha das autoridades portuárias começam a chegar
Assim como para o transporte de mercadorias, o porto rio-grandino também serve de ponto de apoio aos impactados pelas enchentes. O navio Bartolomeu Dias atracou no domingo (19) no complexo com as primeiras 59 toneladas de donativos resultantes da campanha realizada pela Portos RS em parceria com o Ministério de Portos e Aeroportos e demais autoridades portuárias brasileiras.
De lá, as doações foram transportadas até o cais público do Porto do Rio Grande, onde ficarão armazenadas para serem distribuídas à Defesa Civil, ao Exército Brasileiro e às instituições envolvidas na logística de atendimento às vítimas das enchentes. A carga total de donativos que será destinada ao Rio Grande do Sul é de cerca de 1.480 tonelada.