O Brasil passou por uma das maiores reformas da sua história com o Plano Real, durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Além de superar a hiperinflação, permitiu maior familiaridade com reformas. A avaliação foi do ex-presidente do banco Central, Gustavo Franco, na tarde desta quinta-feira, em Porto Alegre.
Franco, que participou de painel no Fórum da Liberdade, lembrou dos 30 anos do Plano Real, que deu início à reforma monetária e introdução da URV, passou por adaptações. “Foram muitos cortes e congelamentos antes de acertarmos”, disse, ao lembrar da pressão sofrida pelo Partido dos Trabalhadores, à época, contra as medidas. No entanto, todas foram mantidas, após a chegada do partido ao poder. “Nosso sistema foi robusto o suficiente para ouvirmos pela janela o caminhão de som com protestos e seguirmos firmes”, relatou. O país, no entanto, carece de várias outras reformas, na opinião do economista.
O ex-presidente dividiu o painel com Marcos Lisboa, diretor-presidente do Insper, uma instituição de ensino superior. Lisboa, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do governo Lula, discorreu sobre o tema "De crise em crise", sustentando que o Brasil teve anos bons e ruins, fazendo um comparativo com países emergentes. Enquanto estes tiveram, em 4 décadas, 3 anos de quedas, o Brasil registrou 14 anos de retração. " Celebramos a queda da pobreza, mas os emergentes fizeram muito mais que o Brasil no mesmo período. O problema é que, quando estamos em tempos ruins, veem intervenções nas empresas, insegurança jurídica para os negócios, políticas de incentivo a empresas ineficientes. É um estado capturado por um grupo de interesses", observou.
A economista Zeila Latif, que também participou do painel, salientou os avanços na política econômica. Discordando de Lisboa, comparou o Brasil com a Argentina, que não conseguiu chegar ao mesmo patamar. A economista, que teve passagens por grandes instituições financeiras, além da Secretaria de Desenvolvimento do estado de São Paulo, lembrou da característica patrimonialista do país, construída há séculos. De acordo com Zeila, o patrimonialismo gera injustiça. “A regulamentação das regras tributárias tem dono. Sempre há um grupo que se beneficia e reage no momento de reajustes”, apontou. Ainda assim, o país chegou a uma estabilidade, pontuou, com um quadro macro econômico mais previsível, o que teria sido fruto do impacto cumulativo das reformas há décadas. O que ainda falta, segundo ela, é um sistema. político que traduza os anseios sociais. “As várias bancadas no congresso representam grupos organizados”, denunciou a economista, para quem o país, com o equilíbrio econômico, pode abrir a agenda para novas pautas, como educação, segurança pública, segurança jurídica e Custo Brasil.