Quem passa hoje pela avenida Sete de Setembro, na altura do número 500, talvez não conheça o papel histórico daquele local na formação do empreendedorismo de Passo Fundo e de toda a região Norte do Rio Grande do Sul.
No início do século passado, ali funcionava um complexo de mercearias. A instalação de um moinho foi, à época, o marco do crescimento econômico.
Pois é nesse prédio emblemático que uma nova história começa a ser contada, agora, com a inauguração do Hub Aliança, uma iniciativa do Instituto Aliança Empresarial, liderado por empresários locais. Foram R$ 10 milhões investidos para a revitalização do antigo moinho para transformá-lo no hub de inovação, consolidando o local com um ponto de convergência para o ecossistema do Norte do Estado.
"O moinho mantém a conexão com a transformação que aconteceu na cidade. Além disso, como está no centro de Passo Fundo, traz o simbolismo de que qualquer pessoa pode ter acesso facilitado à inovação e dialogar sobre tirar boas ideias do papel e transformá-las em riqueza", comenta a diretora institucional do Instituto Aliança Empresarial, Márcia Capellari.
O espaço resgata a história por meio de uma transformação que vai muito além da arquitetônica, abarcando todo o entorno e revertendo o processo de degradação que se instalou com o tempo. Agora, é o moinho de ideias que fomenta a colaboração entre pessoas, conecta e gera inovação por meio dos negócios em todo o norte do Rio Grande do Sul.
"É uma iniciativa empreendedora que entrega resultados para toda região e que será parte de um novo momento para o Norte gaúcho", projeta Márcia.
A secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Simone Stülp, reforça a estratégia de fortalecer a dinâmica de interiorização da inovação, para que os resultados sejam cada vez mais efetivos. "Cada região tem suas características especificas. É importante que os atores locais tomem para si esse desafio de impulsionar o movimento da inovação nas suas áreas de visão de futuro", aponta.
Ela cita ainda a potência da região Norte. "Temos, historicamente, um setor produtivo pujante ligado à inovação do agronegócio e saúde, além de importantes instituições de ensino superior que geram cérebros qualificados. Só temos a comemorar os avanços estimulados por esse movimento a inovação em Passo Fundo, e que, agora, materializa no Hub Aliança toda essa potência", avalia.
A inovação no mundo todo está saindo um pouco só do ambiente das universidades e avançando para a lógica de disseminação pelas cidades. Prova disso é que existem muitos movimentos acontecendo, envolvendo as instituições de ensino, setor produtivo, empresas estabelecidas, startups, poder público e a sociedade civil organizada.
"Precisamos pensar o Estado como um todo e esses movimentos impulsionados pelas comunidades regionais são muito estratégicos para o futuro do Rio Grande do Sul", avalia Simone, citando a realização do projeto Rotas da Inovação, que leva as iniciativas da secretaria para diferentes regiões.
Ecossistema que incentiva a interação
Cerca de 300 pessoas circulam diariamente pelo Hub Aliança
hub aliança/Divulgação/jcO diretor-executivo do Instituto Aliança Empresarial, Diego Gazaro, conta que o Hub Aliança avaliou diferentes modelos para estruturar o seu próprio ecossistema. É o caso do movimento que impactou Medellín, na Colômbia. No Brasil, duas grandes referências estão bem próximas, dentro do próprio Estado: o Instituto Hélice, da Serra Gaúcha, e o Instituto Caldeira, de Porto Alegre.
"Todos os players da região já desenvolviam programas de inovação nesses espaços e, então, passamos a construir modelo de negócios de termos proximidade física para acelerar as interações e potencializar a inovação. É uma conexão desses modelos que foram sendo percebidos no Brasil e no mundo que a gente buscou trazer para a Aliança", destaca Gazaro.
Pelo espaço físico do Hub Aliança, circulam cerca de 300 pessoas por dia. "É um ambiente em que empresas, startups, pessoas e poder público podem interagir. A Secretaria de Inovação de Passo Fundo, inclusive, está aqui dentro", enfatiza Márcia.
O Instituto tem se envolvido em iniciativas importantes, como no apoio à gestão pública municipal na elaboração do projeto que resultou na Lei de Inovação de Passo Fundo. Para isso, contratou uma consultoria. O projeto está no segundo ano e os planos agora envolvem a criação de um fundo de investimentos.
Geografia não é mais impeditiva para gerar negócios
Capellari diz que cidades médias são ambientes fortes de desenvolvimento
/ANDRESSA PUFAL/JCCom todas as tecnologias e as facilidades de mobilidade do talentos no século XXI, não há mais geografia que, por si só, seja impeditiva de inovação e da criação de novos negócios, analisa o CEO da Atitus Educação, Eduardo Capellari.
"Claro que as grandes capitais do mundo são centros de atração de pessoas e negócios, mas é possível que cidades médias constituam um ambiente forte de desenvolvimento econômico, desde que isso também seja feito com a articulação com grandes movimentos que também acontecem nas capitais", comenta.
O desafio, segundo ele, é a criação de um tecido de desenvolvimento permanente em diferentes regiões. "Precisamos cada vez mais de iniciativas que ultrapassem os interesses imediatos das empresas e de uma construção estratégica de médio e longo prazo de competitividade econômica e social", observa.
Ao fazer uma análise da participação da Atitus nesse cenário, ele explica que a motivação sempre esteve no diagnóstico de que a economia gaúcha ainda é muito fundada em estruturas tradicionais.
Isso deve levar, necessariamente, a um processo de renovação e inovação, criando novas frentes de negócios, retendo e atraindo talentos. "Essa é a chave do nascimento da Atitus e do movimento que realizamos como parceiros na criação do Instituto Caldeira, na Capital, e liderarmos com outras empresas a criação da Aliança Empresarial, em Passo Fundo", conclui.
Instituto Aliança Empresarial
Founders:
Atitus Educação, Be8, Coprel, Cotrijal, Farmácias São João, Hospital Ortopédico, Metasa e Oniz Distribuidora.
Partners:
Aport Empresarial, De Carli, Guedes Advocacia, Incoben Construtora, Planacon, Senai, Sicredi, Una Construtora, Grupo Vidalar, Roque Advogados e Totvs.
Investidores (Siloinvest):
Atitus Educação, Coprel, Cotrijal, ECB Group, Farmácias São João, JL Participações, JR Comércio de Cimento, Metasa e Una Construtora.
Medellín: revitalização movida à inovação
Segunda maior cidade da Colômbia, Medellín deixou de ser um lugar associado à criminalidade para se tornar referência mundial em inovação. A partir da interação entre poder público, iniciativa privada e organizações da sociedade civil (sobretudo na área da educação), iniciativas criativas e tecnológicas foram adotadas para melhorar a qualidade de vida e promover a inclusão social.
Anos 1980 e 1990
Medellín passou por um período turbulento nas décadas de 1980 e 1990, enfrentando desafios significativos relacionados à violência, criminalidade e desigualdade social.
Urbanismo social
Nos primeiros anos do século 21, uma série de iniciativas inovadoras foram implementadas para enfrentar os problemas urbanos. Uma das mudanças foi a criação do "Metrocable", em 2004, um sistema de teleféricos que conectava as áreas montanhosas da cidade, anteriormente isoladas, ao sistema de transporte público.
Outra iniciativa foi a inauguração do "Parque Biblioteca Espanha", em 2007, que se tornou um ícone arquitetônico e cultural. No ano seguinte, foi aberto o "Parque Explora", um museu interativo de ciências, que estimula o aprendizado e a interação. Além disso, projetos como os corredores verdes da cidade buscaram equilibrar o crescimento urbano com a sustentabilidade ambiental.
Cidade mais inovadora do mundo
Em 2013, Medellín recebeu o título de "Cidade Mais Inovadora" pela concedido pela organização internacional Urban Land Institute.
Movimento estimula uma nova cultura empresarial
Stefanello reforça cultura da inovação
/Coprel/Divulgação/JCAs primeiras articulações que deram origem ao Instituto Aliança Empresarial foram iniciadas em 2019, com oito empresas fundadoras: Atitus Educação, Be8, Coprel, Cotrijal, Farmácias São João, Hospital Ortopédico, Metasa, Oniz Distribuidora.
Inicialmente, o grupo interagia de forma virtual, ainda no contexto da pandemia, ou em espaços de parceiros, como a Atitus Educação e o Sicredi.
Com o tempo, outras organizações começaram a se associar como partners.
"Se juntarmos todas as empresas que constituem o nosso ecossistema temos um faturamento de mais de R$ 33 bilhões e mais de 30 mil empregos, uma representatividade bastante grande", reforça o diretor-executivo do Instituto Aliança Empresarial, Diego Gazaro.
O movimento, que nasceu de forma espontânea, estruturou um ecossistema que, hoje, abrange mais de 20 empresas, entre fundadores, parceiros e investidores. Com um espaço físico próprio, a ideia é fortalecer ainda mais as conexões entre todos os agentes para que todos possam se beneficiar do ambiente aberto à inovação.
A atmosfera criada em torno do tema já está impactando a realidade das empresas, em aspectos como a cultura. É o caso da cooperativa de energia Coprel, onde a inovação está sendo trabalhada de forma descentralizada, com ações em todas as áreas da empresa e não em um único departamento.
"Estamos muito focados em trabalhar mais a cultura de inovação dentro da empresa", comenta Mateus Stefanello, facilitador de negócios e inovação da Coprel. "Além disso, a cooperativa quer fortalecer a interação com outros agentes do ecossistema. Com sede em Ibirubá, a cerca de 100 km de Passo Fundo, a Coprel já definiu que vai alocar pessoal no Hub Aliança. "Um dos nossos objetivos é criar uma aproximação com as universidades de Passo Fundo para que a gente consiga ter um vínculo e, inicialmente, já buscar alunos que possam contribuir para a Coprel logo na faculdade."
Para Stefanello, o investimento em inovação é um fator decisivo para o desenvolvimento do ambiente de negócios na região.
Universidade tem papel decisivo na formação de talentos
UPF Parque Tecnológico - Passo Fundo
/UPF/Divulgação/JCPara ser capaz de criar o novo, as empresas precisam de pessoas qualificadas. E, em Passo Fundo, um dos elos estratégicos para isso tem sido as instituições de ensino. Por um lado, a Atitus Educação foi a grande indutora do movimento da Instituto Aliança Empresarial, que reuniu empresários para acelerar programas de inovação e a colaboração entre startups e grandes empresas, além da aproximação com investimentos e parcerias estratégicas.
Por outro, a Universidade de Passo Fundo (UPF) tem um histórico de desenvolvimento de pesquisa e conhecimento.
"Tivemos o berço do desenvolvimento da tecnologia e inovação na cidade com a formação de pessoas, a produção de conhecimento e a realização de pesquisas com melhoramento genético, que foram trazendo elementos novos para essas cadeias produtivas", analisa a reitora da UPF, Bernadete Dalmolin.
Em outubro de 2023, foram celebrados os 10 anos do UPF Parque, o único científico e tecnológico da Região Norte. Com uma infraestrutura com mais de 4.000m² de área construída, oferece salas para empresas, além de espaços para reuniões, serviços de laboratórios, infraestrutura administrativa e o Espaço Collab.
A Arena UPF Parque é dedicada à inovação aberta e criada para conectar diferentes atores da comunidade, incluindo empresários, instituições públicas e privadas, associações, professores, alunos, funcionários e setores institucionais. Outra iniciativa é a Incubadora Programa Apollo, que oferece suporte e acompanhamento para startups, desde a concepção da ideia até o modelo de negócio para o mercado.
UPF Parque
Infraestrutura com mais de 4.000m² de área construída
30 empresas vinculadas ao ecossistema
22 residentes, sendo 16 âncoras e seis startups
14 empresas
associadas
3 incubadas online
53 postos de trabalho diretos no parque
3 missões empresariais
Prêmio Anprotec na categoria "Relato de boas práticas em empresas e ambientes de inovação"