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PIB do Brasil fecha 2023 com alta de 2,9%, mas fica estagnado no segundo semestre
Apesar da perda de força na segunda metade de 2023, o PIB fechou o ano passado com um resultado superior (2,9%) ao projetado inicialmente por analistas
Por Folhapress
Sob influência do recorde da agropecuária, a economia brasileira fechou o ano de 2023, o primeiro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com crescimento acumulado de 2,9%.
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Sob influência do recorde da agropecuária, a economia brasileira fechou o ano de 2023, o primeiro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com crescimento acumulado de 2,9%.
É o que apontam dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta sexta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado ficou levemente abaixo da variação de 2022 (3%) e da mediana das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 3% para 2023.
Os dados do IBGE também mostram uma desaceleração da atividade econômica no segundo semestre, após o impulso da agropecuária, mais concentrado nas safras do início de ano.
Considerando somente o quarto trimestre de 2023, o PIB ficou estagnado (0%) em relação aos três meses imediatamente anteriores. A expectativa de analistas era de variação de 0,1%, segundo a mediana da Bloomberg.
O PIB também ficou estagnado no terceiro trimestre de 2023, na comparação com os três meses imediatamente anteriores. O IBGE revisou o desempenho desse período de 0,1% para 0%.
Os dois intervalos de variação nula (0%) vieram após altas de 0,8% no segundo trimestre e de 1,3% no primeiro.
Apesar da perda de força na segunda metade de 2023, o PIB fechou o ano passado com um resultado superior (2,9%) ao projetado inicialmente por analistas.
Ao final de 2022, o mercado financeiro esperava um crescimento de apenas 0,8% para o acumulado de 2023, conforme a mediana do boletim Focus, divulgado pelo BC (Banco Central). As previsões subiram com o passar dos meses.
"As commodities deram o tom do crescimento em 2023", diz a economista Juliana Trece, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), em referência ao desempenho positivo da agropecuária (15,1%) e da indústria extrativa (8,7%).
"A economia cresceu bastante, mais do que o esperado no início do ano passado. É um bom resultado, mas que ainda tem pontos de alerta", pondera.
Os pontos de alerta, segundo a pesquisadora, estão associados ao desempenho negativo em 2023 de componentes do PIB como indústria de transformação (-1,3%), construção (-0,5%) e investimentos produtivos na economia (-3).
O trio sentiu os efeitos dos juros elevados no ano passado, mas o recente ciclo de queda da taxa Selic pode trazer estímulos em 2024, de acordo com analistas.
Agro dá impulso no ano
Ao subir 15,1% em 2023, a agropecuária registrou sua maior variação em um ano fechado na série histórica do IBGE, iniciada em 1996.
Puxado por culturas como soja e milho, o setor foi responsável diretamente por cerca de um terço do avanço do PIB no ano passado.
"A agropecuária teve papel fundamental na economia brasileira", afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Os serviços (2,4%) e a indústria (1,6%) também avançaram no período. No caso da indústria, o instituto destacou a influência positiva do setor extrativo.
Essa atividade teve alta de 8,7% no ano, devido ao aumento da extração de petróleo, gás natural e minério de ferro. A agropecuária e o setor extrativo têm grande impacto do mercado externo.
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Ainda na indústria, o segmento de transformação e a construção patinaram em meio ao cenário de juros elevados. As atividades recuaram 1,3% e 0,5%, respectivamente.
Consumo avança com emprego aquecido e transferências
Pela ótica da demanda no PIB, o IBGE destacou o comportamento do consumo das famílias, que avançou 3,1% em 2023. A alta havia sido de 4,1% em 2022.
Palis disse que o crescimento do consumo no ano passado teve influência da melhora do mercado de trabalho, com aumento da ocupação e da massa salarial, além da trégua da inflação.
"Os programas de transferência de renda do governo colaboraram de maneira importante no crescimento do consumo das famílias, especialmente em alimentação e produtos essenciais não duráveis", acrescentou a pesquisadora do IBGE.
O patamar elevado dos juros, por outro lado, representou um entrave para um avanço maior desse componente. O ciclo de cortes da taxa básica, a Selic, só teve início em agosto.
Outro componente que costuma sentir o impacto dos juros é o dos investimentos produtivos na economia, medidos pelo indicador de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo). Em 2023, esses aportes tiveram queda de 3% no PIB.
Perda de ritmo ao longo de 2023
No quarto trimestre de 2023, a estagnação do PIB (0%) veio acompanhada por avanços de 1,3% na indústria e de 0,3% no setor de serviços.
A agropecuária, por outro lado, caiu 5,3%. O IBGE ponderou que safras importantes, como as de soja e milho, estão concentradas no primeiro semestre, o que ajuda a explicar o resultado negativo.
O consumo das famílias perdeu fôlego no quarto trimestre. O componente recuou 0,2%, após alta de 0,9% nos três meses anteriores.
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Já os investimentos produtivos na economia avançaram 0,9% no quarto trimestre. O aumento veio após uma queda de 2,2% no período anterior.
Economistas esperam alta perto de 2% em 2024
Para o PIB de 2024, a expectativa, por ora, é de desaceleração. Analistas do mercado projetam um avanço de 1,75%, segundo a mediana da edição mais recente do Focus, publicada na terça (27) pelo BC.
As estimativas, contudo, vêm subindo. Ao final de 2023, por exemplo, o mercado esperava um crescimento de 1,52% para o PIB de 2024.
Neste ano, a atividade econômica não deve contar com o mesmo impulso da agropecuária, já que fenômenos climáticos extremos jogam contra a produção no campo.
Sob influência do El Niño, o Brasil viveu episódios como ondas de calor, seca e tempestades em regiões produtoras nos últimos meses.
Os juros, por outro lado, estão em ciclo de queda. O corte é visto como possível estímulo para o consumo e para os investimentos em 2024.
"Temos um cenário um pouco mais positivo para os investimentos", diz a economista Natália Cotarelli, do Itaú Unibanco.
"Esperamos crescimento para os investimentos, muito ligado à construção melhor e à indústria de transformação", completa.
Por ora, o Itaú prevê PIB de 1,8% neste ano. O viés é de alta na estimativa, de acordo com Cotarelli.
"Apesar da desaceleração no segundo semestre de 2023, acreditamos que a economia voltará a crescer em 2024", projeta a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.
"A Selic em trajetória de queda, a manutenção do mercado de trabalho aquecido e os estímulos fiscais por parte do governo federal devem ser os principais responsáveis pelo crescimento", completou.
Segundo ela, o C6 deve elevar sua previsão para o PIB de 2024, saindo de 1,5% para "algo próximo de 2%".
Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo, vai na mesma linha. De acordo com ele, a economia será beneficiada neste ano pelos efeitos do corte de juros e pela resiliência do mercado de trabalho.
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Isso, diz, beneficiará setores voltados para a demanda doméstica, como consumo, construção civil, serviços ligados às famílias, educação e investimentos. A Monte Bravo espera crescimento de 2% para o PIB.