*especial para o JC
Competir com o mercado siderúrgico asiático tem sido um dos maiores desafios para a indústria nacional do aço. Com impostos locais de importação que não chegam a 15%, diante dos 25% praticados por outros países, as indústrias, sobretudo as de máquinas agrícolas, estão perdendo um importante espaço para a produção estrangeira. A pauta, que não é nova, será levada pela Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS) para o governo federal, de acordo com decisão de diretoria tomada em reunião na manhã desta quinta-feira (21).
Neste ano, as importações brasileiras do aço produzido na China cresceram 50% e, de acordo com projeções do setor, até o final de 2024 podem subir mais 20%. Para reverter o quadro, valorizando o produto local, os dirigentes entendem que é urgente que sejam tomadas medidas protetivas. “O ano passado foi um ano de equilíbrio, a economia está andando. Mas é grande a dificuldade na competição com a China, em função dos preços. É um descalabro”, comentou o presidente da AARS, José Antonio Martins. O presidente destaca ainda que os impostos de importação para outros setores, como a indústria automobilística, foram majorados para 34%.
A China é hoje o maior exportador de aço, com 1 bilhão de toneladas/ano. Ainda que tenha havido uma pequena queda em todo o mundo de 0,1% de 2023 em relação a 2022, os chineses mantêm a liderança. Em segundo lugar aparece a Índia, com 140 milhões toneladas/ano e meta de chegar a R$ 300 milhões. A maior presença desses players diminuem o consumo interno, que hoje é de 100 quiilos por habitante ao ano.
“Estamos perdendo um importante espaço de consumo, mas acreditamos que o governo federal vai promover medidas favoráveis ao mercado interno”, avaliou o vice-presidente Comercial da ArcelorMittal, Eduardo Zanotti. A empresa está entre as gigantes do setor, junto com Usiminas, CSN e Gerdau.
Zanotti defende maiores subsídios estatais ao setor, como acontece no país asiático, onde, mesmo com retração do mercado da construção civil, permanece com o direcionamento de 40% de sua produção para o segmento. “O Brasil tem produção de aumento do PIB, diminuição da Selic e boas perspectivas pra setores agrícola, de ônibus e semirreboques. Na produção de aço, em breve, será mais vantajoso parar. É o momento de estabelecer ações contra ações predatórias”, defendeu Zanotti.
Ele observa ainda que toda a América Latina é grande alvo da China para exportações, mas em especial o Brasil, em função do crescimento da economia. “Mas vamos continuar investindo aqui. Acreditamos em uma reversão”, disse Zanotti, ao lembrar dos mais de R$ 1,9 bilhão investidos em programas ambientais, preocupação que não existe na China.
O executivo participou nesta quinta-feira da reunião-almoço da Associação do Aço do Rio Grande do Sul. No encontro, na sede da AARS, também houve o lançamento da revista Panorama do Aço 2024, publicação anual da entidade.