Com a meta de ser a primeira biorrefinaria do Brasil, a Refinaria de Petróleo Riograndense (ex-Ipiranga) vem progredindo em suas experiências com os produtos renováveis e gerou recentemente um lote piloto de 140 toneladas de bioGLP, que foi vendido para a Ultragaz. A perspectiva do complexo de Rio Grande é que a partir do primeiro trimestre do próximo ano seja possível começar a operação comercial desse produto e de combustíveis marítimos, propeno e bioaromáticos (benzeno, tolueno e xileno, usados nas indústrias da borracha sintética, nylon e PVC) feitos de fontes não fósseis.
O diretor-superintendente da Refinaria de Petróleo Riograndense, Felipe Jorge, adianta que a estimativa é de uma produção de 150 mil a 180 mil toneladas ao ano desse conjunto de itens renováveis (o que equivaleria a cerca de 15% da capacidade de processamento da refinaria). A carga de teste de bioGLP, entregue em janeiro, totalizou um volume de 140 toneladas.
A matéria-prima utilizada nessa operação foi o óleo de soja. Jorge destaca que o óleo de soja já possui uma cadeia madura, sendo amplamente produzido no Brasil. Contudo, a refinaria tem capacidade tecnológica para atuar com outras matérias-primas como, por exemplo, sebo bovino e canola.
“Esse movimento (com a Ultragaz) completa essa jornada da refinaria, porque o desenvolvimento de um novo mercado passa pela comercialização dos produtos”, enfatiza o executivo. O diretor-superintendente da Refinaria de Petróleo Riograndense argumenta que a medida servirá para compreender o potencial do bioGLP.
Nesse momento inicial, ele adianta que o consumidor desse combustível deverá ser do segmento industrial. O dirigente detalha que a ideia é focar em clientes que possuem metas de reduções de emissões de gases que provocam o efeito estufa e que buscam ações de transição energética. O bioGLP pode atingir entre 70% e 80% de redução das emissões de carbono, quando comparado com outros combustíveis fósseis. Jorge acrescenta que a expectativa é que o bioGLP possa ser comercializado como um produto de maior valor agregado em relação ao seu similar fóssil, já que possui o diferencial de representar um menor impacto ambiental.
Conforme o executivo, a Refinaria de Petróleo Riograndense ainda realizará um novo teste de processamento de insumos renováveis neste ano, provavelmente entre outubro e novembro. Na ocasião, será produzida mais uma quantidade de bioGLP. Inicialmente, esse segundo teste estava previsto para ocorrer em meados deste ano, no entanto devido a questões de equipamentos e de mercado a ação foi postergada.
O termo de cooperação assinado com a Petrobras (uma das sócias da refinaria gaúcha, juntamente com Braskem e Ultrapar) para o desenvolvimento da tecnologia de produtos renováveis soma o montante de R$ 63 milhões, sendo R$ 45 milhões oriundos da estatal e R$ 18 milhões da própria Refinaria de Petróleo Riograndense. Mesmo com o avanço nesse campo, Jorge ressalta que isso não significará a conversão completa do complexo para biorrefinaria, que continuará gerando também, no próximo ano, combustíveis fósseis. Mas, existe a avaliação da possibilidade da atuação com apenas produtos renováveis, em um futuro mais distante.
“A Riograndense enxerga que tem potencial para ser a primeira refinaria do País a abandonar o petróleo, no médio prazo”, projeta Jorge. Ele considera que uma ação como essa, se os estudos apontarem viabilidade, seria possível por volta de 2028. “O fato é que a gente tem pressa, nós queremos, comercialmente, ser parte da vanguarda desse tema no País”, assinala o executivo.
Além das oportunidades com os produtos renováveis já mapeados, a refinaria rio-grandina analisa a viabilidade do investimento na implantação de uma unidade de Combustível de Aviação Sustentável (no inglês, SAF - Sustainable Aviation Fuel). Esse assunto está sendo discutido com os acionistas da empresa. O aporte estimado para concretizar o projeto é de aproximadamente US$ 750 milhões. Com o empreendimento sendo aprovado, também será possível produzir uma parcela de diesel renovável.