Uma questão que promete muito debate e é sugerida por várias concessionárias do setor elétrico, como é o caso da gaúcha RGE, é a discussão da arborização das cidades para que, em casos como o do recente temporal que assolou o Rio Grande do Sul, seja possível uma retomada mais ágil da energia para os clientes que ficam sem luz. O diretor-presidente da RGE, Marco Antônio Villela de Abreu, enfatiza que é preciso tratar com a sociedade que tipos de árvores e os locais que elas serão plantadas para não afetar a rede elétrica. A distribuidora chegou a ter mais de 714 mil unidades consumidoras sem energia por causa do temporal de terça-feira (16) e ainda trabalha para a normalização de todos os seus usuários - no começo da tarde de quinta-feira (18) eram 248 mil clientes sem luz e a situação deve ser estabilizada, com algumas exceções, no final de semana.
Jornal do Comércio (JC) - Quais as razões que impedem uma retomada mais célere do fornecimento de energia em casos de temporais?
Jornal do Comércio (JC) - Quais as razões que impedem uma retomada mais célere do fornecimento de energia em casos de temporais?
Marco Antônio Villela de Abreu - O nosso anseio é restabelecer (a luz) o mais rápido possível, mas nós temos que esperar prefeitura, defesa civil, corpo de bombeiros. Imagina retirar uma árvore? A gente viu até o prefeito de Porto Alegre (Sebastião Melo) pedindo para a população motosserra. Retirar uma árvore de grande porte às vezes demora um dia inteiro e daí que o nosso caminhão vai passar, acessar o que precisa ser trocado e trocar. Eu estava vindo de Canoas e vi uma árvore de grande porte que derrubou três postes.
JC - Não há tecnologia para atenuar esses reflexos?
JC - Não há tecnologia para atenuar esses reflexos?
Abreu - Antigamente caia galhos (sobre a rede elétrica) e por isso mudamos a tecnologia de construção e colocamos redes compactas que suportam os galhos. Mas, a rede compacta não aguenta árvores maiores. Rede de concreto, sem árvore, não desliga. Esse é o tema para debate. Hoje, na nossa rede só 18% dos postes são de madeira e estamos avançando na substituição. O Grupo CPFL (controlador da RGE) tem várias premiações de empresa verde, sustentável, mas a vegetação urbana a gente realmente tem que tratar há várias mãos, porque quando cai é um dano enorme para a sociedade como um todo.
JC - Há algum tipo de vegetação que seja mais propícia para conviver com a rede elétrica?
JC - Há algum tipo de vegetação que seja mais propícia para conviver com a rede elétrica?
Abreu - O ideal é que nenhuma árvore seja plantada embaixo da rede elétrica. Também há espécies que não crescem tanto, de dois a três metros, o que não interferiria em nada com a rede. Então, temos sim espécies adequadas que, se plantadas em um programa de manejo correto, a comunidade irá ficar com energia direto.
JC - Em quais municípios atendidos pela RGE o temporal causou os maiores danos?
Abreu - Os grandes estragos começaram em Santa Maria. Lá metade da cidade ficou desligada. E depois veio varrendo pelo Vale do Rio Pardo, Vale do Taquari e atingiu Canoas, Gravataí, Cachoeirinha e Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana.
JC - A RGE cumpriu sua meta em 2023 e teve seus indicadores Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC) e Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC) abaixo dos limites regulatórios da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Mesmo com as dificuldades climáticas desse começo de ano, será possível manter o desempenho?
JC - A RGE cumpriu sua meta em 2023 e teve seus indicadores Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC) e Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC) abaixo dos limites regulatórios da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Mesmo com as dificuldades climáticas desse começo de ano, será possível manter o desempenho?
Abreu - A perspectiva é manter a redução do DEC e do FEC ao longo do tempo. Mas, não é do dia para noite que se consegue isso. A gente sofreu muitos anos para chegar ao patamar que chegamos hoje. Então, é investimento em robustez de rede, em automação, em sistema de operação e despacho e em logística adequada. Essa equação nos dá segurança que vamos continuar com esses indicadores.
Super El Niño representa desafio para o fornecimento elétrico
Concessionária mobilizou no último temporal 5,5 mil trabalhadores
RGE/Divulgação/JCConforme o gerente de serviços comerciais da RGE, Fabio Calvo, o fenômeno Super El Niño (aquecimento em águas do Pacífico que causa mudanças atmosféricas em diversas regiões do planeta) iniciou no segundo semestre do ano passado e a perspectiva é de se estender até março ou abril de 2024. Essa situação, reforça ele, faz com que as distribuidoras de energia enfrentem eventos climáticos mais graves e frequentes.
“A gente costuma dizer que temos dois tipos de temporais, um de vento e outro de raios. O Super El Niño tem trazido no mesmo evento as duas situações”, aponta o integrante da RGE. Ele comenta que o temporal de terça-feira alcançou a Região Metropolitana de Porto Alegre com ventos na ordem de 130 quilômetros por hora. Calvo detalha que, normalmente, os ventos começavam fortes na Fronteira Oeste gaúcha e arrefeciam para o centro do Estado e isso não tem ocorrido mais.
Sobre os raios, ele cita que, comparando o ano de 2021 com 2023, a incidência dessas descargas no Rio Grande do Sul mais que dobrou, passando de cerca de 900 mil para em torno de 2,5 milhões. Calvo afirma que a RGE vinha se preparando para a questão do Super El Niño há pelo menos dois anos, fazendo aportes na rede elétrica e incrementando o quadro operacional.
A companhia aumentou em cerca de 1 mil eletricistas seu grupo de trabalho nos últimos dois anos. O gerente de serviços comerciais da distribuidora ressalta também que a empresa, no ano passado, investiu cerca de R$ 1,5 bilhão na sua rede elétrica. “Isso é 36% a mais do que a média dos últimos cinco anos”, frisa o dirigente. Entre 2024 e 2028, Calvo adianta que a previsão é de um investimento de aproximadamente R$ 9,3 bilhões.
Porém, o executivo também considera que a maior discussão que precisa ser feita para melhorar as condições de enfrentamento dos impactos das tempestades no atendimento elétrico é em relação à vegetação. Ele enfatiza que não se trata de não ter árvores, mas que é preciso pensar melhor que tipo de vegetação deve haver nas cidades e como afastá-la da rede elétrica. Sobre a possibilidade de trocar as linhas de energia aéreas por subterrâneas, Calvo cita que o custo dessa alternativa é cerca de dez vezes mais caro do que a convencional, o que teria um enorme impacto na tarifa.
Nesse temporal mais recente, o pico das ocorrências de queda de luz na área de concessão da RGE ocorreu na virada de terça para quarta-feira (17), com 714 mil clientes atingidos. No começo da tarde desta quinta-feira (18) eram 248 mil consumidores ainda sem energia. A mobilização da RGE envolveu uma força de trabalho de 5,5 mil pessoas, entre equipes de primeiro atendimento e de manutenção pesada. Calvo acrescenta que a perspectiva é que os grandes blocos de clientes estejam regularizados até domingo (21). Contudo, o dirigente admite que em áreas mais afastadas pode levar mais tempo para o restabelecimento.