Investigando a área de energia eólica desde a década de 1970, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) participa agora do desbravamento de uma nova fronteira nesse campo: a geração offshore (no oceano). Através do Núcleo de Integração de Estudos, Pesquisa e Inovação em Energia Eólica (Niepiee), a instituição gaúcha está envolvida no projeto de medição e análise dos ventos para esse tipo de atividade em área do pré-sal no Campo de Búzios, na Bacia de Santos, litoral fluminense. A coleta de dados iniciou no final do ano passado e irá prosseguir até dezembro de 2026.
A iniciativa foi demandada pelo Consórcio de Libra que é operado pela Petrobras em parceria com a Shell Brasil, Total Energies, CNPC, CNOOC e Pré-Sal Petróleo S.A. – PPSA. Batizado de Projeto Ventos de Libra, o trabalho prevê um investimento de R$ 8 milhões que abrange a realização de estudos e de metodologias de análise de ventos e avaliação técnica de instalações eólicas na região.
A professora do departamento de Engenharia Mecânica da Ufrgs e coordenadora do Niepiee, Adriane Prisco Petry, salienta que a primeira etapa para implementar uma usina eólica é a medição de vento. Ela destaca que a prática do aproveitamento eólico onshore (em terra) já é amplamente conhecida no Brasil, mas quanto ao offshore há questões ainda em discussão entre os pesquisadores como qual a melhor forma de fazer as medições. “Um grande desafio que a gente tem na região do pré-sal é que o sensor fica instalado em um navio-plataforma (P-75), que está em movimento, então a base do sensor está em movimento”, comenta a professora. Essa oscilação aumenta a incerteza sobre as medições realizadas.
Adriane revela que, com o Laboratório de Mecatrônica e Controle (Lamecc) da Ufrgs, está sendo desenvolvido um sistema robótico para atenuar os movimentos na base do sensor e melhorar a qualidade dos dados obtidos nessa situação adversa. A professora assinala que participam do trabalho um grupo de pesquisa multidisciplinar, assim serão abordados diversos temas, além da medição e análise de ventos, como meteorologia, meio ambiente, engenharia civil e elétrica.
São 14 laboratórios e grupos de estudo integrados a essa ação e, com a Ufrgs, também há a participação da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). São mais de 50 pesquisadores envolvidos na iniciativa. “Realmente é um time, um projeto dessa natureza, com essa profundidade científica, não seria possível fazer sozinho”, frisa a coordenadora do Niepiee.
Neste ano ainda, levantamento semelhante ao que está sendo feito no Campo de Búzios será realizado no de Mero (também localizado no pré-sal). De acordo com Adriane, o que será desenvolvido em termos de metodologia e de aprimoramentos de modelos na pesquisa feita no pré-sal poderá ser aplicado futuramente na Bacia de Pelotas (área que compreende toda a costa gaúcha) em uma eventual geração eólica offshore no litoral do Rio Grande do Sul.
A Petrobras, inclusive, possui tramitando no Ibama o processo de licenciamento ambiental para implementar uma usina dessa natureza na região (em linha reta ao município de Mostardas). Esse empreendimento prevê uma potência instalada de 3,5 mil MW (quase o dobro da capacidade onshore no Estado hoje) e absorveria um investimento estimado atualmente em cerca de R$ 35 bilhões.