*especial para o JC
A alta na Bolsa de Valores registrada no final do ano que passou pode ser repetida neste 2024 ou chegar bem perto, caso não haja imprevistos, dizem especialistas. Após um primeiro semestre de desequilíbrio, dezembro teve quatro fechamentos consecutivos em máximas históricas. O Ibovespa, referência da B3, fechou em 22,28%, seu melhor desempenho desde 2019, graças a fatores internos e externos.
O mercado, sempre movido por expectativas, reagiu positivamente ao compromisso do governo federal com as contas públicas e o início do ciclo de corte de juros, segundo avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do RS (Ibef-RS), Odivan Cargnin. O clima de confiança, aliado ao anúncio do Federal Reserve (FED), dos EUA, sobre a possibilidade de corte de juros poderão ser aliados para o comportamento positivo. No entanto, ainda é preciso consolidar o resultado das empresas, segundo o dirigente, e também o ciclo de queda de juros. O mercado estima que o ano termine com a Selic na casa dos 9%. “Os juros determinam o preço dos ativos mundo a fora. Ciclos de queda de juros geram riqueza. E o Brasil está adiantado nessa onda”, observa.
O controle da inflação e o posicionamento do Brasil no exterior também podem contribuir para atração de investidores externos. Diretor de Administração e Finanças e de Relações e Investidores da Irani Papel e Embalagem, Cargnin aponta o fator de diversidade, ou seja, caso um setor não vá bem, outro, mais pujante, dará estabilidade.
Performance anual da B3 nos últimos 5 anos. ARTE/JC
O assessor de Investimentos Jefferson Correa, da Moinhos Investimento, acredita que os fatores internos, como inflação mais baixa e redução de juros, junto com o cenário internacional e com recursos externos que entraram no País, serão impulsionadores de um bom ano. A melhoria nos ratings de empresas de crédito, como Standard & Poor's, Fitch e Moody´s, também colaboraram com o cenário. Entretanto, pondera Correa, não há fórmula mágica para que o desempenho se repita no próximo ano. "É muito difícil fazer alguma previsão porque ainda existem batalhas do ponto de vista econômico. Se, por exemplo, houver um equívoco nos EUA, com uma queda de juros mais abrupta do que a necessária, poderá haver um descompasso no mercado global”, alerta.
Para o investidores, Correa aconselha sempre a diversificação. Se o cenário de renda variável não for de acordo com as previsões, é possível ganhar dentro das outras classes de ativos, como IPCA e CDI. Se for renda variável, a dica é sempre olhar para empresas que já são vencedoras. Na renda fixa, com a queda da Selic, o CDI deixou de ser um ativo ruim, e deve neste ano entregar acima de 2 dígitos. “A diversificação protege”, aconselha.
Na avaliação do CEO Inácio Recena, da Capse, empresa de assessoria de investimentos ligada à XP, os investidores deverão ter alguns pontos de atenção, sobretudo pela lição que trouxe 2023. O ano começou com um alto nível de incertezas e com acontecimentos, como o ocorrido com as Lojas Americanas, que afetou o setor de crédito. As incertezas perduram, com altos e baixos, até o final do ano, com um sopro de otimismo a partir da manifestação do FED, em fevereiro.
No setor há quase 16 anos, Recena observa que a queda de juros é um direcionador importante para as empresas, que terão a possibilidade de reduzirem seus endividamentos, e, a partir daí, os agentes de mercado precificando esse movimento e adquirindo mais ações. Indicadores econômicos, convergindo para a meta, deverão sustentar a evolução dos preços de ativos na Bolsa, acredita o CEO. “Há também uma expectativa do retorno de fluxos de investidores institucionais que ficaram afastados da Bolsa no ano que passou. Mas não podemos deixar de fora o risco da desaceleração da economia dos Estados Unidos, que pode acontecer e impactar as economias emergentes”, diz, Recene, ao lembrar que, a partir de março haverá uma dependência muito grande de dados econômicos dos EUA.
Os setores que devem ficar na mira dos investidores, para o representante da Capse, são aqueles em que os preços dos ativos ainda não acompanharam a média que se espera em um ciclo de redução de taxa de juros. O de bens de capital, do agro e de alimentos e bebidas ainda estão abaixo da média. "Meu conselho é ter o auxílio de um analista porque só a partir de março teremos alguma estabilidade de dados. Ainda não dá para apostar em grandes altas para a Bolsa porque ela depende de muitos fatores”, alerta.
Bolsa já esteve no vermelho e chegou a 31,58% de alta nos últimos cinco anos
O principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou o ano com alta de mais de 22%. Entretanto, não alcançou a performance de 2019, quando registrou alta acumulada de 31,58%, chegando aos 134.209 pontos, a maior em termos nominais (descontada a inflação) na história do indicador.
Naquele ano, analistas de mercado, ao avaliarem os cenários local e externo, indicaram o atrativo do mercado de ações pelos sucessivos cortes na taxa básica de juros (Selic). Outros fatores colaboraram, como juros baixos no exterior e um clima positivo nos mercados mundiais. O resultado da Bolsa em 2019 ocorreu após a queda de mais de 13% em 2015, quando o país afundava em uma recessão, indicando uma recuperação econômica do país.
Em 2020, a Bolsa fechou com um ganho de 3%, bem menor do que em 2019, em função da pandemia pelo vírus da Covid-19. Com vários recuos durante o ano - em março foi preciso acionar o circuit breaker seis vezes -, a B3, no último pregão do ano, subiu em função dos anúncios sobre as vacinas contra a Covid-19.
No ano de 2021, o Ibovespa encerrou de maneira bem diferente de 2020. No último pregão do ano, fechou em queda de 0,65%, aos 104.864 pontos, mas acumulou alta de 2,85% em dezembro e encerrou cinco meses seguidos de queda. No ano, porém, o tombo foi de 11,93%. Na contramão das principais bolsas internacionais, a brasileira se ressentiu com a piora nas expectativas para a economia brasileira, disparada da inflação e, por consequência, alta da Selic, O drible do governo federal ao teto de gastos através da PEC dos Precatórios também teve sua dose de contribuição.
Já em 2022, houve uma recuperação, com o Ibovespa terminando com alta de 4,69%. Na avaliação dos especialistas, o ano foi marcado positivamente pelas eleições presidenciais do Brasil. A Guerra na Ucrânia, por sua vez, impactou a economia mundial, mexendo com o ânimos dos investidores. Em março deste ano, o FED aumentou as taxas de juros, o que não acontecia desde 2018. Os impactos foram diretos na Bolsa brasileira. Mais, uma vez, os investidores tiraram recursos de países em desenvolvimento para aplicar nos países mais seguros.