Em entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (6), o presidente da Federação Varejista do Rio Grande do Sul, Ivonei Pioner, apontou uma projeção de crescimento de até 3% no setor de comércio e serviços do Estado em 2024, apesar das dificuldades da economia enfrentadas em 2023, principalmente em decorrência de eventos climáticos. No Brasil, o patamar de crescimento real pode alcançar 2%.
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A projeção da entidade, segundo Pioner, é mais otimista que a previsão do boletim Focus, do Banco Central, que aponta um crescimento de 1,8% para comércio e serviços no Brasil, taxa que ele considera “comedida”. “Acreditamos que será melhor porque o empreendedor brasileiro é um gigante”, pontuou. Segundo a projeção Focus, ainda, o crescimento da indústria brasileira deve ser de 1,4% e, da agropecuária, de 1,3%.
Os dados apontaram em 2023 uma melhoria do quadro econômico no Estado, que ainda respondem ao crescimento do pós-pandemia, com melhorias como a elevação da renda, a criação de novos empregos e a desaceleração da inadimplência. Isso, somado à projeção da Focus de um IPCA de 3,91% para 2024, portanto abaixo da meta de inflação, e manutenção da taxa Selic em tendência de queda, chegando a 9,25% no final de 2024 na projeção Focus, são fatores que, segundo Pioner, podem contribuir para um bom desempenho da atividade econômica gaúcha.
No entanto, o dirigente pontuou como condicionante para o desempenho o fator climático, que têm tido impacto negativo na economia gaúcha, com previsão de novas ocorrências de clima severo em 2024. “O impacto das enchentes ainda aparecerá nos números da atividade econômica do estado”, alertou.
"Ao longo do ano de 2023, observamos uma desaceleração no ritmo de crescimento das vendas no comércio. Esse fenômeno indica que as vendas mantiveram-se ascendentes, contudo, a um ritmo mais moderado em comparação com períodos anteriores. No cenário estadual, o crescimento concentrou-se principalmente nos setores ligados à mobilidade e em produtos essenciais", afirmou Pioner, que também destacou a queda significativa registrada em setembro, mês marcado por enchentes que impactaram o estado, acentuando ainda mais o processo de desaceleração nas vendas. Entre agosto e setembro de 2023, a atividade econômica no RS sofreu uma queda de 4,6%.
Vendas no comércio gaúcho têm alta de 2% de janeiro a setembro de 2023
Pioner também apresentou o balanço do desempenho do comércio varejista no Rio Grande do Sul de janeiro a setembro de 2023, que teve variação acumulada no ano de 2%, ficando acima do desempenho nacional, de 1,8%.
O segmento que puxou esse número foi o de veículos, motocicletas e peças, com alta de 10,5%, “em função dos incentivos concedidos pelo governo”, avaliou Pioner. Na sequência, artigos farmacêuticos e médicos tiveram 5,8%, seguido de combustíveis e lubrificantes, com alta de 5,6%.
O pior desempenho no Rio Grande do Sul no varejo, com uma queda de 12,5%, foi o comércio atacadista de alimentação e bebidas. Pioner crê que um dos fatores para a diminuição expressiva foi a abertura de um grande número de atacarejos no Estado. “Como os dados levam em conta quem já estava em atividade, a abertura dessas unidades pode ter diluído o faturamento de quem já estava consolidado. Houve bandeiras que abriram até 15 unidades de atacarejos no RS”, ponderou. Outros segmentos que apresentaram perdas foram os de livros, revistas e papelaria, com menos 9,3%; e tecidos, vestuário e calçados, com queda de 8,1%.
Inadimplência nacional apresenta queda acentuada em outubro
Já os dados nacionais de inadimplência mostraram uma tendência gradual ao longo do ano, oscilando entre 6% e 8% entre janeiro e setembro. Em outubro, no entanto, o índice caiu para 3,1%. O mesmo ocorreu em relação ao número de dívidas. Chegando a um aumento de 20,1% em maio de 2023, o crescimento foi de 8,9% em outubro, menor nível do ano. Os maiores credores são os bancos, que detém 59,3% das dívidas dos brasileiros, seguidos de fornecedores de água e luz, com 13,2% e o comércio, com 9,4%.
Nesse sentido, Pioner teceu críticas ao programa Desenrola, do governo federal, pois pontuou que o pagamento de dívidas dos consumidores em setores como o do comércio é feito pelo financiamento bancário, com taxas de juros de 2% ao mês. “Vai haver uma migração para uma dívida em banco, se não houver um bom planejamento”, alertou o dirigente.