Yara conclui obra e amplia capacidade de fábrica de fertilizantes em Rio Grande

Investimento realizado em unidade no Porto-Indústria foi de R$ 2 bilhões

Por Eduardo Torres

Complexo no Porto-Indústria poderá produzir 2,2 milhões de toneladas/ano de fertilizantes; demanda em 2023 foi de 1,6 milhão de toneladas
de Rio Grande
A ideia era desligar uma fábrica que mantinha processos e capacidade produtiva dos anos 1980 e ligar a mais moderna do setor de fertilizantes na América Latina, em Rio Grande. Finalizado o ciclo de R$ 2 bilhões de investimentos da Yara Fertilizantes, a fábrica no Porto-Indústria além de se tornar muito mais competitiva, ampliou sua capacidade plena final de 1,4 milhão de toneladas por ano para 2,2 milhões toneladas de fertilizantes por ano. O novo patamar foi obtido em abril deste ano – dois meses antes do previsto.
Mas o aumento de quase 60% na capacidade final de fornecimento de fertilizantes, não significa que este volume, de fato, já esteja saindo da fábrica da Yara em Rio Grande. Na verdade, a perspectiva é de que em 2023 a produção fique em torno de 1,6 milhão de toneladas. “A diferença fundamental é que antes ficávamos limitados pela capacidade da fábrica. Agora, temos plenas condições de atender a um possível crescimento do mercado de fertilizantes e do agro brasileiro”, explica o diretor de Operações da Yara na Região Sul, Lucas Elizalde.
O mercado para onde vai o fertilizante produzido em Rio Grande é o brasileiro, com pequenas partes para Argentina, Paraguai e Bolívia. E o Rio Grande do Sul é destino de ate 25% da produção. Por isso, a seca do início do ano e as fortes chuvas de setembro também se fazem sentir ali. “Geralmente nosso período de alta safra, quando o produtor gaúcho busca o fertilizante, chega até meados de novembro. Em 2023, antes do final de outubro, a procura já havia baixado. Estimamos uma redução de pelo menos 7% da demanda gaúcha por fertilizantes este ano”, aponta o diretor.
Quando a demanda aumentar, a fábrica estará preparada, como viu a reportagem. Nesta semana a multinacional Yara Fertilizantes abriu pela primeira vez a sua indústria renovada à imprensa. O salto no tempo, como define Elizalde, pode ser percebido logo na primeira vista. Mesmo com atividade portuária praticamente dentro do parque industrial, não se veem funcionários carregando sacos de fertilizantes ou matérias-primas em nenhum dos processos de produção. Entre os 15 quilômetros de esteiras, que servem como elos entre cada etapa de preparação de adubos nos 500 mil metros quadrados da fábrica, o que se vê são operadores controlando a operação quase 100% automatizada.
“Hoje, essa planta não deve em nada para qualquer planta industrial de fertilizantes no mundo. É resultado de um processo de muita busca por tecnologia no que a Yara tem de melhor no mundo para aplicar em Rio Grande. E o que é melhor, de uma forma perfeitamente adaptada ao produto e à necessidade que a produção agrícola brasileira exige”, diz Elizalde.
Pudera. Hoje o polo gaúcho da empresa – que inclui unidades misturadores em Porto Alegre e Cruz Alta – responde por 40% dos fertilizantes da Yara no Brasil. O País representa hoje 25% de todas as operações da empresa norueguesa.
Para que se tenha uma ideia, a transformação da planta de Rio Grande consumiu quase 15% dos R$ 15 bilhões investidos pela empresa nos últimos 10 anos no Brasil. E boa parte do prestígio da produção gaúcha se deve aos investimentos na primeira parte da industrialização das matérias-primas para a produção, principalmente, do chamado Yara Basa, o fertilizante básico, com características adaptadas às culturas brasileiras – soja, trigo, arroz e milho –, que foi desenvolvido em Rio Grande a partir de 2016. Os processos de moagem e acidulação saltaram de uma capacidade de 400 mil toneladas por ano para 1  milhão de toneladas.
“É o coração da produção. O momento em que a rocha, depois de moída, recebe o ácido sulfúrico. Este processo é o que faz com que o fósforo seja disponibilizado para absorção das plantas no solo. Era uma operação que já era feita na fábrica, mas era um gargalo, tanto pela sua capacidade, quanto pela necessidade de modernização. Ela foi totalmente renovada, automatizada e adaptada para reduzir as emissões do processo produtivo, com maior capacidade de retenção e lavagem dos gases”, explica o diretor. Hoje, com um sistema importado pela empresa, as emissões são monitoradas em tempo real, com os dados disponibilizados online para a Fepam.
Na etapa seguinte da produção, vem a granulação. Aí a ampliação da capacidade saiu de 700 mil toneladas para 1,1 milhão de toneladas. E, finalmente, há a mistura e o ensacamento, onde a automação é mais visível. Os processos manuais de carregamento das cargas em caminhões, por exemplo, foram eliminados.

Trabalhadores foram preparados para atuar em planta automatizada

Complexo pode produzir 2,2 milhões de toneladas/ano de fertilizantes
Quando o novo maquinário, especialmente entre os oito armazéns dedicados às misturas e embalagens, chegou a Rio Grande, ainda durante o auge da pandemia, formou-se uma torre de babel tecnológica. Havia máquinas finlandesas, italianas, belgas. E havia, principalmente, como aponta Lucas Elizalde, uma mudança de paradigma.
“O caminho da automação era inevitável, então, tínhamos que decidir: ou contratávamos mão de obra já qualificada e renovada para operar a nova planta, ou preparávamos aqueles trabalhadores que já tínhamos todo o conhecimento na produção de fertilizantes em outros moldes. Optamos pela segunda forma, e acertamos”, garante o diretor.
Em período de pico de produção, a fábrica de Rio Grande chega a 1,2 mil funcionários. Desde o começo do projeto de transformação da unidade, em 2019, a Yara firmou uma parceria com o Senai, pelo Programa Qualificar. E mais do que isso. “Constatamos que boa parte dos nossos colaboradores não haviam sequer chegado ao Ensino Médio. Hoje, 99% deles têm o Ensino Médio”, conta Elizalde.
Já foram 25 turmas de qualificação e 1,5 mil horas de treinamento para garantirem a inclusão de 440 trabalhadores nos novos processos da fábrica.

O tempo faz a diferença

Lucas Elizalde - diretor da Yara Fertilizantes - monitoramento na fábrica em Rio Grande
Estão nas duas pontos da produção os diferenciais logísticos da indústria de fertilizante mais moderna da América Latina. Da porta para dentro da unidade, há um sistema que lembra uma torre de controle aéreo para garantir maior eficiência e menor tempo no carregamento do transporte que levará o adubo dali.
“O tempo médio desde a espera até a saída de um caminhão carregado daqui fica entre 10 e 12 horas. Dentro da fabrica, no máximo, 3 horas. Antes de implantarmos um sistema que é único no mundo entre empresas de fertilizantes, eram 24 horas. E já foram 48”, conta Lucas Elizalde.
São até 350 caminhões carregado por dia, chegando, em período de safra, a 10 mil toneladas carregadas diariamente. Cada um desses caminhões recebe uma tag, que tem seu movimento controlada por um sistema de antenas, gerenciado a partir de uma sala de controle.
Na outra ponta da produção, está outro diferencial. À beira do canal, a Yara tem um píer com dois berços de atracação. Significa que até dois navios, cada um com até 30 mil toneladas de matérias primas – todos insumos para produção de fertilizantes no Brasil precisam ser importados – a granel podem estar pronto para descarregar de frente para a fábrica.
A partir das embarcações, os produtos são descarregados por guindastes diretamente no caminho das esteiras, entrando na rota da produção. Uma vantagem de tempo e tecnologia que também se vê na saída de fertilizantes por embarcações, com o equipamento de shiploader, que permitiu, ano passado, a primeira operação de cabotagem de fertilizantes a partir do Porto de Rio Grande na história, com destino ao Maranhão e Argentina.
“O píer garante um grande diferencial a nossa unidade. Em Paranaguá, por exemplo, o tempo de espera de um navio é de 30 dias, aqui, um dia. A multa por navio parado um mês em Paranaguá chega a US$ 1 milhão. A ampliação da fábrica qualificou ainda mais a unidade de Rio Grande como um hub logístico”, comenta o diretor de Operações da Região Sul da Yara.
A partir dali partem fertilizantes em chatas para a unidade de Porto Alegre, em trens e caminhões para a unidade da Yara em Cruz Alta. E o que é produzido aqui ainda alimenta unidades em Rondonópolis, Cascavel, Ponta Grossa, Cubatão, Uberaba e São Luís, com envio de até 1,7 milhão de toneladas por ano de fertilizantes prontos e produto básico para o preparo em outras unidades, com caminhões, navios, chatas e trens.


A fábrica em números
- A origem da fábrica é de 1967, na época, a Adubos Trevo, e desde 1995 a norueguesa Yara opera nela, com crescimento em 2014, com investimentos em novos guindastes
- Em 2019, consolidou-se o projeto de ampliação e modernização da unidade, com o início da execução em 2021
- Em 2023, foi concluído o investimento de R$ 2 bilhões em Rio Grande
- Capacidade produtiva de 2,2 milhões de toneladas de fertilizantes
- Área de 500 mil metros quadrados
- 1.274 funcionários
- RS produz 40% dos fertilizantes da Yara no Brasil
- 1 pier com dois berços de atracação
- 15 quilômetros de esteiras
- 1 planta de moagem e acidulação com capacidade de 1 milhão de toneladas
- 2 plantas de granulação com capacidade de 1,1 milhão de toneladas
- 5 unidades de mistura e 8 pontos de ensacamento e carregamento
As etapas da produção
- Matérias-primas (cloreto, nitrogênio, cálcio, potássio) chegam em navios
- Produto segue por esteiras até a primeira etapa de processamento, a moagem
- Passa à acidulação, quando é provocada a relação entre a rocha e o ácido sulfúrico
- O produto resultante passa pelo processo de granulação
- Há a mistura, quando são equilibrados os elementos de cada fórmula de fertilizantes
- O produto segue para o ensacamento em big bags (1 ton), small bags (50 kg)
- Caminhões, chatas, navios e trens são carregados por método automatizado único
 
Ficha técnica
Investimento: R$ 150 milhões
Empresa: Yara
Área: Indústria
Cidade: Rio Grande
Estágio: Concluído
Investimentos em 2022: R$ 30 milhões