Sindicontábil projeta aumento da demanda com a Reforma Tributária

Entidade comemora 80 anos de criação

Por Caren Mello

Santos diz que um dos objetivos do sindicato é facilitar a rotina dos profissionais
O último dia 4 novembro foi um marco para o Sindicontábil, Sindicato dos Contabilistas de Porto Alegre. A entidade que congrega profissionais de nível superior e técnicos comemorou 80 anos de existência, enquanto se prepara para novos desafios que devem chegar com a implementação da Reforma Tributária e a adoção da Inteligência Artificial nas rotinas funcionais de seus quase 230 associados.
À frente do Sidicontábil, eleito no final de 2022 para sua segunda gestão de três anos, Dilceu Birck dos Santos, falou ao caderno Contab no dia em que o Sindicato foi bastante demandado a partir da entrada em vigor do novo sistema de emissão de notas fiscais de serviço eletrônico. "O site é relativamente simples, mas é diferente do que o pessoal está acostumado, com uma série de informações técnicas. O sindicato está aqui também para dar esse apoio", comenta Santos, ao listar todas as áreas de atuação da entidade junto a afiliados, entre profissionais autônomos e empresas.
JC Contabilidade - Qual é a fórmula para um sindicato conquistar essa longevidade?
Santos - Há muito que se falar sobre esse tempo. São poucas entidades que chegam a 80 anos, não só representativas, mas empresariais. Nosso associado é o grande responsável. O que mantinha os sindicatos vivos era a contribuição sindical, que saiu fora na Reforma Trabalhista. Vários tiveram um enfraquecimento muito grande, mas conseguimos nos manter. Temos também outra fonte de renda. Como temos a sede própria, alugamos salas e, também, promovemos eventos, cursos e palestras.
Contab - Nestes 80 anos, quais os momentos mais significativos de atuação do sindicato?
Santos - Participamos ativamente na definição do (Salário) Mínimo Regional. Fomos entregar a pauta ao governador do Estado, fomos na Assembleia Legislativa levar a reivindicação do aumento do salário. Além disso, atuamos constantemente na defesa da própria categoria contábil. Estamos sempre questionando e brigando pelas prerrogativas dos profissionais contábeis, evitando que outras categorias realizem o que é de nossa função. E, também, todos os anos, trabalhamos nos dissídio coletivo. Este ano, fechamos o dissídio dos contadores e técnicos da Corsan e da CEEE.
Contab - A entidade também investe na formação profissional. Como manter a atualização do associado diante de tantas recorrentes novas normativas na área?
Santos - Nosso foco também é manter essa atualização para o associado. Trabalhamos em parceria com diversas entidades para buscar um melhor suporte para ele. Temos parcerias com faculdades e cursos de especialização, de treinamento. Por exemplo, para um curso de atualização em legislação trabalhista, como somos afiliados à Fecontábil, ela, a todo momento, reúne todos os sindicatos do Rio Grande do Sul. Então, tratamos de fazer para todos os sindicatos. Juntos, podemos oferecer o curso com um valor mais em conta.
Contab - Além da representatividade, a formação está entre os benefícios mais importantes?
Santos - Como associação de classe, sempre buscamos alguma melhoria para a categoria, seja no município, seja na Junta Comercial, sempre estamos conversando para ver o que pode melhorar para os profissionais. Nos órgãos públicos, em geral, é o contador que está sempre lá. Não é o cliente que vai até a Junta Comercial quando há um problema na empresa, é o contador que está lá e é ele que tem que ter um atendimento melhor. Estamos, seja no âmbito municipal, estadual ou federal, sempre buscando esse tipo de melhoria e de assistência, tudo para que, em primeiro lugar, a nossa profissão seja valorizada e tenha respeito onde for. Somos nós que fazemos a economia girar. Não existe nada sem o contador. A vantagem de se associar é esta: vai ter uma entidade te dando suporte. Se eu, Dilceu, for reclamar algo lá na Prefeitura, tem um peso. Se o sindicato fizer uma reclamação, tem outra conotação.
Contab - Como a Inteligência Artificial (IA) irá impactar na rotina do contador?
Santos - Já está impactando, em função das oportunidades e de negócios. A partir de agora, ou entramos nessa onda, ou ficamos de fora. A Inteligência Artificial, a contabilidade digital, a digitalização dos negócios, estão aí. Temos que nos enquadrar, não tem outra forma de participar do mercado. A Inteligência Artificial veio para nos ajudar na gestão de negócios e, ao mesmo tempo, o contador não vai ser mais aquela pessoa que vai ficar só digitando documentos para fazer a contabilidade. Tem uma oportunidade de negócios muito grande nesta nova era.
Contab - Como o sindicato avalia as discussões sobre a Reforma Tributária?
Santos - Está dando muita confusão porque vamos ter duas situações. Se for aprovada no Congresso, ela começa agora e vai até 2032, mas, nesse tempo, vamos estar trabalhando com duas legislações. Ao mesmo tempo, vamos estar fazendo uma apuração de impostos, atendendo à legislação atual, e já começando a trabalhar com a nova legislação, que é totalmente diferente. Ela não revoga a anterior, essa que é a questão. Posso escolher qual vai ser a mais vantajosa. Dependendo do tipo de empresa, do tipo de tributação, não vai impactar tanto. Mas a indústria e as grandes empresas vão ter que trabalhar com as duas legislações durante essa tramitação porque têm impostos que irão entrando gradativamente a cada ano, até 2032.
Contab - A previsão, então, é que o Sindicato seja muito demandado?
Santos - E muito. Vamos ter que montar algum tipo de estratégia para atender o pessoal, colocar algo à disposição dos associados. O primeiro passo é entender o que está acontecendo e a melhor forma de aplicar. Isso vai gerar muita demanda de trabalho dentro dos escritórios e nas empresas, nos departamentos financeiros. Isso reforça a importância de existir um sindicato da nossa categoria. E o sindicato não vive sozinho, vive em função do associado. Se eles não vierem participar, o sindicato vai morrer.