Ministério da Fazenda acena a PMEs para mudar tributação sobre grandes empresas

O texto é uma das prioridades do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pode garantir R$ 35,3 bilhões aos cofres públicos

Por Agência Estado

Ministro da Fazenda participa de encontro no Marrocos
De olho na retomada da pauta econômica no Congresso Nacional, que vive dias de paralisia em meio a insatisfações de lideranças com o governo federal, secretários do Ministério da Fazenda se reuniram nesta terça-feira (24), com deputados da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE)
O objetivo foi conseguir o apoio da bancada ligada às pequenas e médias empresas para destravar um dos principais projetos arrecadatórios do governo: aquele que altera a tributação sobre as grandes companhias que recebem benefícios fiscais dos Estados. O texto é uma das prioridades do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pode garantir R$ 35,3 bilhões aos cofres públicos em 2024, segundo previsões no Orçamento.

A proposta, porém, sofre críticas das empresas abertas, que veem violação à segurança jurídica, e enfrenta resistências dentro do Congresso. Para facilitar a tramitação, o governo substituiu a medida provisória sobre o tema por um projeto de lei com regime de urgência.

A nova versão, segundo a Fazenda, deixa claro que não haverá impacto na atuação da Sudam e da Sudene, as superintendências ligadas à Amazônia e ao Nordeste, respectivamente, e explicita que os benefícios já concedidos serão respeitados.

"Nós temos bilhões em subvenção para grandes empresas que prejudicam os pequenos e médios negócios em um cenário de concorrência desigual", afirmou o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello. Ele diz que não é contra benefícios fiscais, mas que o desenho atual desse incentivo prejudica a economia do País.

"Está fazendo mal para pequenas empresas, pequenos municípios, aos Estados e ao governo federal", disse. "E muitos desses incentivos acabam virando aumento de margem de lucro para as grandes empresas", complementou, frisando que os benefícios ligados a investimentos não terão as regras alteradas - apenas os que estão atrelados ao custeio.

A Receita Federal calcula que os benefícios concedidos pelos Estados, chamados de subvenções, reduziram a base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), que é um tributo federal, em R$ 150 bilhões em 2022 - e que essa cifra chegará a R$ 200 bilhões neste ano.

A reclamação é de que as subvenções concedidas por governadores impactam, indevidamente, a arrecadação da União em um momento em que o governo está comprometido com metas fiscais ambiciosas. O efeito também é sentido nos fundos de participação de Estados e municípios, que recebem uma fatia do IRPJ. Os fundos ajudam a abastecer os caixas, principalmente, das cidades menores.

"No próximo ano, serão R$ 250 bilhões, R$ 300 bilhões (de redução da base do IRPJ). Até onde a gente vai? Uma hora vai ter de aumentar a tributação de todo mundo, porque a conta precisa fechar. E quem vai pagar o pato? Vai começar pelas micro e médias empresas, que não estão no lucro real", afirmou o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas.

O chefe do Fisco destacou que apenas as companhias que declaram pelo sistema de lucro real e faturam mais de R$ 78 milhões por ano podem fazer esse tipo de abatimento. "Ou seja, 98% das empresas brasileiras não podem", afirmou. "Quando não há essa tributação (do IRPJ), repito: você está quebrando os concorrentes que não têm essa vantagem competitiva", destacou Barreirinhas.

Em maio, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que as empresas só poderiam abater dos tributos federais (como IR e Contribuição Social sobre Lucro Líquido) os benefícios estaduais que fossem ligados a investimentos, e não a custeio - o que foi considerada uma vitória do governo.

O problema é que o litígio continuou, a arrecadação extra não veio na quantidade esperada e a Fazenda decidiu agir para regulamentar.

Só que a Receita Federal, reclamam as empresas, criou uma nova sistemática para esse abatimento e restringiu o seu alcance. Em vez de abater os incentivos estaduais da base de cálculo dos tributos federais, a companhia terá de se habilitar em um sistema online do Fisco e, uma vez autorizada, receberá um crédito de 25% sobre o valor do benefício fiscal - o que é equivalente à alíquota do IRPJ.

Na avaliação da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), o Executivo desrespeitou decisões do Legislativo e do Judiciário com o objetivo de aumentar a carga tributária, o que representa uma "grave violação à segurança jurídica".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.