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Absolar prevê energia solar como principal fonte brasileira até 2040
Geração fotovoltaica irá superar a hidreletricidade na matriz elétrica nacional
Segundo estudo da BloombergNEF, em 2050 a geração de energia solar fotovoltaica no Brasil vai alcançar uma capacidade instalada de 121 mil MW, o que representará 32,2% da matriz elétrica nacional, superando a hidreletricidade que terá 113 mil MW (participação de 30,2%). No entanto, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Ronaldo Koloszuk, estima que essa “ultrapassagem” acontecerá ainda antes, até o ano de 2040.
O dirigente explica que essa projeção se baseia no fato que hoje não há tantos projetos de grandes hidrelétricas (que contam atualmente com poucos locais propícios para serem construídas) como existiam no passado e se vê um crescimento muito forte da produção solar por questões de preço e versatilidade. “Você pode instalar (os módulos fotovoltaicos) em qualquer lugar, qualquer local do Brasil é bom para essa fonte”, frisa Koloszuk.
O dirigente comenta que a evolução nos próximos anos que fará a produção solar ser a principal do País será puxada pela geração distribuída (em que o consumidor produz sua própria energia através de painéis fotovoltaicos instalados em telhados ou no solo) e pelas usinas centralizadas (empreendimentos de maior porte). Somadas, essas duas modalidades no momento totalizam uma capacidade instalada de cerca de 33,7 mil MW, 15,4% da matriz elétrica brasileira, atrás somente da hidreletricidade, com 109,9 mil MW, o que significa 50,1% da potência de eletricidade nacional.
Apesar do otimismo com o futuro, Koloszuk admite que o setor fotovoltaico vive agora uma fase diferente. O dirigente ressalta que a geração distribuída no Brasil sofre impactos devido à uma taxa de juros que continua alta e também pela falta de crédito competitivo. O dirigente assinala que cerca de 50% dos sistemas fotovoltaicos vendidos no País são financiados. Já no caso da produção solar centralizada, o enorme volume de chuvas favoreceu à hidreletricidade, o que fez o preço dessa energia cair, tornando mais árdua a competição para as outras fontes.
“Mas, é um momento conjuntural e passando essa conjuntura a gente entende que o mercado volta a caminhar, a despeito das questões que temos com as distribuidoras (de energia) que estão represando projetos”, prevê o presidente da Absolar. Koloszuk enfatiza que ainda há muito espaço para crescer, pois apenas aproximadamente 3 milhões de unidades consumidoras possuem energia solar por meio da geração distribuída e o País tem em torno de 91 milhões de contas de luz. Ou seja, no Brasil o percentual de clientes que geram sua própria energia é menos de 4%. Na Austrália, exemplifica Koloszuk, esse patamar é de 30%.
O dirigente esteve presente nesta terça-feira (18) no Absolar Meeting Sul, realizado no Hotel Deville Prime, em Porto Alegre. Outra participante do evento foi a coordenadora estadual da Absolar e diretora da Solled Energia, Mara Schwengber. No caso do Rio Grande do Sul, ela recorda que o Estado ocupa a terceira posição na geração solar distribuída do País (com 2.407,7 MW), atrás apenas de São Paulo (com 3.164 MW) e Minas Gerais (com 3.141,7 MW). “A cultura do gaúcho é muito forte para a sustentabilidade e a inovação”, afirma Mara.
Por sua vez, o assessor de energia da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, Eberson Silveira, reforça que, apenas no Rio Grande do Sul, a fonte solar apresenta um crescimento de 6,8% ao mês e é a segunda mais importante na matriz elétrica, com 22,5% de participação, superada somente pela hidreletricidade. Conforme Silveira, o segmento já representou uma movimentação de R$ 12,5 bilhões em investimentos no Estado. “O governo enxerga essa fonte como algo fundamental”, conclui o assessor da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura.
Inversão de fluxo é tema de discussão entre empresas do setor e concessionárias
Mesmo que os números do segmento solar sejam promissores, um empecilho que essa fonte vem enfrentando, na área de geração distribuída, é a chamada inversão de fluxo. Esse assunto tem propiciado muitos debates entre distribuidoras de energia e empreendedores da cadeia fotovoltaica.
A vice-presidente do Conselho de Administração da Absolar, Bárbara Rubim, explica que a rede de distribuição elétrica, originalmente, foi planejada para a energia se movimentar em um único sentido, das usinas para as subestações, desse ponto para os transformadores (postes de luz) e deles para as residências e comércios. Quando essas casas ou estabelecimentos começam a produzir energia, a direção vai no sentido contrário até a rede elétrica. Isso é chamado de inversão de fluxo. “Imagine uma rua que tem duas vias, mas que foi pensada para fluir em um só sentido e em determinado momento começa a passar carro no sentido contrário. Isso não significa que essa rua não pode ser adaptada ou que ela deixe de funcionar”, ilustra a integrante da Absolar.
De acordo com Bárbara, essa ação não é um problema para a qualidade da rede, a menos que ocorra em um patamar muito elevado. No entanto, ela defende que esse argumento da inversão de fluxo só seja utilizado pela concessionária para impedir ligações de sistemas fotovoltaicos à rede elétrica em casos reais, com base técnica. “E não da forma indiscriminada como tem sido feito hoje, sem algum tipo de estudo”, finaliza a vice-presidente do Conselho de Administração da Absolar.