O Estado do Rio Grande do Sul projeta ter a primeira planta de hidrogênio verde no porto de Rio Grande entre 2025 e 2030. A informação foi dada pela secretária de meio ambiente e infraestrutura, Marjorie Kauffmann, durante a 21ª edição dos Painéis da Engenharia, que aconteceu nesta quinta-feira (5), com o tema “O potencial do Hidrogênio Verde no Rio Grande do Sul”. O evento foi promovido pelo Sindicato dos Engenheiros do RS (Senge-RS).
De acordo com a secretária, o otimismo em relação à primeira planta se deve às oportunidades do Estado e à vocação para energia renovável. "Estávamos tímidos em relação ao hidrogênio verde por alguns anos, enquanto outros estados estavam fazendo parcerias. Porém, estávamos criando nosso estudo, reconhecendo nosso território e as possibilidades. Agora, estamos observando muito interesse, por isso o otimismo", ponderou. Ela disse, ainda, que o governo irá políticas de incentivo, junto à Secretaria de Desenvolvimento Econômico e à sociedade civil, para o hidrogênio verde. "É uma cadeia nova, que tem riscos. Esses riscos precisam ser divididos e o governo vai participar".
A secretária também considera que o Estado tem um forte potencial para consumo interno de hidrogênio verde. "Pensamos no mercado consumidor através da produção de amônia verde, metanol e insumos que podemos usar para o transporte interno, por exemplo", destacou Marjorie. Apesar disso, ela afirmou que a exportação não está fora do radar, especialmente para países vizinhos. "Nossa situação locacional nos faz mais distante de exportar o hidrogênio transformado em amônia verde para a Europa, mas se pensarmos em exportar para o Uruguai, Argentina ou mesmo para outros estados do Brasil, é uma alternativa para agregar valor com usos diferentes além da simples exportação de hidrogênio verde", exemplificou.
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Carbono orgânico no RS favorece produção de querosene sustentável a partir de Hidrogênio Verde
Um dos painelistas do evento, o coordenador de Inovação do H2 Brasil/ GIZ, Bernd dos Santos Mayer, acrescentou que, além das energias renováveis já existentes e do baixo custo de produção, o carbono orgânico favorece a produção de insumos, como o querosene sustentável a partir do hidrogênio verde. AH2 Brasil, empresa pública alemã, está realizando estudos na área no Brasil e, até o momento, já acelerou com seus programas 24 startups de hidrogênio verde, além de fomentar pesquisas em universidades públicas.
"Para fazer uma querosene sustentável de hidrogênio verde, você precisa sempre de carbono. A pergunta é de onde vem esse carbono, geralmente é da atmosfera. O processo de limpeza é caro e complexo. Porém, aqui no Brasil, e no Rio Grande do Sul, por ser muito forte no agronegócio, você tem biogás e sobra de carbono, um carbono limpo, então sua produção de querosene é mais barata", explicou Bernd, ressaltando que na União Europeia uma lei já prevê que as aeronaves sejam gradualmente abastecidas com combustível limpo. "É um mercado que está crescendo".
A secretária do meio ambiente e infraestrutura, Marjorie Kauffmann, complementou ao dizer que um estudo de revisão do Atlas de Biomassa do Rio Grande do Sul, que está sendo realizado pela Univates, universidade do Vale do Taquari, pode contribuir para o desenvolvimento de combustíveis sustentáveis. "Considerando que teve um aumento na produção de biomassa na região, ou seja, aumento de resíduos de suínos e de aves, esse atlas é importantíssimo porque se refere ao biogás, insumo fundamental para combustíveis mais renováveis, como a querosene de aviação", disse.
Conforme o presidente do Senge-RS, Cezar Henrique Ferreira, debater o tema é muito importante na área da engenharia. "É um assunto obrigatório nos dias de hoje, pois precisamos diminuir emissão de gases do efeito estufa e mitigar as consequências da mudança climática. Isso tem tudo a ver com as atividades da engenharia. As energias renováveis são uma alternativa viável e é importante que se conheça e se debata, é também um mercado de trabalho em crescimento para os engenheiros", refletiu.
O que é o hidrogênio verde?
O hidrogênio verde é um gás produzido por meio da eletrólise da água, promovida pela passagem de uma corrente elétrica obtida a partir da energia elétrica proveniente de fontes renováveis e, portanto, livre de emissões de gases de efeito estufa. Ele pode ser amplamente usado na indústria química, alimentícia, metalúrgica. Segundo a Agência Internacional de Energia, em 2050, 30% do hidrogênio produzido no mundo será usado para combustível e 17% será utilizado para gerar eletricidade.