Prejuízo das empresas de Encantado atingidas pelas cheias é estimado em R$ 900 milhões

Economia do município está em potencial colapso, afirma presidente da Associação Comercial e Industrial

Por Cláudio Isaías

Fábrica da Fontana em Encantado atingida pelas enchentes
As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no começo do mês de setembro arrasaram com a economia de Encantado, no Vale do Taquari, segundo o presidente da Associação Comercial e Industrial de Encantado (ACIE), Alex Herold. Ele alerta que, se não houver uma reação rápida do poder público (federal e estadual), a cidade entrará em colapso econômico e social. Um levantamento realizado pela prefeitura e pela ACIE mostra que, dos aproximadamente oito mil empregos formais do município, 50% deles foram afetados direta ou indiretamente. Além disso, o número de empresas que foram atingidas pelas águas do rio Taquari, chegou a 1.406, 45% do total de estabelecimentos locais, causando um prejuízo estimado em R$ 900 milhões. O retorno financeiro para o município dessas empresas representam 53,83% do total do Valor Adicionado do município. Segundo o presidente da Associação, Alex Herold, após as cheias que atingiram o município centenas de empresas tiveram suas atividades suspensas ou comprometidas pelos estragos.
Jornal do Comércio - Qual situação das empresas de Encantado depois da enchente que atingiu a cidade?
Alex Herold - A grande maioria das empresas tiveram suas atividades suspensas ou comprometidas pelos estragos das chuvas. Estamos preocupados com a manutenção das vagas de trabalho nas grandes empresas que são importantes para economia do município. Temos um quadro de potencial colapso porque 45% dos estabelecimentos locais foram atingidos pelas águas, ou seja, um total 1.406 empresas. Temos um prejuízo estimado em R$ 900 milhões. As grandes empresas tiveram prejuízos com seus estoques, com matéria prima, com a aquisição de máquinas e conserto dos prédios afetados pela inundação das águas do rio Taquari. 
JC - Quais são as perdas da indústria e do comércio?
Herold - As perdas das empresas, do varejo, das indústrias e dos pequenos empreendedores pode chegar a R$ 900 milhões. Se não houver uma reação muito rápida e essa reação não depende dos empreendedores de Encantado ligados ao associativismo ou ao cooperativismo. Pelo número de pessoas atingidas a nossa capacidade de reação está afetada. Dependemos de políticas públicas dos governos federal e estadual. Precisamos de políticas de retomada de médio prazo que alcance os pequenos empresários e as grandes empresas. As nossas grandes empresas são as maiores geradoras de emprego e de circulação de riqueza na região do Vale do Taquari. Não adianta apenas estimular a recuperação do pequeno varejista. Precisamos que empresas, como é o caso da Dália Alimentos, que conta 800 funcionários, que ela se restabeleça num curto prazo porque é nas grandes empresas que circula a grande riqueza. Estamos bastante impactados e arrumando motivação para seguir em frente.
JC - Como está organizada a economia de Encantado?
Herold - A economia de Encantado é muito diversificada com o agronegócio, com a produção industrial e com as cooperativas. Temos empresas como a Carrer, a Quinta do Vale e a Dália Alimentos. Essas duas últimas, Carrer e Quinta do Vale, tiveram suas estruturas físicas arrastadas pelas águas o que acabou por comprometer em 30% a 40% as operações dessas empresas. Encantado conta também com empresas ligadas ao ramo de alimentos - sorvetes e produção de chocolate. Temos ainda um polo de cosméticos com a indústria Fontana.
JC - Como as empresas de Encantado vão se reorganizar?
Herold - Um grupo de empresários apresentou um plano de reconstrução das atividades econômicas e as necessidades mais urgentes das comunidades atingidas. Entregamos ao presidente em exercício Geraldo Alckmin, ao governador Eduardo Leite e ao secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo algumas sugestões para nossa recuperação. Precisamos de algumas medidas de postergação do pagamento de impostos e de uma renegociação de operações de crédito com os bancos estaduais - Banrisul, BRDE e Badesul. Queremos também a abertura de um canal de renegociação das dívidas e do parcelamento de dívidas fiscais porque a os empresários vão precisar de capital de giro. As empresas vão continuar na região do Vale do Taquari e algumas darão férias coletivas para se reestruturar dentro dessa nova realidade.
JC - As empresas querem um prazo maior para a sua recuperação?
Herold - O Vale do Taquari tem uma cultura voltada ao trabalho. As pessoas perderam suas residências e os postos de trabalho. Estamos pedindo que o governo analise a possibilidade de jogar essas obrigações fiscais que são correntes lá para frente para que os empreendedores possam se dedicar a recuperação das empresas. Não estamos pedindo anistia. Estamos pedindo tempo para pagar nossas obrigações. Ao governo federal, pedimos a liberação de créditos das empresas junto a Receita Federal principalmente PIS/Cofins ou outros créditos reconhecidos judicialmente que seja antecipado o pagamento dos créditos que são das empresas. As pequenas empresas terão apoio do Sebrae que tem linhas de crédito que podem ajudar.