{{channel}}
Tesouro histórico é impulso para economia da Quarta Colônia
Geoparque abrange Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins
Você já ouviu falar do Buriolestes? Ou do Siriusgnathus niemeyerorum? E o que dizer do Agudotherium gassenae? Parece estranho, mas soam muito familiares aos moradores da região da Quarta Colônia, no Centro do Estado. São três fósseis de espécies inéditas de dinossauros encontradas nessas localidades nos últimos anos. Em comum, além da proximidade geográfica, estes tesouros foram batizados com os nomes das famílias locais que ajudaram a encontrá-los, muitas vezes, nos terrenos das suas propriedades.
O primeiro, em homenagem à família Buriol, de São João do Polêsine. O segundo, aos Niemayer, de Agudo, e o terceiro, à Valserina Buelgon Gassen, quatro vezes prefeita de São João do Polêsine.
Nos últimos anos, 35 fósseis de diversas espécies foram encontrados, e batizados, entre os nove municípios - Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins - do recentemente certificado pela Unesco, Geoparque da Quarta Colônia.
Uma faixa de 250 quilômetros que continua sendo palco de grandes descobertas, como a que encontrou o Staurikosaurus pricei, o primeiro dinossauro brasileiro e um dos mais antigos dinossauros do mundo. E ainda é a casa dos Buriol, dos Niemayer e de tantos outros.
A maneira simpática de reconhecer, com os nomes das espécies, a população local, foi a forma encontrada pelos cientistas que atuam na cidade de desmistificar o trabalho que faziam ali, e que agora será amplificado para todos.
"Acabou aquele medo de perder a propriedade, ou não poder mexer na propriedade onde foi encontrado um fóssil. Temos feito um trabalho de sensibilização da comunidade, que é fundamental para que o geoparque tenha sucesso e todos se beneficiem disso. Hoje, você visita algumas dessas famílias na zona rural, e ali na parede, junto com as fotos da família, está o artigo científico da descoberta que ele ajudou a fazer", conta a diretora do geoparque, Janice Sell.
A Quarta Colônia é considerada por paleontólogos uma área chave no Brasil para o estudo do período Triássico, com fósseis que remontam a 250 milhões de anos atrás. É uma das cinco áreas reconhecidas internacionalmente no País pelo seu valor geológico, paleontológico e cultural.
O projeto que resultou no geoparque é resultado de um esforço conjunto entre o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa), da UFSM, e do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (Condesus Quarta Colônia).
Dados não oficiais apontam que, somente no ano passado, sem qualquer reconhecimento internacional, a região recebeu em torno de 30 mil turistas. Com Santa Maria como uma espécie de referência e porta de entrada para a infraestrutura turística na Quarta Colônia, o que se espera é um avanço na região.
"A certificação coloca a Quarta Colônia definitivamente no cenário internacional. Torna a região um atrativo acadêmico, claro, mas principalmente turístico. Atrai um tipo de visitante diferenciado, que vem para cá com a certeza de que há conservação do patrimônio natural e histórico da região. E a consequência é um benefício social a ser compartilhado por todos nesta região", avalia Janice Sell.
E isso representa uma oportunidade para investimentos. De acordo com a diretora do geoparque, uma série de ações têm sido levadas à prática entre os nove municípios para que empreendedores locais invistam na qualificação de restaurantes, cafés, transportes e pousadas. E há a gastronomia naturalmente atraente da região marcada pela colonização italiana, além de cinco comunidades quilombolas dentro do território reconhecido pela Unesco.
A certificação dará aos municípios ainda um novo fôlego para investir em infraestrutura. Serve como um documento facilitador de crédito, por exemplo, para obras em estradas ou acessos a atrações turísticas locais. "É um processo coletivo, com participação de todos, da universidade, da comunidade e do poder público", resume a diretora.
O Geoparque da Quarta Colônia forma, com Caçapava do Sul e com os Caminhos dos Cânions do Sul, três geoparques certificados no Estado. E há ainda dois projetos na região em análise: o Geoparque Raízes de Pedra, no Vale do Jaguari, e o Geoparque Vale do Rio Pardo.
Barragem no município de Pinhal Grande também é atração
Em uma das pontas do Geoparque há uma enorme barragem com um potencial turístico que começa a ser descoberto no município de Pinhal Grande. Uma descoberta que ganhou impulso justamente pelo encantamento dos avaliadores enviados pela Unesco para a região, em novembro do ano passado.
"Já estávamos quase desistindo do plano, pelo excesso de burocracia. Mas o impacto foi tão incrível naqueles profissionais, todos viajados, ao perceberem que estavam diante de formações rochosas com imenso valor geológico à medida que o passeio de barco avançava, que levamos adiante a ideia", explica o empresário Ubirajara Falcão.
Ele é o responsável pelo passeio de barco chamado Caminhos Náuticos, pelo Cânion da Usina de Itaúba. Trata-se da exploração ecológica, em uma embarcação, a partir da região alagada às margens do Rio Jacuí, que forma a usina hidrelétrica de Itaúba, entre Pinhal Grande e Estrela Velha. Entre o final de dezembro, quando iniciaram os passeios, até o final de março, foram 315 turistas, somente nos finais de semana.
"É a demonstração do potencial que temos aqui, ainda mais valorizado pelo geoparque. Todas essas pessoas que vieram no verão, chegaram ao local por conta própria. É uma região a 10 quilômetros da zona urbana de Estrela Velha e a 20 do centro de Pinhal Grande, sem infraestrutura para receber turistas. Aos poucos, avançaremos", anuncia o empresário.
Foram dois anos desde a apresentação da proposta para uso da região alagada da usina, com as dificuldades burocráticas para que a CEEE, até então responsável pela barragem, concedesse o licenciamento. Processo que acabou reforçado, e de certa forma destravado, com a parceria da UFSM, que incluiu esta experiência ao projeto do Geoparque da Quarta Colônia.
De acordo com o Ministério do Turismo, o geoturismo é hoje um dos setores turísticos que mais avançam no Brasil, e que acaba estimulando atividades de turismo ambiental, com valor cultural e social diferenciados.
"Conversamos com uma moradora próxima da barragem, e que tinha um pequeno bar, para que ela fizesse almoço e recebesse os turistas para almoçarem dentro da sua casa. Ela aceitou o desafio e está crescendo. São oportunidades que estamos criando em uma comunidade que tinha na sua maioria famílias plantadoras de fumo, e que, em grande parte, já abandonaram o campo", conta Falcão.
O próximo passo do projeto, que pretende retomar as viagens de barco em setembro, é a criação, com apoio do governo municipal, de um centro receptivo para turistas nas instalações onde antes funcionava um centro comunitário daquela localidade, e que está abandonado. A ideia é que o espaço tenha banheiros com chuveiros e infraestrutura para receber uma meta de 200 turistas por mês.
A importância do Geoparque
Fazem parte do Geoparque da Quarta Colônia, em uma faixa de 250 quilômetros no Centro do Estado, Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins
A região foi local de descoberta de 35 fósseis de diversas espécies, em especial do período Triássico
No ano passado, pelo menos 30 mil pessoas visitaram a região com finalidades turísticas