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Mapa Econômico do RS

- Publicada em 11 de Agosto de 2023 às 00:25

Fábricas inovadoras despontam em Santa Cruz do Sul

Transformação nos processos de fabricação de borracha da Mercur teve início em 2006

Transformação nos processos de fabricação de borracha da Mercur teve início em 2006


/SOFIA SCHUCK/ESPECIAL/JC
A fábrica que fica no centro da cidade deu lugar, em um dos seus pavilhões, com 600 metros quadrados, para o que chamam de Laboratório de Inovação Social. Um espaço usado pela empresa, dedicado a desenvolver novidades nos seus produtos, mas principalmente pela comunidade de Santa Cruz do Sul, com biblioteca, sala de encontros e espaço para que esta comunidade também faça sugestões sobre o que sairá daquela planta industrial.
A fábrica que fica no centro da cidade deu lugar, em um dos seus pavilhões, com 600 metros quadrados, para o que chamam de Laboratório de Inovação Social. Um espaço usado pela empresa, dedicado a desenvolver novidades nos seus produtos, mas principalmente pela comunidade de Santa Cruz do Sul, com biblioteca, sala de encontros e espaço para que esta comunidade também faça sugestões sobre o que sairá daquela planta industrial.
Trata-se da concretização do que Jorge Hoelzel, facilitador da direção da Mercur, uma das mais tradicionais indústrias da cidade, pensa para o futuro da sua empresa e do potencial industrial da região.
"Tivemos a consciência de perceber que estamos no centro da cidade e que não seria aceitável uma produção que não respeitasse essa realidade. Nossa fábrica hoje não tem cheiro, não tem fumaça. Foi um processo de transformação que iniciamos em 2006. Era uma época de crescimento no mercado, mas sentíamos que não estávamos em sintonia com a responsabilidade que a produção industrial exige para o futuro", explica Hoelzel.
Todos os seus 700 funcionários são moradores da região. É uma questão de respeito às raízes, como salienta Hoelzel. Assim como boa parte das indústrias da região, a Mercur tem uma tradição quase centenária. Foi criada em 1924, quando dois irmãos perceberam a oportunidade de trabalharem consertando pneus. O negócio prosperou e, na década de 1930, eles importaram da Alemanha uma fábrica para criar peças prensadas, principalmente para a vedação. Foi na segunda geração da família, na década de 1950, que surgiram as primeiras linhas de produção em borracha.
Na virada do século XXI, porém, a responsabilidade havia aumentado. E a mudança na empresa que, somente em 2022, gerou mais de R$ 30 milhões em arrecadação de ICMS ao município de Santa Cruz do Sul e teve faturamento de R$ 140 milhões - com a meta de chegar a R$ 165 milhões neste ano -, veio com pesquisa e inovação nos seus produtos.
Ao invés de optar pelo produto mais barato no mercado, a borracha sintética, a Mercur optou por investir na cadeia produtiva da borracha natural. A compra se dá a partir de comunidades amazônicas ou de florestas plantadas no Sudeste. Hoje, menos de 5% da produção exige a borracha sintética, obtida a partir do processamento do petróleo, portanto, mais poluente.
Desde 2015, a Mercur é considerada uma fábrica com carbono neutro e 50% da energia usada na produção em Santa Cruz do Sul vem de uma usina fotovoltaica.
O resultado desta nova visão se vê nos produtos. Sai de Santa Cruz do Sul, por exemplo, uma inédita bolsa térmica natural, com o isolamento térmico feito a partir da fibra das sementes de açaí juçara, produzida no Norte do Rio Grande do Sul, e que normalmente era jogada fora. O tecido para a bolsa é feito de algodão, também natural, produzido por comunidades do Ceará.
"A inovação, na nossa concepção, precisa vir acompanhada da responsabilidade. A empresa hoje sabe o que não quer para o futuro. Hoje somos vistos como um exemplo de empresa com responsabilidade social e ambiental colocada em prática", diz Hoelzel.
A Mercur é uma das principais indústrias no município que concentra o maior VAB Industrial entre as regiões retratadas neste capítulo do Mapa Econômico do RS.
Após completar 75 anos de muita tradição na produção de brinquedos em madeira, o Grupo Xalingo, também de Santa Cruz do Sul, aposta no reflorestamento para manter o sucesso do clássico "Brincando de Engenheiro", que monta cidades, fazendinhas e pistas de carros com bloquinhos de madeira.
No ano passado, a empresa comemorou a marca de 10 milhões de unidades vendidas do seu principal brinquedo e investiu em novos maquinários na sua planta industrial no Vale do Rio Pardo.
Além da produção em Santa Cruz do Sul, que hoje inclui brinquedos educacionais, soluções agrícolas, sob a marca Agriplax, e matrizes industriais, na Inomax, a empresa mantém um centro de distribuição em Barra Velha, Santa Catarina, e uma planta fabril em Itupeva, São Paulo.
No Vale do Taquari, a Girando Sol, que emprega 450 pessoas em Arroio do Meio, é um exemplo de como a inovação pode também ser impulsionada pela demanda do consumidor.
"Estamos atentos a este novo jeito de consumir, no qual se destaca o cuidado para com a casa, mas também com a saúde, o que nos leva a investir mais em hipoalergênicos, produtos testados dermatologicamente, reduzindo germes e bactérias", observa o diretor da empresa, Gilmar Borscheid.
A empresa fechou 2022 com crescimento de 54% no faturamento, e o objetivo neste ano é garantir 20% de aumento na receita. Com um mix de mais de 170 produtos, os bons resultados foram puxados principalmente pelos itens lava-roupas em pó, amaciante concentrado, desinfetante e água sanitária, a Girando Sol investe entre 2022 e 2023, R$ 35 milhões no aumento da produção e a consolidação no mercado nacional.
A empresa de Arroio do Meio completa 32 anos em 2023. A Mercur chegará ao centenário no próximo ano. A longevidade é uma característica da região, e o diferencial, que as faz perdurar, é justamente a abertura para a inovação. Se, no caso da Girando Sol, a mudança tem vindo do perfil do consumidor, da Mercur, a partir das mudanças no chão de fábrica, em outros casos, a academia tem sido uma parceria de muito sucesso.
 

Alternativas na geração de empregos para além do tabaco

Mesmo com forte produção metalúrgica - com destaque para a MOR - de borracha e de alimentos, a dependência em relação ao setor fumageiro tem instigado o poder público de Santa Cruz do Sul a desenvolver alternativas. É o caso do programa Desenvolve Santa Cruz, iniciado em 2021.
"Atraímos empresas que hoje geram mais de 2s mil empregos diretos no município. Na segunda fase do programa, com a doação onerosa de lotes no nosso segundo distrito industrial, a previsão é que sejam gerados 162 empregos diretos e outros 50 indiretos, além de um faturamento de R$ 148 milhões nos próximos quatro anos. São 10 empresas de pequeno e médio porte que estão sendo incentivadas", diz o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Márcio Martins.
Além de incentivos e desburocratização, há o fortalecimento de parcerias com o Senai e Senac para qualificação de mão de obra. "Aqui na região, quando tratamos de inovação, estamos falando em ações que se aplicam, de fato, para a produtividade e o bem da sociedade. O Sistema S está muito presente nos vales do Rio Pardo e do Taquari, com investimentos na educação. Isso resultará sempre em maior competitividade", aponta o vice-presidente regional da Fiergs, Flavio Haas.

O hambúrguer "verde" depois de 130 anos no mercado

Motta, da Excelsior, fala em inovar

Motta, da Excelsior, fala em inovar


/EVANDRO OLIVEIRA/JC
A Excelsior Alimentos, de Santa Cruz do Sul, completa 130 anos em 2023. A partir do Food Lab do Parque Científico e Tecnológico da Unisc (TecnoUnisc), foi desenvolvido o primeiro hambúrguer 100% vegetal na linha de produtos da empresa, lançado neste ano. O produto, que envolveu profissionais de áreas como Nutrição, Química, Engenharia de Alimentos, Engenharia Química, Gastronomia, Administração e Marketing, foi o primeiro de uma série planted based (baseados em plantas) que o tradicional frigorífico pretende colocar no mercado em breve.
"O retorno para a marca está muito bom. Reforça nossa presença mais próxima de um público jovem, com cultura de consumo que está em transformação. O momento, para uma empresa tradicional como a nossa, é de inovar para sermos fortes", diz o CEO da Excelsior, Luiz Motta.
O setor industrial de alimentos rendeu a Santa Cruz do Sul R$ 32,5 milhões em arrecadação de ICMS no ano passado. E rendeu também o fortalecimento dessa estrutura na universidade do município.
"Hoje a Excelsior tem um Food Lab dentro do TecnoUnisc e em contato direto com a produção, em sua fábrica. Temos neste espaço equipamentos que permitem a testagem e pesquisa de maneira mais acessível do que se estivesse na linha de produção. O exemplo desta empresa é um entre muitos que temos reforçado em Santa Cruz do Sul e em toda a região", conta o diretor de Inovação e Empreendedorismo da Unisc, Rafael Kirst.
Segundo Kirst, a aposta no capital humano e no conhecimento que se produz dentro da universidade é a melhor forma de praticar a inovação na produção. No caso da Excelsior, que começou a sua trajetória em 1893 como uma marca de refino de banha de porco e hoje emprega 600 pessoas em uma moderna planta industrial em Santa Cruz do Sul, o desenvolvimento da pesquisa abriu um novo nicho em crescimento no mercado da alimentação.