A tradição na produção de alimentos tem um alicerce importante no campo. O Vale do Taquari e o Alto Jacuí concentram importantes bacias leiteiras do Rio Grande do Sul. Não à toa, a CCGL, que industrializa em Cruz Alta o leite produzido por diversas cooperativas da região, se destaca entre os líderes da Região Sul em creme de leite e leite em pó.
Há um cenário, porém, de desafio a quem produz e industrializa proteína animal no Estado. Um exemplo é a cooperativa Languiru, de Teutônia. Com atuação também nos setores de aves, suínos, frigoríficos e supermercados, em 2023, a crise obrigou a uma reorganização da cooperativa. Em julho, associados aprovaram sua liquidação extrajudicial. A dívida chega a R$ 1,1 bilhão. "Este caso, infelizmente, não é exceção. É a ponta de um iceberg", alerta o vice-presidente regional da Região do Vale do Taquari da Federasul, Renato Scheffler.
Ele tem coordenado a elaboração de propostas para tirar o setor de proteína animal da crise. Soluções que, segundo Scheffler, passam pela abertura de crédito específico ao setor e a criação de um fundo garantidor. "Temos esperado pela apresentação de soluções também pelo Estado, como um pacote fiscal específico para melhorar o nosso nível de competitividade com Santa Catarina e Paraná."
O Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de leite do Brasil - está entre os Vales e Centro a segunda maior bacia leiteira gaúcha. No entanto, o Rio Grande do Sul também foi o terceiro estado que mais importou derivados do leite do Uruguai e Argentina entre 2022 e 2023, com um aumento de 230% no volume de importação. De acordo com Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), o Estado consome só 40% dos produtos do leite que produz.
"Normalmente sobra leite produzido internamente, e agora recebemos mais volume de fora. Já somos exportadores de leite para outros estados, ao mesmo tempo que importamos de outros países. Isso é incoerente", avalia o presidente da Gadolando, Marcos Tang.
A proporção do consumo, que representa preocupação para a cadeia produtiva do leite local, também se reflete na avicultura. A estimativa é de que 57% do frango consumido no Estado venha de outros lugares do Brasil. Está em Nova Bréscia, no Vale do Taquari, a maior produção de aves gaúcha. São quase 40 milhões de cabeças alojadas por ano. Em 2021, o Rio Grande do Sul abateu 819 milhões de aves. O Estado é o terceiro maior produtor e exportador do País.
Com uma população de 3 mil habitantes, Nova Bréscia concentra 126 produtores de frango. O setor primário responde por 85% da economia do município. Entre produtores de frango na região estão Estrela, Westfália, Encantado e Teutônia.
Entre as regiões, no entanto, há, de acordo com a Abrafrigo, somente quatro frigoríficos de aves cadastrados, dois em Lajeado, um em Arroio do Meio e um em Westfália.
Essa parte do Estado tem ainda a produção de suínos. Mesmo enfrentando dois anos de obstáculos para a transformação de grãos em proteína animal, a cooperativa Dália, de Encantado, fechou 2022 com receita bruta de R$ 2 bilhões. No ano passado, exportou 9,5 mil toneladas de cortes suínos para 16 países. A cooperativa, que surgiu da união de 387 suinocultores, atua hoje em 120 municípios gaúchos.
Maiores produtores de frango por município Fonte: Secretaria Estadual da Agricultura / Ministério da Agricultura 2021
Nova Bréscia
Estrela
Westfália
Encantado
Teutônia
Maiores produtores de leite por município Fonte: Secretaria Estadual da Agricultura / Ministério da Agricultura 2021
Ibirubá
Agudo
Estrela