Foi em 1942 que, em pleno centro de Venâncio Aires, um grupo de empresários inovou na industrialização, o que resultaria na melhoria da qualidade da erva-mate produzida no Rio Grande do Sul. Surgia, naquele momento, a Madrugada, a mais antiga marca de erva-mate gaúcha, e que hoje, com 80 funcionários, processa até 500 toneladas de matéria-prima por mês, resultando em 75 diferentes produtos.
O empreendedorismo abriu caminho para uma cadeia produtiva que, desde o começo deste ano, ganhou maior visibilidade, com o reconhecimento da erva como patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul.
O selo reforça ainda mais o papel que este produto tem nos vales do Rio Pardo e do Taquari. De acordo com o Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate), a região responde por 66% da produção da erva no Estado e, o mais importante, concentra, conforme o Sindicato da Indústria do Mate do Rio Grande do Sul (Sindimate), pelo menos 17 indústrias ervateiras entre as 28 associadas à entidade.
"O reconhecimento da erva como patrimônio valoriza ainda mais e firma a nossa tradição de produção e consumo no Rio Grande do Sul. A realidade é que o nosso produto tem ainda muito potencial. O Brasil já passa dos 50% de toda a produção mundial de erva-mate, mas somos somente o quinto país no consumo. Estamos falando de um produto que é base para o chimarrão, mas também para chás, tererê, cosméticos e gastronomia. São mais de 200 benefícios à saúde humana já comprovados", valoriza o presidente do Ibramate, Alberto Tomeleiro.
O Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional de erva-mate, com 32 mil hectares cultivados nesta safra, e a expectativa de gerar até 300 mil toneladas do produto. Uma cultura, como reforça Tomeleiro, diretamente ligada à pequena propriedade. De acordo com o governo estadual, são 15 mil famílias envolvidas no cultivo.
"Não é o tipo de produção que se enquadre em sistemas de larga escala. Por isso, projetamos que nos próximos anos possa acontecer redução no número de produtores, mas com aumento da produtividade. Temos desenvolvido com a Emater as plantas e as formas de cultivo para aumentar essa eficiência, mas é preciso ter maior visibilidade para o produto e a cadeia produtiva. Porque hoje, temos até erva sobrando. Se não conquistarmos novos mercados no Brasil, como no Nordeste, por exemplo, ou no exterior, este pequeno produtor pode abandonar a cultura da erva-mate", alerta Tomeleiro.
E quando o assunto é a conquista de novos mercados, a Baldo é a empresa que coloca Encantado no mapa das exportações gaúchas. O município é o 27º maior exportador do Rio Grande do Sul entre janeiro e junho de 2023, e teve US$ 26,4 milhões - R$ 125 milhões - comercializados em erva-mate com o exterior em seis meses.
Desde a década de 1990 a empresa formou uma sociedade com os uruguaios da Canarias, iniciando oficialmente as suas operações internacionais. Antes disso, porém, a Baldo já aperfeiçoava a técnica na sua produção, com o chamado repouso da folha, ao gosto dos consumidores uruguaios e argentinos - maiores mercados consumidores da erva-mate no mundo.
O início da produção, ainda artesanal, da Baldo aconteceu em 1920, em Vespasiano Corrêa. Foi a partir da década de 1950, quando Arlindo Baldo herdou a produção do pai, que a empresa avançou como indústria e expandiu-se na região. Primeiro, mudou sua planta para Muçum e finalmente, Encantado. A partir da década de 1970, a Baldo também passou a atuar com o processamento de soja. Hoje, a empresa tem operações no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
É na matriz, em Encantado, que 200 funcionários, todos da região, executam a moagem, mistura e empacotamento da erva-mate.
Até 70% da erva-mate exportada pelo Brasil tem origem na produção gaúcha. Para garantir o abastecimento do mercado interno do Estado, parte da erva vem principalmente do Paraná, que tem volume de produção maior do que os gaúchos
É claro que o Uruguai e a Argentina são os maiores parceiros comerciais desta produção. Mas se engana quem pensa que o potencial deste setor limita-se à América do Sul. Para que se tenha uma ideia, a gigante Coca-Cola compra o mate do Rio Grande do Sul para produzir uma espécie de chá que supera, no Japão, o consumo do tradicional refrigerante. Países como a Síria - que tem o quarto maior consumo per capita da erva-mate - e a região árabe também são grandes consumidores que, anteriormente, recebiam o produto argentino mas, nestes últimos anos, há uma lacuna possível para o produto gaúcho avançar.
"Nosso produto chega a até 40 países, mas eu acredito que ainda precisamos vender melhor a imagem e o potencial da erva-mate. Os mercados cosméticos e de gastronomia, por exemplo, representam maior valor agregado para o produtor. O brasileiro mais ao norte desconhece os benefícios da erva. É isso que precisamos divulgar para o mundo", aponta o presidente da Ibramate.
Em abril deste ano, o governo estadual repassou R$ 850 mil do Fundo de Desenvolvimento e Inovação da Cadeia Produtiva da Erva-Mate (Fundomate), mas, de acordo com Alberto Tomeleiro, o setor discute a criação de um fundo próprio, com o repasse de parte das vendas, destinado a um sistema mais eficaz de divulgação da erva-mate no País e no exterior.
Maiores produtores de erva-mate por município
1 Arvorezinha
2 Ilópolis
3 Anta Gorda
4 Putinga
5 Venâncio Aires
Indústrias ervateiras na região (associadas ao Sindimate)
fotos de erva-mate a granel no mercado público
/LUIZA PRADO/JC
8 em Arvorezinha
4 em Ilópolis
2 em Venâncio Aires
1 em Encantado
1 em Putinga
1 em Restinga Sêca
Fontes: IBGE 2021 e Sindimate
4 em Ilópolis
2 em Venâncio Aires
1 em Encantado
1 em Putinga
1 em Restinga Sêca
Fontes: IBGE 2021 e Sindimate