O presidente da Be8 (antiga BSBios), Erasmo Carlos Battistella, revelou nesta sexta-feira (04), durante visita do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin à companhia de Passo Fundo, mais uma novidade que será integrada ao investimento da planta de etanol já anunciada nesse município: a produção de glúten vital, um concentrado proteico em pó obtido a partir da farinha de cereais. A linha representa um acréscimo de cerca de R$ 300 milhões ao investimento previsto para a usina de álcool (de R$ 556 milhões).
Battistella salienta que, atualmente, todo o glúten consumido no Brasil é importado. O complexo da empresa gaúcha terá capacidade para suprir integralmente o mercado brasileiro e ainda terá uma sobra para atender a demandas de outras nações do Mercosul. A unidade terá potencial para alcançar 35 mil toneladas ao ano de glúten vital, substituindo todo o produto importado, que totalizou 25 mil toneladas em 2022.
O glúten é uma proteína extraída de cereais, tais como trigo, centeio, cevada e triticale. O produto é normalmente utilizado como aditivo na panificação. Para isso, é necessário extraí-lo da farinha e transformá-lo em um pó a partir de um processo com múltiplas etapas. As aplicações do glúten vital são inúmeras na panificação, mas a principal delas é a fortificação de farinhas “standard”, já que é geralmente necessário o uso de farinhas fortes para a produção de pães.
A integração da nova linha ao processo do etanol permite aproveitar as mesmas matérias-primas, extraindo a proteína do cereal para produzir o glúten e o amido para o biocombustível. A previsão é que produção do glúten vital possa começar juntamente com a da planta de etanol, atualmente estimada para iniciar em 2025. As obras de terraplanagem para a construção da fábrica de álcool em uma área de 80 hectares devem começar no primeiro trimestre de 2024.
A planta será flexível para a produção de etanol anidro (que pode ser adicionado na gasolina) ou hidratado (consumo direto) e terá capacidade de 220 milhões de litros do biocombustível ao ano. Hoje, o Rio Grande do Sul importa 99% de sua demanda de etanol e a nova unidade vai suprir 23% dessa necessidade. O complexo também produzirá cerca de 155 mil de toneladas de farelo por ano para a cadeia de proteína animal.
Com o empreendimento, a Be8 vai gerar em torno de 150 empregos diretos e 700 indiretos na fase de operação, com 1 mil empregos na fase de obras. Battistella argumenta que os investidores do setor de biocombustível precisam de estabilidade e segurança jurídica para continuar seus aportes. “É necessário previsibilidade para reindustrializar o País”, assinala o executivo.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, concorda sobre a necessidade de revigorar o setor industrial nacional. “O Brasil teve uma desindustrialização precoce e muito forte”, enfatiza Alckmin. Segundo ele, a indústria de transformação, que correspondia a 22% do PIB, despencou para 10%. Essa situação, frisa o vice-presidente, reflete em custos e perda de competitividade. Alckmin ressalta que até o final do ano a meta é estabelecer uma nova política industrial para o País.
Por sua vez, o governador Eduardo Leite destaca que o Estado dará prioridade para auxiliar nas condições necessária para viabilizar o empreendimento em Passo Fundo. De acordo com ele, a agenda agroambiental é estratégica para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. “É um exemplo de empreendedorismo, próprio do povo gaúcho”, aponta Leite.