Juros altos freiam avanço da construção civil em 2023

Conforme a CBIC, projeção de crescimento do setor será revisto para patamar inferior a 2% neste ano

Por Nícolas Pasinato

De março de 2021 a maio de 2023, Selic subiu de 2,75% para 13,75%
Na contramão do País, que - desde janeiro deste ano - vê as suas projeções de crescimento sendo revisadas para cima mês a mês (atualmente em 2,19%, conforme divulgação mais recente do Boletim Focus), a previsão para o crescimento da construção civil neste ano apresenta desaceleração. A estimativa para o setor em 2023 - que era de alta de 2,5% no início do ano - já se encontra a uma taxa inferior a 2%, conforme revelou a economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ieda Vasconcelos, em reunião almoço promovida na sede do Sinduscon-RS nesta segunda-feira (10).

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“Iniciamos o ano com uma expectativa de crescer 2,5%, o que atualmente já se encontra em 2%. No próximo dia 31, divulgaremos uma revisão ainda mais forte, com um índice inferior a 2%. Enquanto no Brasil, a projeção do PIB passou de 0,78% em janeiro para mais de 2% agora”, compara a economista.

A revisão de expectativa na construção civil, conforme Ieda, está ligada, principalmente, ao ciclo muito longo de aperto monetário no País. Desde março de 2021 até maio de 2023, a taxa Selic subiu de 2,75% para 13,75% ao ano, mantendo-se nesse patamar desde então. O pessimismo maior no segmento também se explica, segundo Ieda, a demora para serem divulgadas as alterações e novas condições do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida; a queda mais acentuada dos lançamentos imobiliários e a perda de fôlego da retomada do setor, observado no pós-pandemia.

“Desde o segundo semestre de 2020 até meados do ano passado, o setor de construção passou por um grave problema em todo o País que foi o forte aumento de custos. Nesse período, o gasto com material de construção subiu mais de 50%. Desde agosto do ano passado até hoje, porém, o nosso principal problema deixou de ser esse patamar elevado dos custos, que entrou num período de estabilidade, concentrando-se agora nos juros elevados”, contextualiza.

A afirmação é corroborada pela Sondagem Nacional da Indústria da Construção elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a pesquisa, no primeiro trimestre deste ano, os principais problemas enfrentados pelos empresários do segmento são taxa de juros elevados (37,4%), elevada carga tributária (23%), falta ou alto custo da matéria-prima (21,3%) e burocracia excessiva (20,1%).

Nos três primeiros meses de 2023, a construção civil foi o segundo setor com a maior queda em seu PIB na comparação com os últimos três meses de 2022. De acordo com dados do IBGE, enquanto o PIB nacional cresceu 1,9%, o setor de construção caiu 0,8%, atrás somente do segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação, que apresentou queda de 1,4%. No Estado, a desaceleração no primeiro trimestre foi de 1,7%, segundo dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado ao Piratini.

No Rio Grande do Sul, o desaquecimento do setor pode ser observado no saldo de vagas formais. Em janeiro a maio deste ano, foram 1.484 vagas criadas ante 5.629 no mesmo período do ano passado, conforme dados do Novo Caged.

A conjuntura nacional e o cenário da construção civil foi o tema do encontro do Sinduscon-RS, que contou também com a participação do presidente da entidade Claudio Teitelbaum, do presidente da CBIC, Renato Correia, do presidente do Conselho Consultivo da CBIC, José Carlos Martins e do coordenador de Relações Institucionais da CBIC, Luis Henrique Cidade.

Esperamos que seja mantida carga tributária da construção, diz presidente da CBIC

O impacto da reforma tributária, aprovada na Câmara dos Deputados na semana passada, também foi tema de debate do encontro. A proposta de emenda à Constituição (PEC), caso aprovada em definitivo no Congresso, tem como principal mudança a substituição de impostos federais e estaduais por uma cobrança única, o chamado IVA dual.

“O texto estabelece diretrizes transformando os impostos PIS, Cofins e IPI no CBS, e o ICMS e o ISS no IBS. É uma forma de tributação feita em países desenvolvidos com larga eficiência. Nesse sentido, avaliamos como correto e bem encaminhado, embora o texto precise ainda passar pelo Senado”, avalia o presidente da CBIC, Renato Correia.

“No caso da indústria e da construção, pleiteamos - e fomos atendidos - de sermos considerados um setor específico onde, em lei complementar, serão estabelecidas condições tributárias para o setor. Esperamos que seja mantida a carga tributária relativa atual para que não onere o consumidor final. O cidadão não pode pagar uma conta maior a do que ele já paga”, complementa Correia.