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Economia

Investimentos

- Publicada em 22 de Junho de 2023 às 13:11

"Investidores precisam de segurança jurídica e financeira", diz embaixador holandês sobre Porto de Rio Grande

Em evento, embaixador dos Países Baixos, André Driessen, debate troca de experiências portuárias entre RS e Holanda

Em evento, embaixador dos Países Baixos, André Driessen, debate troca de experiências portuárias entre RS e Holanda


Tânia Meinerz/ JC
O embaixador dos Países Baixos no Brasil, André Driessen, visita Porto Alegre para uma agenda de três dias. Uma das programações é o encontro de embaixadores, nesta quinta-feira (22), organizado pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul).
O embaixador dos Países Baixos no Brasil, André Driessen, visita Porto Alegre para uma agenda de três dias. Uma das programações é o encontro de embaixadores, nesta quinta-feira (22), organizado pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul).
Em entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio, ele falou sobre as iniciativas que aproximam Holanda e Rio Grande do Sul para desenvolvimento portuário, como o convênio de cooperação assinado entre o Estado e parceiros holandeses em maio deste ano para portos sustentáveis e hidrogênio verde, e o que ainda precisa ser feito para que o Brasil atraia mais investidores estrangeiros do setor ao Porto de Rio Grande e a outros portos nacionais, citando, especialmente, a necessidade de avanço no marco regulamentário. "Os investidores precisam de segurança jurídica e financeira, afinal são investimentos de longo prazo", pontuou.
Além disso, ele acrescentou que os interesses dos Países Baixos no Estado vão além dos portos e que o setor agrícola tem forte potencial para aproximações. O embaixador, que estará na APSUL 2023, em Não-Me-Toque, afirmou que os dois países podem colaborar na agricultura de precisão. "Seria uma grande vantagem para o pequeno e médio produtor", ponderou.
Leia a entrevista na íntegra abaixo.
JC - Um dos seus compromissos é o encontro com embaixadores na Federasul. O que pretende abordar?
André Driessen - Irei falar sobre as relações entre Países Baixos e Brasil, focando na área de desenvolvimento portuário, onde estamos firmando uma parceria com os portos, entre eles o Porto de Rio Grande. O embaixador do Uruguai vai falar sobre transporte e conexão com Uruguai pela via marítima interna, fluvial. São assuntos muito complementares.
JC - Como você enxerga o avanço da parceria entre RS e Holanda para desenvolver portos mais sustentáveis e hidrogênio verde?
Driessen - É um momento de grandes oportunidades. Depende também dos parceiros, do que eles querem, pois não estamos forçando nada, estamos apenas conectando dois ecossistemas, os portos na Holanda, não só de Roterdã, mas sim toda a experiência de transformação sustentável dos portos, e os daqui.  Roterdã ainda é um porto bastante fóssil, que utiliza petróleo, carvão, gás e está em processo de, em 20 ou 25 anos,  ser um porto de energia renovável, de produção de hidrogênio verde, com conexão com os parques eólicos do norte do País. Já aqui, há muito potencial para energia eólica, especialmente no Rio Grande do Sul, e energia solar. Isso vai ser importante para garantir a segurança energética do País. É possível trocar experiências sobre o que deu certo e o que não deu certo na experiência Holandesa. 
JC -  Quais experiências?
Driessen - Por exemplo, há décadas atrás, na Holanda, se precisava de muito subsidio para fazer uma concessão de energia eólica, agora esses parques são construídos sem subsidio, simplesmente com investimento privado, com licitação, com leilão, é um aprendizado. Acredito que o Brasil vai começar com esse processo, então, liderado por transição energética, imagino que o desenvolvimento sustentável para os portos também pode se estender a outros modais, como ferroviário, fluvial. No Brasil, os portos são muito importantes, pois são a saída de 80% dos produtos para o exterior, logo o desenvolvimento dos portos também é essencial.


JC - A partir da carta de intenção, assinada em maio, quais são os próximos passos para fortalecer a parceria?
Driessen - Vamos fazer conferências lá e cá. A primeira fase é focar em estudos de factibilidade para identificar pontos que precisamos elaborar mais.


JC - Tem algum ponto que você considera mais importante para atrair os investidores ao Porto de Rio Grande?

Driessen - Acho que é preciso identificar elementos da regulamentação que ainda faltam, temos que falar com os governos Estadual e Federal, porque esses investimentos são de longo prazo, e os investidores precisam de segurança jurídica, econômica e financeira por, pelo menos, 30 anos. Faltam tópicos dentro do marco regulamentário, a Holanda pode contribuir, inclusive, nesse desenvolvimento legal. Eu sei que existem muitos planos para construir parques eólicos na costa nacional, mas os leilões não acontecem porque faltam elementos na regulamentação brasileira. O privado está pronto para investir, mas o marco legal tem que estar lá.

JC - O senhor estará de volta ao Estado em setembro para a Apsul 2023. Como Holanda e RS podem trabalhar juntos no setor agrícola?

Driessen - Vemos muito potencial de cooperação na agricultura de precisão, porque em relação a grande agricultura de soja e milho e outros grandes commodities, o Brasil tem a sua própria expertise.
JC - Então a agricultura de precisão seria para os pequenos e médios produtores?
Driessen - Um pequeno produtor ainda está perdendo de 30 a 40% de sua colheita por causa da forma de colheita, armazenamento e transporte. Na Holanda desenvolvemos a fundo a cadeia agro logística, é algo em que podemos trabalhar intensamente, seria uma grande vantagem para o pequeno e médio produtor e teria um efeito socioeconômico muito forte nas áreas de horticultura, fruticultura e até flores. 

JC - Quais tecnologias de agricultura de precisão podem ser aproveitadas a partir da experiência holandesa?

Driessen - Na Holanda utilizamos fertilizantes biológicos, utilizamos terapias biológicas contra as pragas. No Brasil também temos algumas empresas que fazem isso, ajuda muito o pequeno e médio produtor, pois aumenta a produtividade e limita o uso de defensivos mais agressivos, por exemplo.