Um hotel não é só mais um hotel. E depois da pandemia de coronavírus, o movimento de ampliar a relação dos hotéis com o cliente, para além da hospedagem, tem se intensificado. Isso porque, atualmente, a infraestrutura dos hotéis são utilizadas para diversas atividades, como trabalho remoto, recepção de eventos corporativos e até mesmo para o proveito das comunidades locais. Segundo Thomas Dubaere, CEO da Accor Américas - Premium, Midscale & Economy Brands, "há bastante tempo os hotéis não são apenas lugares para dormir, mas que oferecem boas opções de gastronomia, entretenimento e espaços de trabalhos para quem não precisa se hospedar, atendendo às necessidades tanto de viajantes quanto dos moradores locais".
Empresas & Negócios (E&N) - Como a Accor vê as principais tendências no ramo hoteleiro para o ano de 2023?
Thomas Dubaere - Até 2019, antes da crise sanitária global, era mais raro um hóspede unir trabalho e lazer numa mesma viagem. No entanto, hoje uma das principais tendências, que ganham cada vez mais força, é o anywhere office, que possibilita trabalhar de qualquer lugar. De olho nesse público temos a nossa marca global WOJO, focada em espaços de coworking, que recentemente completou dois anos de operação na América do Sul e tem o serviço distribuído em 105 hotéis somente no Brasil - ao todo, está presente em 150 unidades na região sul-americana. Também passamos a distribuir os espaços WOJO na plataforma OOND, startup que oferece soluções para o modelo de trabalho híbrido. Por este marketplace, é possível reservar salas para reuniões e eventos, além de pacotes que incluem o ambiente compartilhado de trabalho e café da manhã no respectivo hotel.
E&N - Então, pelo que vimos, a experiência do consumidor está assumindo um forte protagonismo na ocupação da rede hoteleira, não é? Como você avalia essa mudança de perfil?
Dubaere - Sim. Há bastante tempo os hotéis não são apenas lugares para dormir, mas que oferecem boas opções de gastronomia, entretenimento e espaços de trabalhos para quem não precisa se hospedar, atendendo às necessidades tanto de viajantes quanto dos moradores locais. Por meio de marcas como ibis, que tem shows com artistas emergentes pelo projeto ibis Music, e Pullman que, entre seus eventos, realiza edições do Art Battle e mais encontros que misturam arte, gastronomia e música, garantimos experiências de qualidade o ano inteiro, que são mais um dos atrativos para o cliente aproveitar os hotéis de nosso portfólio.
E&N - A Accor tem investido nas franquias. Por que essa aposta?
Dubaere - As franquias estão no centro da nossa estratégia de expansão. Atualmente, 44% dos hotéis da divisão Premium, Midscale & Economy Américas são franqueados e 80% das unidades do pipeline seguem esse modelo. Para apoiar esta estratégia de desenvolvimento lançamos este ano uma nova marca, a Handwritten Collection, que tem como foco os hotéis independentes. Por meio dela, oferecemos um nível de investimento flexível e econômico, com o auxílio da poderosa plataforma de vendas, distribuição e fidelidade da Accor para aumento de receitas e otimização de custos. No entanto, já trabalhamos com outras marcas muito conhecidas para franquias. Disponibilizamos toda a família ibis, que inclui os segmentos econômico e supereconômico (ibis, ibis Styles e ibis budget); no segmento midscale Novotel e Mercure; e no segmento premium, Grand Mercure, todas com uma ótima receptividade do mercado.
E&N- Qual é o principal diferencial da Handwritten?
Dubaere - Lançada em janeiro, a Handwritten Collection está construindo um portfólio de hotéis sob medida e com uma curadoria que exibe conceitos únicos, que tem como objetivo encantar os hóspedes com uma experiência íntima e elegante. O objetivo do selo é apoiar o crescente número de proprietários de hotéis boutique e independentes que buscam otimizar a oferta global, e conectar essas propriedades com mais públicos, aumentar a receita e potencializar a identidade de cada propriedade única. A expectativa é que o portfólio atinja mais de 250 hotéis até 2030 e as negociações até o momento já superam 110 empreendimentos a nível global, o equivalente a mais de 11.500 quartos, incluindo 13 contratos já garantidos. Por enquanto temos propriedades anunciadas na Europa, Ásia e Oceania, mas esperamos anunciar mais novidades em breve.
E&N - Entre as novidades deste ano, está também o clube de assinaturas da Accor, certo? Quais as vantagens para os clientes?
Dubaere - Lançamos oficialmente neste ano o clube de assinaturas do programa de fidelidade ALL - Accor Live Limitless, o ALL Signature, primeiro clube focado em hospitalidade no Brasil. Nele, o cliente ganha pontos que não expiram e benefícios mensais, além de atingir upgrade de categoria em menos de um ano. Há três categorias: o "Discover", para acelerar o acúmulo de pontos e crescimento de status; o "Explorer", que oferece benefícios adicionais como um lounge exclusivo no hotel Pullman Guarulhos e lote antecipado para experiências exclusivas como shows em camarote, jogos com vista privilegiada, eventos gastronômicos, acesso VIP no carnaval, entre outros; e ainda o "Absolute" que, além de todos os benefícios citados, garante um status do ALL para poder presentear amigos e família.
E&N - Quando se fala em aproximação de comunidades locais, o que a rede está fazendo nessa direção?
Dubaere - Temos uma preocupação grande com as comunidades locais onde os empreendimentos estão inseridos, gerando emprego e renda, além de promover ações com foco em ESG (sigla em inglês para sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa), reduzindo o impacto das operações. Inclusive, um dos pontos mais importantes é oferecer uma alimentação saudável e sustentável e que inclui toda a valorização local e bem-estar animal. Para se aproximar das comunidades os hotéis precisam oferecer atrativos a não hóspedes - desde bons restaurantes e bares a eventos de entretenimento e espaços de trabalho acessíveis, ocupando os seus metros quadrados vazios.
E&N - Vocês falam muito em investimento no colaborador. Por que é tão importante esse alinhamento em redes tão grandes como a Accor?
Dubaere - Como uma empresa global, presente em tantas culturas, valorizamos a diversidade dos times e podemos influenciar positivamente mais empresas. Temos solidez em nossas práticas de gestão de pessoas na construção de um ambiente de trabalho engajador, e que promove o desenvolvimento dos talentos. Nossa abordagem trabalha pela diversidade e igualdade de gênero (temos 49% de mulheres nas gerências dos hotéis), integração de pessoas com deficiências, riqueza da diversidade social, étnica, racial e cultural, e inclusão LGBTI . Todo esse trabalho nos coloca como referência no mercado e já recebemos vários prêmios, como o Great Place to Work, Selo de Diversidade e Inclusão do Município de São Paulo e Prêmio ECO da Amcham.
E&N - Como vocês avaliam a presença da marca no Rio Grande do Sul?
Dubaere - O Rio Grande do Sul é um mercado forte e em constante expansão. O Estado conta com alguns dos principais destinos turísticos do Brasil, como Gramado, Canela e a capital Porto Alegre. Hoje a Accor possui 20 hotéis abertos no Rio Grande do Sul (sob as marcas ibis, ibis budget, ibis Styles, Novotel e Mercure) e 8 em pipeline. Na Serra, há dois hotéis em pipeline, um em Gramado e outro em Canela.
E&N - E os principais desafios para continuar expandindo?
Dubaere - O Brasil tem um mercado doméstico muito forte, como falamos, mas um número bem pequeno de turistas internacionais. Acredito que esse número pode subir bastante, mas é algo que depende de parcerias bem-sucedidas entre empresas e órgãos públicos - porque nenhum dos dois lados conseguirá mudar esta realidade sozinho. Outro ponto é a capacitação da mão de obra, que dá oportunidade de crescimento na carreira e formação de mais profissionais qualificados no mercado. Entendo que o privado e o público, ao unirem forças, irão elevar a qualidade e os números do setor no País.