Divulgação do estudo do governo gaúcho sobre hidrogênio verde é apenas parcial

Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura afirma que empreendedores podem solicitar informações por e-mail

Por Jefferson Klein

Combustível é gerado a partir de fontes renováveis como a eólica
O trabalho desenvolvido pela consultoria McKinsey & Company sobre o potencial da cadeia do hidrogênio verde no Rio Grande do Sul, contratado pelo governo do Estado, motivou uma solenidade com a presença do governador Eduardo Leite em fevereiro e animou na ocasião vários empreendedores do setor de energia. No entanto, em um segundo momento, houve um descontentamento quanto ao fato que os dados contidos no trabalho foram disponibilizados publicamente no site da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) somente de forma parcial.
Um agente que atua no setor e prefere ficar anônimo afirma que os empreendedores estão “um pouco frustrados de não poder ter acesso pleno aos estudos”. Ele recorda que o governo está dando prioridade a empresas que assinam memorandos de entendimento manifestando a intenção de investir nessa área. “Mas, o que adianta fazer um estudo dessa magnitude e abrir para três ou quatro empresas”, comenta.
A fonte frisa, por exemplo, que as informações contidas no levantamento e que foram tornadas públicas apontam dez localidades do Rio Grande do Sul propícias para a produção do hidrogênio verde. “Contudo, não detalha o porquê”, destaca. Uma das questões que ficou aberta na apresentação parcial do trabalho foi a indicação de Cambará do Sul/Arroio do Sal como uma região única com vocação para desenvolver projetos de produção de hidrogênio verde. A teoria da fonte que acompanha o tema é que o município da região de Campos de Cima da Serra tem potencial para a geração de energia renovável e a cidade do litoral pode, futuramente, sediar um porto marítimo para receber equipamentos relacionados a essa atividade e escoar o combustível. Outro empreendedor enfatiza que a McKinsey & Company recebeu R$ 4,9 milhões pelo serviço prestado. “E eles mantém isso em segredo?”, questiona o empresário.
Procurada pela reportagem do Jornal do Comércio, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura esclarece através de nota que o assunto sobre o hidrogênio verde “é muito específico e pode variar conforme o projeto de cada empreendimento, a Sema está recebendo os interessados. As solicitações de reuniões ou acesso aos estudos direcionados para cada caso devem ser feitas no e-mail h2v@sema.rs.gov.br”.
O sócio-fundador e CEO da RPI Energy, Ricardo Pigatto, adianta que a empresa irá encaminhar e-mail solicitando mais informações quanto à pesquisa elaborada pela McKinsey & Company. “A RPI Energy vai procurar conhecer um pouco mais do trabalho e agregar ao conhecimento que a companhia já tem sobre a situação do hidrogênio no País”, comenta Pigatto. O dirigente salienta que a empresa é sócia da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2).
Para o hidrogênio ser considerado “verde”, ele precisa ser produzido a partir de fontes renováveis, como a eólica e a solar. Ao se obter o hidrogênio puro, é possível aproveitá-lo para ações como armazenar e gerar energia por meio de células de combustível (em veículos de pequeno, médio e grande porte, como automóveis e caminhões), assim como pode servir como insumo para a produção siderúrgica, química, petroquímica, agrícola, alimentícia e de bebidas e para o aquecimento de edificações.
De acordo com o levantamento da McKinsey & Company e os dados divulgados, o impacto potencial da cadeia do hidrogênio verde no Estado pode ser, dependendo das aplicações adotadas para o combustível, de R$ 3,7 bilhões e 2 mil empregos gerados a R$ 60 bilhões no PIB do Rio Grande do Sul e 40 mil empregos acumulados até 2040. Ainda segundo o trabalho, o Estado pode atingir uma demanda interna de cerca de 600 mil toneladas ao ano de hidrogênio verde em 2040. Além disso, poderia comercializar de 500 mil a 900 mil toneladas do combustível ao ano para outras regiões e países.