Um problema que tem sido histórico no segmento químico nacional e que se intensificou nos últimos anos, o déficit da balança comercial, atingiu seu recorde em 2022. A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) informa que a diferença entre importações versus exportações foi de cerca de US$ 65 bilhões no ano passado (US$ 82,6 bilhões em importações e US$ 17,7 bilhões em exportações) e se não forem tomadas medidas que elevem a competitividade das empresas locais em relação aos agentes internacionais a tendência é de o cenário se agravar.
O presidente da Abiquim, André Passos Cordeiro, diz que é possível reduzir esse número para a casa de US$ 30 bilhões nos próximos anos, se algumas ações forem adotadas. Entre essas iniciativas, ele cita a sinalização de uma solução para o gás natural como uma fonte de matéria-prima a custo competitivo, o restabelecimento do sistema de defesa comercial no País e uma política de comércio exterior estável.
O presidente-executivo da Abiquim comenta que o ambiente de negócios no Brasil cria obstáculos para um melhor aproveitamento das oportunidades que surgem para a cadeia química. Uma das preocupações é quanto à insegurança jurídica devido a mudanças repentinas nos procedimentos de inserção de produtos internacionais no mercado interno. “Você dormia em um dia e acordava no outro com uma redução abrupta de alíquotas de impostos de importação, sem diálogo, sem aviso”, argumenta o dirigente. Outra questão, segundo ele, é que nos últimos dois anos foram toleradas entradas de itens importados com dumping, vendidos abaixo do custo de produção na sua origem. Isso, reforça o presidente da Abiquim, afeta a decisão de investimentos das empresas do setor.
Esses tópicos foram ressaltados em encontro que empresários e membros da associação tiveram com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, na semana passada. “Nós não queremos proteção, queremos condições para competir de forma equânime com os produtores de fora do nosso País”, afirma Cordeiro. Apesar das dificuldades enfrentadas, se não houver retração da economia neste ano, o setor químico nacional deverá ultrapassar pela primeira vez em sua história o patamar de R$ 1 trilhão em faturamento líquido. Em 2022, o resultado foi de R$ 969,4 bilhões, uma evolução de 24% em relação ao ano anterior, quando atingiu um desempenho de R$ 781,8 milhões. “É uma indústria que está demonstrando sua força e resiliência”, frisa o dirigente.
Para este ano, a Abiquim estima que o setor irá investir cerca de US$ 500 milhões e em torno de US$ 400 milhões em 2024. Em 2022, o aporte foi de aproximadamente US$ 800 milhões. De acordo com Cordeiro, em um ambiente de negócios adequado, o segmento químico pode voltar a alcançar um montante próximo de US$ 5 bilhões em investimentos ao ano (esse volume foi verificado em 2012). Particularmente quanto à questão da oferta de gás natural, o presidente-executivo da Abiquim alerta que não há processo de reindustrialização no Brasil sem desenvolver esse tema. Ele considera que o gás argentino pode se tornar um recurso importante para o Brasil e, especialmente, para o Rio Grande do Sul. “Assim como utilizamos o gás da Bolívia, usar o gás de Vaca Muerta (um dos maiores depósitos de gás de folhelho, também chamado gás de xisto, do mundo) auxiliará muito no processo brasileiro de reindustrialização”, aponta o dirigente.
Cordeiro salienta que o Rio Grande do Sul tem um papel fundamental na agenda química nacional. Das 984 fábricas de produtos químicos de uso industrial cadastradas no Guia da Indústria Química Brasileira, 77 delas encontram-se em território gaúcho. O único estado que possui mais companhias dessa natureza é São Paulo, com 545. O setor gera os mais diversos itens para o consumidor final como, por exemplo, produtos farmacêuticos, fertilizantes, artigos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, tintas, esmaltes e vernizes, entre outros.