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Publicada em 10 de Novembro de 2022 às 11:48

Vinícolas da Campanha Gaúcha ganham força

Vinhedos da Almadén, em Santana do Livramento, estão abertos para visitação

Vinhedos da Almadén, em Santana do Livramento, estão abertos para visitação

Bárbara Lima/ Especial/ JC
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Bárbara Lima
Bárbara Lima Repórter
O Rio Grande do Sul registrou 735 milhões de quilos de uvas na safra de 2021, segundo a União Brasileira de Viticultura (Uvibra). Uma fração considerável deste volume é transformada em bebida pelas vinícolas do Estado, que lideram a produção no Brasil. Nesse cenário, se é verdade que a serra gaúcha é a responsável pela produção da maior parte dos 488 milhões de litros de vinho da última safra, também é verdade que a região da Campanha Gaúcha tem aumentado sua atuação no setor e já contabiliza cerca de 10 milhões de garrafas de vinho por ano, de acordo com a Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha.
O Rio Grande do Sul registrou 735 milhões de quilos de uvas na safra de 2021, segundo a União Brasileira de Viticultura (Uvibra). Uma fração considerável deste volume é transformada em bebida pelas vinícolas do Estado, que lideram a produção no Brasil. Nesse cenário, se é verdade que a serra gaúcha é a responsável pela produção da maior parte dos 488 milhões de litros de vinho da última safra, também é verdade que a região da Campanha Gaúcha tem aumentado sua atuação no setor e já contabiliza cerca de 10 milhões de garrafas de vinho por ano, de acordo com a Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha.
Junto aos ganhos econômicos da venda das uvas e do produto, que chega a R$ 500 milhões por ano em garrafas, a Região da Campanha, delimitada por 14 municípios, têm visto a ascensão do turismo gastronômico e do enoturismo. Em setembro deste ano, a vinícola Almadén, por exemplo, do grupo Miolo, localizada em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, inaugurou um roteiro enoturístico e um 'free shop' de vinhos brasileiros com mais de 120 rótulos e descontos de 30%, que chamaram a atenção de influenciadores e sommeliers.
Com passeios aos vinhedos - onde os visitantes podem conhecer algumas das 25 qualidades de uvas plantadas nos 450 hectares de terra (o maior do Brasil em espaço plantado) - é possível conferir o processo de vinificação, conhecer um museu e o salão de degustação em grupo. O local, aliás, não perde em nada em relação aos destinos da Serra ou mesmo de outros países. "Estive em vinícolas portuguesas ultimamente e posso garantir que o que estamos vendo na região da Campanha é alto padrão", afirma Pedro Candelária, produtor da vinícola Campos de Cima, de Itaqui, e presidente da Associação de Vinhos da Campanha. Segundo ele, esse crescimento se reflete no número de vinícolas e vinhedos que se tornaram membros da associação nas últimas décadas - de 12, no início dos anos 2000, para 20 em 2022. "Os investidores estão vendo o potencial dessa região", comenta Candelária.
Esses investidores da região são, em sua maioria, de pequeno e médio porte e, geralmente, já têm outras atividades rurais, como plantação de arroz, soja ou criação de animais. Ao total, o plantio de uvas na região soma 1,5 mil hectares, área que triplicou em duas décadas. Na Feira Wine South America, realizada em setembro, na cidade de Bento Gonçalves, o estande de vinhos da Campanha Gaúcha contou com muitos destes produtores, como AlmaBaska, Bodega Sossego, Vinícola Campos de Cima, Dunamis Vinhos e Vinhedo e Cerros de Gaya. "Já temos um público muito consolidado em São Paulo, mesmo com uma vinícola tão jovem", pondera Marcelo Alves, representante comercial da Bodega Sossego.
A onda de vinhos do pampa se intensificou quando os produtores locais perceberem o potencial vitivinícola da região, a mais quente do sul do País, que costuma ser propícia à produção de vinhos mais encorpados e uvas das castas Tannat, Merlot e Cabernet Sauvignon. Eles começaram a buscar auxílio técnico para construir os vinhedos e ter o selo de Indicação Geográfica (IG) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O selo gera identificação dos vinhos da região e garante aos consumidores um produto de qualidade.
Para que tenham acesso ao distintivo, é preciso cumprir uma série de requisitos, como 100% das uvas plantadas na região e vinhedos cultivados em espaldeiras. A técnica de plantio, conforme Candelária, diferentemente dos vinhedos da Serra, é pensada e desempenhada desde sua concepção por engenheiros agrônomos e sommeliers e produz um vinho delicado e com baixa acidez. "O método da espaldeira traz mais qualidade para a vinha. Essa é uma das explicações para a expansão dos vinhos da campanha e do interesse brasileiro por essa região", enfatiza Candelária.
O crescimento tem gerado empregos e movimentado a economia. Somente na Almadén, a previsão de 2022 é de uma safra entre 5 milhões e 6 milhões de quilos de uva. Para dar conta desta demanda, a vinícola tem 150 funcionários fixos e contrata sazonalmente mais 150 que realizam a colheita manual da uva, de dezembro a março, a depender da varietal. 
 

Enoturismo se fortalece e gera movimento em outras atrações locais

Casa Albornoz produz azeites de oliva e recebe visitantes em Santana do Livramento

Casa Albornoz produz azeites de oliva e recebe visitantes em Santana do Livramento

/Bárbara Lima/ Especial/ JC
A região da Campanha Gaúcha é marcada pelo pampa e pelo isolamento geográfico dos grandes centros. De carro, é comum andar quilômetros acompanhado apenas de uma paisagem bucólica, com descampados e alguns animais pastando, sem que haja qualquer estabelecimento ou cidade à vista por horas. O destino segue sendo um dos mais procurados do Estado muito por conta dos free shops, lojas livres de imposto, localizados na fronteira com o Uruguai. É o turismo de compras. E esse setor se fortalece com o crescimento do enoturismo.
"No imaginário das pessoas, a Campanha é o lugar do gaúcho pilchado. Então, acho que essa região ainda tem muito a acrescentar culturalmente para o turismo local. As vinícolas trazem outros atrativos, que se somam a belezas naturais e demais particularidades da região. É um lugar muito autêntico", reflete Candelária. A opinião do produtor se sustenta nas outras atividades que têm se desenvolvido, como degustação de azeite de oliva, o que já acontece na Casa Albornoz, onde os visitantes, além de provar diversas qualidades do óleo, podem aproveitar um piquenique de frente para o Cerro Palomas, em Santana do Livramento. O local também tem produção de nogueiras em 100 hectares, mel, cerveja e cosméticos.
Para Candelária, regiões produtoras de vinho impulsionam a economia e o turismo como um todo. "Não existe pobreza, só existe valor. O vinho tem muito valor agregado, porque não é só a bebida. É o vinho, o restaurante bacana, o visual do lugar, a rede hoteleira para se hospedar, a gasolina para passear", considera. Outro evento que tem contribuído para a valorização dos vinhos locais é o Festival Binacional de Enogastronomia, que ocorre na Praça Internacional, divisa entre Santana de Livramento e Rivera. O evento, que já está na 7ª edição, reúne produtores de carne e vinhos da campanha e do Uruguai para celebrar a cultura local. Apesar da consolidação, Candelária avalia que ainda há muito para crescer. "Estamos literalmente no início. Terreno e potencial não faltam, mas tem faltado um pouco de apoio para desenvolvimento da região", lamenta. Ele se refere às estradas, que ainda precisam ser melhoradas, e ao fenômeno de Deriva, quando partículas de agrotóxicos utilizados para limpar o solo para o plantio da soja acabam se espraiando pelo vento e afetando os vinhedos. "Não somos contra a soja, mas é preciso ter cuidado com esses defensivos", salienta.
Locais como os da fronteira já possuem uma rede hoteleira consolidada, como destaca Adriano Miolo, diretor da empresa de mesmo nome, grupo do qual faz parte a Almadén e que recebeu o mais novo roteiro enoturístico da região, com um aporte de R$ 3 milhões. "Temos hotéis mais econômicos e mais sofisticados porque as pessoas já costumam vir aqui para fazer compras na fronteira", diz. Ainda na Campanha, em Candiota, o grupo tem visitação gratuita disponível na Vinícola Seival. Na visão de Miolo, visitas à vinícolas que fazem parte da Ferradura dos Vinhedos tem mais um diferencial: o acesso. "É tudo asfaltado, fácil de chegar. Você pode conhecer diversas vinícolas em um curto período de tempo e ainda consegue ressignificar a sua ida à fronteira." Agora, a expectativa dos produtores está na inauguração do Trem do Pampa, prevista para final de 2022 ou início de 2023, que recupera trechos da malha férrea, localizada entre a Vila de Palomas e o bairro Tabatinga.
 

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