A indústria moveleira nacional projeta um crescimento de 1% a 1,5% na produção de móveis e de 0,8% a 1,2 % nas vendas do varejo no período entre o último trimestre deste ano e o primeiro de 2023. A expectativa, depois de um ano com números negativos para o setor, quando a produção registra uma queda entre 10% e 12%, e o varejo, um recuo de 8% no volume de vendas, indica um cenário mais favorável aos empresários do ramo, ainda que bem aquém dos números de crescimento de 2021. Esses e outros dados sobre o mercado foram apresentados no 30º Congresso Movergs, que reuniu mais de 400 profissionais da área, em Bento Gonçalves (RS).
Segundo o economista da Unisinos, Marcos Lélis, que iniciou a conferência, as taxas negativas de crescimento da indústria moveleira para 2022 têm a ver com a régua de comparação do ano passado, quando o crescimento foi muito expressivo. “A tendência é que, para o ano que vem, o mercado se reajuste com crescimento lento”, disse. Ele explicou que, em 2020 e 2021, anos em que a pandemia de não estava controlada, a indústria moveleira passou por um “boom”, já que as pessoas estavam em casa e não gastavam com serviços, como viagens e atividades relacionadas ao lazer. “A população, ao ficar mais tempo em casa, começou a realizar reformas, o que inclui a compra de móveis. Isso puxou a alta do setor em 2021. Com a reabertura do comércio, a partir do segundo semestre do ano passado, a indústria moveleira deu uma desacelerada e, agora, passa por uma acomodação para um ritmo mais normal com projeção de crescimento no próximo ano”, refletiu.
No cenário internacional, o Brasil ocupa a 16ª posição na produção de móveis, com 1,5% de participação. Enquanto isso, países asiáticos juntos fecham quase 40% de toda a produção mundial, com destaque para a China, que produz 33,9% do total de móveis disponíveis no mercado, não importa e é líder em exportação. Na exportação, o Brasil, por sua vez, apresentou uma queda de 3,1%, passando de R$ 582 milhões, em 2021, para R$ 561 milhões em negócios internacionais em 2022. A tendência de baixa segue o ritmo da produção e venda do mercado interno, que tiveram números muito expressivos no ano passado e agora se adequam. Em 2021, o mês de outubro, por exemplo, registrou uma taxa de crescimento de exportação de 40%, já para outubro deste ano, a projeção varia entre -4,8% e -9,3%. “Após o crescimento registrado em 2021, o setor moveleiro começou a desacelerar um pouco. No entanto, conforme os especialistas em economia mostraram, a tendência é de reaquecimento no médio prazo. Por isso, nossa expectativa é de mais produção e consumo, beneficiando o setor como um todo”, considerou Rogério Francio, presidente da Movergs.
De fato, durante o evento, o economista da XP Investimentos, Rodolfo Margato também trouxe um olhar macro e abrangente sobre os fatores econômicos como economia global, inflação, política monetária, taxa de câmbio e juros, ritmo de crescimento, entre outros. Segundo projeções apresentadas por ele, o PIB brasileiro deve crescer 2,8% em 2022 e perto de 1% em 2023. A taxa Selic deve cair para 10% em 2023, contra 13,75 % deste ano. Já a inflação deve se manter estável, com projeção de IPCA a 5,2% no próximo ano. Em sua fala, Margato também considerou que a tendência é que os juros continuem subindo nos próximos meses nos Estados Unidos e na Europa, em decorrência de fatores como a guerra na Ucrânia, mas concordou com Marcos Lélis ao projetar um crescimento da economia mundial, ainda que em ritmo mais lento. " Acreditamos que ao longo de 2022 haverá uma desinflação global. As moedas estão enfraquecendo em relação ao dólar, mas vemos que o real está segurando bem. Para 2023, gradualmente devemos ter uma recuperação do varejo", comentou o economista. Para ele, a moeda brasileira se mostrou uma das mais fortes economias emergentes.
Inovação e experiência do cliente podem ajudar a impulsionar o setor
Para aproveitar o embalo do crescimento do setor e para lidar com os momentos de ritmo mais lento de produção e vendas, as empresas da indústria moveleira precisam estar atentas ao uso da inovação e à experiência do cliente. Foi sobre isso que discursaram Santiago Pons, vice-presidente de desenvolvimento de produtos da MadeiraMadeira, e Luis Justo, CEO do Rock In Rio, que também estavam no congresso.
Segundo Pons, é preciso igualar o produto produzido para o mercado interno e para exportação. “Por que o cliente brasileiro merece menos qualidade que o cliente americano?”, perguntou. Ele ainda ressaltou que o empresário brasileiro “virou tanto as costas para o consumidor nacional que, agora, o consumidor nacional vira as costas para a empresa nacional.” Assim, para melhorar os resultados da indústria nacional, ele defende que o varejo colabore para a educação dos consumidores. “Vejo muitos criticando que o consumidor brasileiro só quer saber de preço, mas não é bem assim. Ele quer saber de durabilidade, qualidade, facilidade na montagem. Acontece que em nossos filtros colocamos apenas a faixa de preço. Temos que fazer a nossa parte também”, resumiu.
Como exemplo, ele mostrou o trabalho que a MadeiraMadeira tem feito para atrair mais clientes nacionais. A empresa tem uma marca de fabricação própria, a CabeCasa, em que os móveis são projetados a partir de ideias e feedbacks dos consumidores e são testados em laboratório utilizando como parâmetro de qualidade, protocolos internacionais robustos, que não são exigidos no país. Na linha de trabalhar a relação de proximidade e encantamento dos clientes, o CEO do Rock In Rio ressaltou a importância de pensar sempre na jornada do cliente, não só no ramo do entretenimento, mas em todos. “Às vezes, a última coisa que vocês vão vender é um sofá. Vocês vão vender acessórios, experiências, valor agregado. No Rock in Rio, as pessoas pagam pela experiência completa, o show do Justin Bieber é um complemento”, exemplificou.