Independentemente de quem for escolhido o próximo presidente do Brasil, os desafios econômicos que a próxima gestão encontrará serão profundos e complexos. Um deles é a dívida pública do País, que, atualmente, gira em torno de 80% em relação ao PIB, patamar considerado elevado para países emergentes. A avaliação é do economista Constantin Jancsó, analista de economia global do banco Bradesco, que esteve presente como palestrante da reunião-almoço da Câmara Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul desta quinta-feira (29), realizada no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre.
A dívida é um indicador utilizado, por parte das agências globais de classificação de risco, para medir a capacidade de um país de pagar as suas dívidas. “O Brasil tem como lição de casa dar uma sinalização que faremos um conjunto de políticas econômicas capaz de trazer essa relação dívida e PIB para um patamar mais adequado”, projeta Jancsó.
O economista disse que o teto de gastos, que prevê que o gasto público não pode crescer mais do que a inflação do ano anterior, é uma política que trazia esse sinal ao mercado. Porém, com as recentes flexibilizações para expandir programas de transferência de renda, como a prorrogação do Auxílio Brasil de R$ 600, torna o cumprimento da medida impraticável em 2023. “O País precisa de um novo regime fiscal que permita fazermos a conta de qual será a evolução mais provável para a dívida nos próximos cinco ou dez anos”, defende o economista. A perspectiva do Bradesco é de que a dívida bruta fique em 78,7% em relação ao PIB neste ano e chegue a 83,2% no próximo ano.
Ao fazer uma análise do atual cenário econômico brasileiro, o economista da equipe do Bradesco disse que a 'foto' do momento é boa, mas o 'filme' é desafiador, já que os índices apontam para uma desaceleração da atividade econômica neste segundo semestre. Segundo ele, isso se deve a uma série de fatores, como uma diminuição na oferta de crédito, a manutenção da taxa de juros em um elevado patamar e um cenário internacional difícil, com possibilidade de recessão na Europa e nos Estados Unidos.
Jancsó apresentou uma tabela com as principais projeções econômicas do banco. A perspectiva é de que o PIB cresça 2,7% neste ano e 0,5% no ano que vem. O IPCA, principal índice brasileiro de inflação, deve fechar este ano em 6,3% e, no seguinte, em 4,9%, conforme o Bradesco. A taxa Selic, por sua vez, deve permanecer em 13,75% até o fim de 2022 e cair para 11, 75% em 2023. Já a projeção para a taxa de câmbio é de R$ 5,25 tanto neste ano quanto no próximo. A taxa de desemprego deve encerrar o ano em 9,4% e baixar para 8,3% em 2023.
Mesmo em um cenário não muito favorável para o futuro, o economista destacou o desempenho econômico do primeiro semestre deste ano, considerado por ele positivo dentro do que era esperado. "Se voltarmos o relógio um ano atrás, a discussão era sobre queda de PIB ou crescimento zero para este ano. Na medida em que o ano foi passando, houve uma série de revisões", recorda, apontando o setor de serviços como o principal responsável por essa reviravolta.
A reunião-almoço também contou com a presença do presidente de honra da Câmara Brasil-Alemanha no Estado Everson Oppermann e do cônsul geral da Alemanha para Rio Grande do Sul e Santa Catarina, Milan Andreas Simandl.