A indústria de caminhões no Brasil está ciente do movimento de descarbonização do setor em âmbito mundial e considera que o País tem condições de aproveitar várias opções de combustíveis renováveis para adotar em vez do diesel. No entanto, os clientes desse segmento não pretendem pagar muito mais caro para abastecer seus veículos com alternativas que diminuam as emissões de carbono.
Os apontamentos estão na Pesquisa Caminhões SAE Brasil 2022 – Os caminhos para uma matriz energética diversificada e sustentável apresentada nesta quarta-feira (14), durante o evento Conexão Anfavea. No levantamento foram ouvidos diversos agentes dessa cadeia, como montadoras, concessionárias, provedores de serviços/consultorias, caminhoneiros autônomos, sistemistas, frotistas, entre outros. Sobre quais seriam as fontes energéticas renováveis mais favoráveis para a realidade brasileira, o estudo aponta que houve uma divisão das respostas, sendo lideradas pelo diesel verde (produzido por matéria orgânica), energia elétrica, biometano e hidrogênio.
O trabalho também questionou os clientes de caminhões qual o percentual a mais do seu custo de abastecimento que eles estariam dispostos a pagar para diminuírem suas emissões de carbono e 58,9% informaram que não mais que 5%; 28,6% pagariam de 5% a 10% a mais; 10,7% dos entrevistados disseram que gastariam de 10% a 20% a mais e apenas 1,8% aceitaria desembolsos maiores. Além disso, 40,5% dos clientes entrevistados acredita que levará mais de dez anos para que os veículos de propulsão limpa tenham preços similares aos movidos a diesel, 29,8% de cinco a dez anos, 10,7% de três a cinco anos, 3,3% até três anos e 15,7% responderam que isso não vai acontecer.
Por outro lado, para os representantes da indústria, mais de 90% classificou como importante ou muito importante o investimento no aperfeiçoamento da eficiência energética de motores a combustão e a propulsão limpa. “É consenso que precisa mudar, que vai mudar (o modelo de negócios de caminhões)”, sustenta o conselheiro da SAE Brasil, Ricardo Bacellar. Contudo, essa alteração de panorama pode demorar um pouco ainda.
Foi perguntado ainda aos clientes da indústria sobre a perspectiva de compras de caminhões nos próximos quatro anos e 66,9% dos entrevistados informaram que pretendiam adquirir novos veículos nesse período. No entanto, entre profissionais autônomos e empresas frotistas, apenas 18,8% da primeira categoria afirmou que esse caminhão será movido a uma propulsão limpa diferente do diesel e na segunda classe o resultado foi de 21,2%.
Barcellar argumenta que, apesar desses agentes perceberem que se trata de uma mudança relevante, eles entendem que é um processo em andamento. Outro ponto frisado pelo integrante da SAE Brasil é que a pesquisa focou mais no setor rodoviário de cargas, se houvesse maior participação das companhias que realizam o transporte urbano, o resultado poderia ser diferente.
Já a Líder de Automotivo da KPMG Brasil, Flavia Spadafora, atesta que o valor de investimento aparece como o grande inibidor da mudança do caminhão convencional para uma nova tecnologia. “O custo é e continua sendo o calcanhar de Aquiles no processo de decisão”, aponta Flavia. O sócio-diretor da Autodata, Marcio Stefani, complementa que outro fator que dificulta uma transição mais acelerada é a falta de infraestrutura para o abastecimento dos veículos, principalmente para os que percorrem longas distâncias nas rodovias nacionais. Também conforme a Pesquisa Caminhões SAE Brasil 2022, a maioria dos entrevistados defendeu a necessidade de o governo brasileiro criar um programa de incentivo para quem investir em veículos com propulsão limpa.