Antigo terminal da Cesa em Rio Grande será licitado

Por Jefferson Klein

Klinger adianta que áreas na Capital também deverão ser concedidas
Esperada para acontecer no primeiro semestre do ano, a concessão do ex-terminal da Cesa em Rio Grande ainda não ocorreu. No entanto, o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, confirma que a iniciativa não foi abandonada e a licitação deve ser realizada antes do final de 2022. A Portos RS é uma empresa pública do Estado criada em maio, com o objetivo de administrar os portos de Rio Grande, Pelotas e da capital gaúcha, assim como o sistema hidroportuário do Rio Grande do Sul, que antes eram submetidos a uma autarquia. Sobre a perspectiva de movimentação de cargas para esses três complexos logísticos neste ano, Klinger adianta que o desempenho deve ficar aquém ao de 2021, quando foi alcançado o recorde de cerca de 47,6 milhões de toneladas. A explicação para isso é uma safra agrícola menor em 2022.
Jornal do Comércio (JC) - Havia a previsão que a concessão do antigo terminal da Cesa em Rio Grande fosse feita na primeira metade deste ano, mas não se confirmou. Essa ação ainda será realizada?
Cristiano Klinger - Hoje, o antigo terminal da Cesa é operado (através de um contrato transitório) pelo TLA, que é o Terminal Logístico do Arroz, mas vai acontecer neste segundo semestre a licitação via Secretaria Nacional de Portos. A proposta está tramitando nesse órgão e, com a validação deles, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e do Tribunal de Contas da União (TCU), será colocado em licitação e a projeção é para ser feita no segundo semestre.
JC - Quando foi anunciada a licitação, se falou em investimentos de R$ 55,7 milhões nesse terminal e um contrato de dez anos. Esses números foram mantidos?
Klinger - Não teve muitas mudanças e já foram feitos alguns investimentos no terminal, até para ele poder operar.
JC - Além dessa área, mais espaços de portos gaúchos devem ser licitados ainda neste ano?
Klinger - Em Porto Alegre, uma ou duas áreas no Cais Navegantes devem entrar neste ano em licitação, também através da Secretaria Nacional de Portos.
JC - O que mudou com a Porto RS tornando-se uma empresa pública e deixando de ser uma autarquia a administrar os portos de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre?
Klinger - A atividade portuária é da União, que cede ao Estado toda a operação através de um convênio de delegação. Esse convênio, que vencia em 2022, foi renovado e se colocou uma cláusula da necessidade de fazer a alteração para uma empresa pública. A lei das empresas públicas já cria uma série de regras de compliance, governança e boas práticas de gestão. Essa mudança também é para ter uma estrutura com autonomia administrativa, financeira, de gestão e operacional. A empresa não depende mais, administrativamente, da estrutura do Estado, ela foi constituída como independente.
JC - Esse formato de atuação reduz as amarras burocráticas e permite que os recursos obtidos pela empresa pública possam ser reinvestidos na operação portuária e não indo mais para o caixa único do Estado?
Klinger - Exatamente. As tarifas arrecadadas, que caiam no caixa único e depois tinha todo o trâmite para fazer a utilização, agora não vão mais para lá, caem direto no caixa da empresa.
JC - A movimentação de cargas nos portos gaúchos foi recorde no ano passado (47,6 milhões de toneladas passaram por Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, sendo 45,18 milhões de toneladas apenas pelo complexo rio-grandino). Que resultado é possível esperar para 2022?
Klinger - O ano passado foi atípico, fora da curva para todos os terminais, impulsionado por uma safra agrícola muito boa. Já 2022 certamente não chegará a esses números, porque a safra não está demonstrando o mesmo potencial de 2021. A soja, que é o nosso principal produto, teve uma diminuição muito grande na movimentação e isso já impactou no resultado do primeiro semestre. Se compararmos janeiro a junho de 2021, com o mesmo período deste ano, tivemos, em linhas gerais, uma redução de movimentação de cerca de 14% nos nossos portos (de 21,8 milhões de toneladas, para 18,7 milhões de toneladas). As cargas que tiveram redução foram a soja, o arroz e a madeira, mas principalmente a soja.
JC - Uma série de empreendedores do setor de energia, ligados a segmentos como o de hidrogênio verde e de gás natural liquefeito (GNL), está analisando a instalação de unidades no porto de Rio Grande. É possível conciliar as operações logísticas com esses interesses?
Klinger - Perfeitamente. Com a estrutura que o porto tem e com toda a sua retroárea, o complexo está na rota desses investimentos e temos espaço para atender a essa demanda. Quando a gente analisa todas essas propostas, cria-se o potencial para atração de novos investimentos. Tudo isso se consolidando na região, teremos autossuficiência energética para as próximas indústrias que queiram se instalar aqui.