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Saneamento

- Publicada em 08 de Julho de 2022 às 17:15

Suspensão da privatização da Corsan pelo TCE aumenta insegurança quanto ao negócio

Governo tinha estipulado para julho venda de ações da empresa

Governo tinha estipulado para julho venda de ações da empresa


ARQUIVO CORSAN/DIVULGAÇÃO/JC
Jefferson Klein
 A privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) pode até dividir opiniões, mas a impressão que é compartilhada entre defensores e opositores dessa iniciativa é que a determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de suspender esse processo criou um ambiente de insegurança em torno da proposta. O TCE está questionando os cálculos envolvidos e exigindo correções na modelagem econômico-financeira da desestatização.
 A privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) pode até dividir opiniões, mas a impressão que é compartilhada entre defensores e opositores dessa iniciativa é que a determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de suspender esse processo criou um ambiente de insegurança em torno da proposta. O TCE está questionando os cálculos envolvidos e exigindo correções na modelagem econômico-financeira da desestatização.
Tanto o Tribunal de Contas do Estado como o governo gaúcho (que possui 99,9% das ações da Corsan) não divulgaram muitos detalhes sobre o assunto, entretanto fontes que acompanham o tema explicam que, fundamentalmente, trata-se de discordâncias quanto aos valores abrangidos no negócio, que ainda não se tornaram públicos. De qualquer maneira, o presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, Paulo Menzel, enfatiza que a interrupção do processo de privatização, que o governo afirmou desejar concluir em julho, traz instabilidade à transação.
“O investidor tem arrepios quando acontece coisas assim”, enfatiza. Apesar do contratempo, Menzel acredita que a privatização da Corsan acontecerá, mais cedo ou mais tarde. “Agora tem que esperar que o mercado se acomode e comece o processo de novo”, argumenta. O dirigente defende que passar para a iniciativa privada a gestão da companhia seria algo positivo para o segmento do saneamento, pois o governo deve atuar mais como regulador e não como protagonista nessa área.
Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto do Estado do Rio Grande do Sul (Sindiágua/RS), Arilson Wünsch, considera que a Corsan, como estatal, é uma indutora de política social e sob o comando da iniciativa privada o lucro seria o foco principal. O dirigente detalha que a posição do TCE é uma resposta a uma petição assinada por diversas entidades, entre as quais o Sindiágua/RS, porém reforça que se trata de uma decisão baseada em liminar. Apesar disso, ele salienta que a determinação do Tribunal ressaltou que a desestatização está rodeada por uma insegurança jurídica. “A decisão do TCE pode ter selado a não privatização da Corsan, neste ano”, estima.
Wünsch afirma que a atual gestão da Corsan tem desvalorizado a companhia, possibilitando que algum grupo compre a estatal por um preço mais baixo do que valeria. Ele acrescenta que outro ponto questionado pelo sindicato é que o processo de privatização envolveria o pagamento de R$ 1,6 bilhão de dívidas e empréstimos de forma antecipada pela estatal, caso a venda se confirmasse. “O trabalho de passar informações para o TCE e a CVM (Comissão de Valores Mobiliário) vai continuar por parte da nossa entidade, vamos continuar mandando todos os documentos que acharmos de interesse para os órgãos competentes”, afirma o dirigente.
O ex-presidente da Associação Brasileira dos Concessionários Privados dos Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon) e presidente da empresa Cristalina, Yves Besse, lembra que a privatização da Corsan, inicialmente, estava prevista para ocorrer no começo do ano. “Toda a iniciativa que vai e para, vai e para, qualquer que seja, traz um pouco de desconfiança para o investidor”, argumenta o dirigente. Ele complementa que outro fator que pode interferir no processo de desestatização é a proximidade das eleições.
No entanto, Besse comenta que a privatização da Corsan foi desencadeada pelo novo marco legal do saneamento no Brasil, que determinou metas de universalização desse serviço, e o governo gaúcho deixou claro que a companhia por si só não conseguiria atender aos compromissos firmados. A desestatização da Corsan está prevista para ser feita através de uma oferta pública de ações. O governo do Estado ainda não divulgou quanto da sua participação pretende abrir mão, mas já adiantou que deve ser na ordem de cerca de 70%.
Por enquanto, a direção da Corsan não está se manifestando sobre o tema envolvendo o TCE e o assunto foi encaminhado para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE-RS). Em nota, a PGE informa que “está analisando, juntamente com as áreas técnicas das pastas envolvidas, os fundamentos da decisão do Tribunal de Contas do Estado que determina a adoção de correções na modelagem econômico-financeira para prosseguimento da desestatização da Corsan, bem como avalia eventuais medidas processuais cabíveis”.
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