Vista pelo governo federal como um dos projetos prioritários para deslanchar a partir de 2022, a
Hidrovia da Lagoa Mirim, que ligará o sul do Estado ao nordeste uruguaio, beneficiará diretamente o agronegócio, permitindo a ampliação da integração comercial binacional, principalmente através do transporte de insumos agropecuários, fertilizantes e cargas de grãos e madeira, até então escoados exclusivamente via terrestre, e mediante altos custos. Primeira hidrovia com concessão autorizada pelo governo federal, a iniciativa poderá ainda abrir portas para a implementação de um programa nacional de investimento no modal hidroviário.
Atualmente, o projeto está em fase de elaboração do estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental, a cargo da empresa DTA Engenharia, processo que deverá ser concluído entre os dois primeiros meses do ano que vem. A análise reunirá as informações que basearão o lançamento do edital da obra, previsto para sair ainda no primeiro semestre de 2022, tendo a dragagem da área como ponto de partida.
A concessão da hidrovia foi autorizada em 22 de novembro, e será a primeira pedagiada do Brasil, orçada em torno de US$ 10 milhões.
Além disso, a partir da complementação com o transporte terrestre, o projeto incentivará a multimobilidade e a sustentabilidade.
Secretário Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal, Leonardo Machado reforçou a importância do projeto. "Esse projeto vai além da ligação fronteiriça do Rio Grande do Sul com o Uruguai, é fonte de renda e desenvolvimento para o Brasil. É a primeira hidrovia do País qualificada, primeira concessão de um projeto federal de hidrovia, e quando a gente traz para o PPI a Hidrovia da Lago Mirim, colocamos nele esse selo de prioritário e estratégico para o governo", afirmou na ocasião.
Segundo ele, a partir da entrega do estudo de viabilidade da obra, no início do ano que vem, serão revisados os documentos e apurados os números e previsões de investimento. "Concluída a fase de estudos, a expectativa é abrirmos a consulta pública, um processo formal", explicou.
Para o representante do governo, a partir da qualificação do projeto no PPI, a União demonstrou a prioridade que dá à iniciativa, que pode ser pioneira para a implementação de um programa amplo de investimentos no modal hidroviário brasileiro. "O fato de o projeto ter sido qualificado demonstra sua prioridade, é um projeto piloto de hidrovia, e a gente espera, com ele, abrir as portas para um programa mais robusto de hidrovias no Brasil", enfatizou.
De acordo com Machado, a Hidrovia da Lago Mirim tem viabilidade, atratividade e potencial para ser uma "fonte geradora de riqueza e renda para todos os envolvidos, e com melhor infraestrutura para as populações, aproveitando os recursos da natureza".
Cargas como as de madeira poderão ser escoadas pelos dois países via modal hidroviário. Foto: CMPC/DIVULGAÇÃO/JC
Terminar Tacuarí é base do projeto do lado uruguaio
Carlos Foderé, empresário uruguaio responsável pela implementação do Terminal Tacuarí, ponto de partida do projeto do lado vizinho, ressaltou ainda que a hidrovia deverá "maximizar o agronegócio", impactando positivamente nas produções agrícolas e agropecuárias de Brasil e Uruguai. Além disso, pontuou que a obra resgatará o desenvolvimento de pelo menos cinco regiões uruguaias de fronteira com o Rio Grande do Sul.
"Tacuarembó, Cerro Largo, Rocha, Treinta y Tres, que hoje dormem, terão inúmeras oportunidades produtivas", afirmou.
Segundo ele, o projeto tem recebido muito empenho do governo uruguaio, e o terminal será fundamental para receber a produção de grãos e cargas gerais, e ainda minimizar os riscos de acidentes com carretas nas estradas e diminuir o trânsito na região". "Sem o projeto do Terminal Tacuarí não há possibilidade de crescimento de todas essas atividades, já que não existem rotas que suportem esse transporte. Com o projeto, se permitirá transportar o conteúdo de 150 caminhões", apontou.
Para o uruguaio, o Terminal Tacuarí será "um mecanismo integrante do território produtivo, aumentando atividades que hoje não existem ou existem em pequena escala, criando postos de trabalho justamente em zonas de menor atividade e menos desenvolvidas".
O fortalecimento do modal hidroviário e da integração entre Brasil e Uruguai será dado através do estabelecimento de um canal direto de escoamento da produção até o Porto de Rio Grande, por meio da Hidrovia da Lagoa Mirim. Para isso, será necessário aumentar o calado de rios e canais, o que depende das obras de dragagem a serem feitas dos dois lados, base do projeto em análise.
Produtos que poderão ser transportados pela hidrovia:
Do lado brasileiro
- Madeira renovável
- Insumos agropecuários
- Fertilizantes
- Açúcar
- Derivados de petróleo
- Arroz
Do lado uruguaio
- Soja
- Madeira
- Calcário
- Cevada
- Cimento
- Sorgo