O setor de eventos no Rio Grande do Sul demonstra grande preocupação com os impactos do
novo decreto do governo do Estado publicado nesta terça-feira (1) que volta a limitar a realização de shows, convenções e festas. O setor comemorava há pouco mais de um mês a retomada das atividades, interrompidas desde março deste ano. A notícia dada ainda na segunda-feira (30) de que muitos eventos planejados para o final deste ano podem não ser realizados chegou como um balde de água fria.
Veja o manifesto do setor abaixo.
Entre as mudanças nas regiões com bandeira vermelha - que toma conta de maior parte do mapa estadual atualmente, estão permitidas apenas atividades em locais abertos, com controle de acesso. Shows, espetáculos, drive-in, parques de aventura e zoológicos em ambientes ao ao livre podem ser feitos. Está vedada a realização de eventos em locais fechados, como teatros, cinemas e casas de shows.
Uma das integrantes do Grupo Live Marketing RS, Ana Leite, diz que não entende o porquê da decisão. "Estamos adotando protocolos mais rígidos do que muitos outros setores e não tivemos notícia de qualquer evento oficial com aglomeração ou desrespeito às regras de distanciamento e higiene. Não sei por que os eventos estão sendo encarados como vilões", desabafa.
Ana argumenta que outros comportamentos, como as aglomerações de pessoas em bares e em festas clandestinas, são muito mais danosas do que eventos em locais arejados, em que se respeita o limite de ocupação e há um compromisso com a segurança do público. Ela diz que a maior parte dos empresários e trabalhadores do setor estão endividados e muitos já estão desistindo de trabalhar na área. “Há inclusive casos de pessoas que tiraram a própria vida tamanho o desespero”, diz Ana.
As alegações do setor serão reunidas pelo grupo em reunião marcada para esta terça-feira (1) à tarde entre empresários. Eles pretendem elaborar um manifesto e apresentar ao governador Eduardo Leite como um apelo para que o setor possa seguir operando e para que estado e municípios cheguem a um consenso.
O setor de eventos reclama da insegurança criada pela interrupção do sistema de cogestão do modelo de distanciamento controlado entre governo do Estado e municípios. Um dos líderes do grupo, que reúne mais de 600 empresários gaúchos de todas as regiões, Rodrigo Machado, conta que assim que saiu a notícia sobre o novo decreto entrou em contato com a prefeitura de Porto Alegre e a resposta era de que as regras do município continuam valendo.
Liguei para o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Porto Alegre, Leonardo Hoff, e a resposta dele foi que nosso setor pode seguir funcionando na cidade. Tenho um alvará municipal que permite a realização de eventos no Auditório Araújo Viana, mas não me sinto seguro para isso”, diz Machado. O mesmo está acontecendo em outras regiões do Estado. “Os municípios e o governo do Estado precisam chegar a um consenso para dar segurança à sociedade como um todo - tanto a empresários quanto ao público”, pede Machado.
Leia o Manifesto do Grupo Live Marketing RS na íntegra:
Até quando vamos aguentar? Basta.
“Enquanto isso as aglomerações e a clandestinidade ocupam os espaços públicos e privados, com total insegurança. Isso pode. Na contrapartida, algumas empresas e profissionais do setor atuam quase no constrangimento e com severas restrições nestes últimas semanas, fora àquelas que não podem fazer absolutamente nada. E agora tudo fechado novamente.”
Ontem, à noite, após uma delicada reunião no Grupo Live Marketing RS, a indignação e o desespero foram as tônicas das manifestações. Estamos cansados de sermos tratados como os vilões, sendo que todos os eventos-teste e o show autorizado do Nando Reis, com tudo absolutamente controlado, considerando os protocolos de segurança, além dos poucos eventos corporativos e sociais que aconteceram neste período, não tivemos nenhum caso de contaminação. No entanto, as ruas e outros espaços permanecem fazendo o ilegal com total liberdade e sem fiscalização. E os eventos profissionais? A eles, o rigoroso olhar da lei dos decretos do governo estadual.
A revolta maior também foi expressa, pois logo após o término das campanhas, reuniões em comitês, com aglomerações em frente das instalações político-partidárias, abraços, falas, pessoas sem máscaras, em inúmeros casos expostos na mídia, inclusive – era possível e real. E os eventos? Esses não.
Porque viramos o bode expiatório das gestões públicas que, na briga de quem tem mais poder, insistem em nos tratar com total desrespeito e nos colocar no palco de vilões. Somos marionetes e exemplos para a sociedade que, por sua vez, acaba também nos condenando, por aquilo que não fizemos. Pois quando realizamos, garantimos a segurança de nossos públicos.
Somos ainda, na visão do governo, um dos responsáveis, embora já demonstrado o contrário, pela possível contaminação que venha acontecer. Logo, àqueles que têm anos de experiência, competência, responsabilidade e cuidados pontuados nos protocolos, pelo setor criados, balizando até mesmo o estabelecimento dos decretos do governo estadual. E agora? Somos jogados ao lixo. Somos desprezados e fadados a fechar as nossas portas e acabar com as vidas de milhares de trabalhadores. E a economia? Pouco importa, não é mesmo? Afinal, somos um país rico, um estado rico, um município rico e podemos ficar sem trabalhar o tempo que os governos desejarem.
Contudo, estamos novamente de mãos amarradas. Mas a nossa voz e ações não podem impedir. Vários segmentos do setor, há tempo desejam fazer ações mais consistentes e públicas, como protestos e expor a fragilidade e o desrespeito em que somos tratados nestes dez meses. Basta!
Estamos revoltados, sim. E exigimos que os governos se coloquem, de verdade, sem as falácias conjunturais, desobrigados de seus interesses eleitorais, agora já passados. E, portanto, é fácil fechar tudo.
A Justiça tem que servir a todos. E se não tiver caminhos, já que até agora o diálogo foi o nosso vetor, mesmo com pequenos avanços, buscaremos os nossos direitos jurídicos. Basta. Tenham a responsabilidade de governar para todos. E não culpabilizar àqueles que fazem, de fato, a economia crescer.
Não somos irresponsáveis e não ignoramos a triste realidade que a pandemia nos trouxe. Mas não admitimos, enquanto outros segmentos econômicos permanecem atuando, ser os únicos penalizados por tal conjuntura. Se mais eventos com cuidados fossem autorizados, como repetimos inúmeras vezes nos encontros com os líderes dos poderes executivo e legislativo, menos riscos e menor a clandestinidade seria. No entanto, ao que tudo indica, os governos querem eleger um culpado. E não seremos nós.
Por um Estado de Direito de verdade, por garantias de continuidade de nossas atividades e a manutenção de milhares de empregos do setor no Rio Grande do Sul, exigimos o nosso trabalho de volta. De fato.
Grupo Live Marketing RS, 1 de dezembro de 2020.
Bares e restaurantes enviam ofício ao governo estadual para manter flexibilizações
Ainda se recuperando do impacto da pandemia, o setor de alimentação fora do lar também está preocupado com a definição do Governo do Rio Grande do Sul de redução no horário de funcionamento de bares e restaurantes. A Associação de Bares e Restaurantes do Rio Grande do Sul (Abrasel/RS), em conjunto com o Pólo Gastronômico São Leopoldo e o SindGastrHô, enviou um ofício ao governador do Estado, Eduardo Leite, solicitando que não sejam restringidas as atividades da categoria.
O documento aponta as eleições como um potenciador do crescimento de novos casos e argumenta que regredir em relação às flexibilizações é ineficiente na contenção da doença.
Com as novas determinações que entram em vigor nesta terça-feira (1), os estabelecimentos podem operar até às 22h com atendimento no local e até às 23h nos sistemas Delivery e Pague e Leve. O Piratini aponta que as medidas seriam para redução de horário de abertura dos bares e restaurantes, mas sem limitação de dias. “Restringir o funcionamento dos negócios agora é um retrocesso absurdo”, defende a presidente da Abrasel no RS, Maria Fernanda Tartoni.
A entidade estima que as determinações podem reduzir mais da metade do faturamento de quem opera em dois turnos, além de 19% de seus associados que abrem apenas à noite. Para muitos estabelecimentos, as vendas de jantares são melhores do que as de almoços. Ao diminuir e limitar horários, as empresas são empurradas cada vez mais para o vermelho e representa um risco de falência aos empreendedores.
Maria Fernanda considera injustas as restrições focadas em uma categoria que segue todas as orientações de saúde previstas e, ainda assim, é prejudicada com as decisões. “Estamos cumprindo todos os protocolos. É fundamental ter mais fiscalização e orientar quem não está respeitando as medidas. Precisamos de órgãos que atuem ativamente neste processo ao invés de apenas fecharmos as portas”, reitera.
Ela também é contra a suspensão temporária do modelo de cogestão, sistema que dá liberdade às regiões decidirem por critérios mais leves em relação ao Estado. “É necessário manter a cogestão, pois todas as regiões têm suas particularidades e sabem onde precisam dar mais atenção para conter a pandemia”, explica Maria Fernanda.
Desde março, o setor de alimentação fora do lar vive um período de limitações severas e um quadro de incertezas sobre o futuro. Os reflexos do cenário são identificados na pesquisa da Abrasel no RS que revela que dois terços dos bares e restaurantes gaúchos fecharam o mês de setembro no vermelho. Os dados apontam que 68% das empresas tiveram um faturamento menor em relação ao mesmo período em 2019.