A possibilidade de restringir horários de funcionamento de atividades econômicas em Porto Alegre já vem sendo debatida no âmbito do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da Prefeitura, antes mesmo de o assunto passar a ser
cogitado pelo governador Eduardo Leite.
Nesta quarta-feira (25), em entrevista ao Jornal do Comércio, o secretário de Saúde da Capital, Pablo Stürmer, admitiu a ideia de limitar horários de atividades econômicas para evitar aumento de circulação e aglomeração de pessoas.
"Temos uma clara reversão da tendência de queda (dos números da pandemia) e precisamos cuidar muito a aceleração de casos. Se seguir assim será necessário restringir. Essa possibilidade já era debatida no comitê antes de o governador mencionar. A restrição é uma medida amarga e com efeitos colaterais indesejados, mas quanto mais o tempo passa, mais difícil fica a dose", comentou.
Segundo o secretário, se os indicadores piorarem em um nível que exija resposta imediata do poder público, "tudo é possível". "Teremos bastante cuidado para, se necessário, fazermos as restrições que sejam do tamanho necessário e produzam menos impacto econômico. Estamos atentos a todos os indicadores e, no momento necessário, Adotaremos medidas que busquem preservar vidas e as atividades econômicas", destacou.
Stürmer conta que a prefeitura se baseia na experiência de países da Europa, que enfrentam a segunda onda da doença e passaram a adotar a restrição de horários de atividades para controlar a disseminação do coronavírus. "Países da Europa estão 40, 60 dias à nossa frente em aceleração de casos e fizeram isso. Pode ser que comecemos a restringir horários, mas não necessariamente de todos os setores da economia", avalia o secretário.
Na semana passada, visando conter o avanço do vírus, o Comitê chegou a
suspender o processo de flexibilizações do comércio de Porto Alegre. Com isso, reteve a possibilidade de novas liberações, que vinham sendo solicitadas pelo setor, que desde agosto retoma gradualmente as atividades. Nesta quarta, temendo novos fechamentos ou restrições, entidades representativas de setores como varejo, hotelaria e ensino chegaram a emitir
manifesto pedindo à população atenção aos protocolos de prevenção e enfrentamento à Covid-19.
Nesse sentido, Stürmer reforça o alerta para a necessidade de manter os cuidados implementados desde março e evitar relaxamentos, principalmente para que novas medidas que desagradem à população tenham de ser adotadas. "A gente tem procurado se comunicar com a população da forma mais transparente possível, mas é um cenário de incerteza, não temos todas as respostas que queremos, e as que temos podem não agradar", enfatizou.
Temendo que o aumento de casos possa reverter na sobrecarga da rede hospitalar da Capital, o secretário destaca preocupação com as consequências da aceleração da pandemia no atendimento ambulatorial. Por conta disso, uma reunião nesta quarta com representantes das direções de hospitais da cidade tratou da
reorganização de leitos eletivos de UTI, que voltarão a ser destinados a pacientes com Covid-19. Segundo o secretário, o ajuste da rede municipal de saúde é fundamental para o atendimento das demandas durante a pandemia.
Num primeiro momento, serão oito leitos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre remanejados e 20 no Hospital Vila Nova. Segundo a SMS, outros 20 leitos de enfermaria também foram reativados no Hospital Conceição, e novas reestruturações poderão ocorrer caso permaneça o aumento de casos observado nos últimos dias. Stürmer, no entanto, reforça que nenhum porto-alegrense ficará sem atendimento na rede hospitalar da cidade. "A população, fazendo a sua parte, pode ficar tranquila que não terá falta de atendimento, esse é um princípio da nossa gestão. Mas não vamos deixar de tomar medidas para sermos pegos de surpresa", completou.
Nesta sexta-feira (27), o Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da Prefeitura reúne-se mais uma vez para avaliar o cenário epidemiológico da Capital.