Na esteira de adaptações que a pandemia forçou à sobrevivência dos negócios, o setor hoteleiro é um dos tantos que buscam alternativas em meio a uma crise sem precedentes. O Hotel Embaixador, um dos mais tradicionais de Porto Alegre e o quarto maior em tamanho, reabre ainda em outubro com nova proposta de hospedagem permanente e conceito de "hotel shopping". A moradia compartilhada promete fazer frente à burocracia do aluguel e dar nova utilidade aos quartos vazios.
Depois de um verão atípico, com ocupação 20% acima do habitual nos meses de janeiro e fevereiro - período de baixa na hotelaria porto-alegrense, o empreendimento viu despencar em 80% a procura logo que surgiram as primeiras notícias sobre o
coronavírus no Brasil. Outros negócios do tipo
não resistiram e acabaram fechando. "Na metade de março, reservas do ano todo começaram a ser canceladas", lembra o diretor do Hotel Embaixador, Marciano Schussler.
O baque financeiro não veio só da falta de hóspedes no prédio do Centro Histórico. Parte importante da receita foi afetada pelo fechamento do estacionamento e da academia, que eram terceirizados. Além disso, 50 dos 70 funcionários foram demitidos no auge da pandemia. O custo com os desligamentos chegou a R$ 500 mil, estima Schussler. A ideia é recontratar parte da equipe com o reinício das atividades.
Empreendimento viu ocupações despencarem já no início da pandemia. Foto Joyce Rocha/JC
O fechamento forçado por conta da Covid-19 e das restrições municipais para conter o avanço do vírus, porém, foram a oportunidade para uma grande reforma no prédio. O investimento custou R$ 1,2 milhão.
Muito mais que uma obra estrutural, a empreitada é uma readequação de mercado. Dos 182 apartamentos, com capacidade para comportar até 350 hóspedes, metade ficará reservada para a hotelaria. A outra parte dá início a outro tipo de operação, focada na hospedagem permanente, também chamada de "coliving".
Inicialmente, são 50 quartos reservados para a modalidade. Os mensalistas podem optar por duas opções de apartamento (studio ou superior) e desfrutar da infraestrutura do hotel com os custos de água, luz, IPTU, internet e limpeza já inclusos. Tudo ao preço de R$ 2 mil mensais, em valor ainda promocional de estreia. Futuramente, a estadia pode chegar a R$ 3,2 mil.
Quartos foram reformados e parte dos apartamentos será reservada para mensalistas. Foto Hotel Embaixador/Divulgação/JC
Os mensalistas também têm acesso à cozinha compartilhada, lavanderia, academia, estacionamento, espaço de lazer com churrasqueira e até biblioteca. Por toda essa infraestrutura, o diretor sintetiza que o coliving "é um hostel melhorado".
Schussler garante que a modalidade veio para revolucionar o mercado imobiliário.
O modelo tem sido aposta de outros hotéis na Capital. O grande diferencial, segundo o diretor, é a desburocratização do processo de locar uma casa ou apartamento. "É uma moradia mais independente e com serviços agregados que não são pagos como extras. Deixa de ser tão burocrático quanto uma imobiliária", diz.
A reforma ambiciosa ainda inaugura o conceito de "hotel shopping". Isso porque, além da infraestrutura de quartos e dos espaços de convívio comum já citados, o hotel possui 13 salas de eventos, 10 salas de coworking, dois restaurantes e salão de beleza. A finalidade é oferecer uma gama de serviços ao alcance do hóspede. "Se a pessoa não quiser sair para a rua em virtude da pandemia, ela não precisa", afirma Schussler.
O reposicionamento mira também outros públicos, como o universitário, que aos poucos deve estar retomando a rotina de aulas. A projeção do hotel, porém, é de que somente na metade de 2021 o setor tenha um "respiro" e recupere o patamar ideal de ocupação.